Diante dos sinais de alívio na inflação e do início da queda dos juros nos Estados Unidos, a grande dúvida no mercado é se há espaço para o Comitê de Política Monetária (Copom) começar a afrouxar a política monetária ainda neste ano, cortando a Selic dos atuais 15% ao ano - maior patamar em duas décadas.

No entanto, o expansionismo da política fiscal e o momento do mercado de trabalho exigem que a autoridade monetária seja prudente, segundo economistas que participaram na segunda-feira, 22 de setembro, de um painel sobre macroeconomia no Macro Day, evento do BTG Pactual.

Para Eduardo Loyo, sócio, membro do conselho de administração do banco e ex-diretor do Banco Central (BC), embora o País demonstre sinais de desaceleração da demanda agregada, a economia parte de um patamar de inflação e de expectativas para os próximos anos muito distantes da meta.

“Estamos olhando para frente e vendo vários anos em que a inflação deve cair muito pouco de um ano para o seguinte”, disse ele, que já foi economista-chefe do BTG Pactual. “E vemos isso com um quadro de demanda com sinais de fraqueza, mas partindo de um estado, especialmente no mercado de trabalho, que não sugere impulso desinflacionário.”

Loyo afirmou que o BC deveria esperar por sinais de que o mercado de trabalho começa a abrir mais hiato e que as expectativas de inflação estão caindo. “Mesmo que não caiam as imediatas, que caiam as posteriores, que a trajetória esperada seja de convergência. Mas não temos nenhum dos dois ingredientes ainda”, disse.

A questão fiscal também pesa sobre a evolução da Selic. Segundo Tiago Berriel, sócio e estrategista-chefe do BTG Pactual, o País se aproxima de um ano eleitoral, em que governos — federal e estaduais — tendem a ser mais expansionistas.

Além disso, discussões como a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês influenciam os cortes de juros, pelo efeito que têm na economia. “Não importa se vai ter compensação ou não, a isenção do imposto de renda é muito mais poderosa que a isenção de imposto”, afirmou.

Segundo Berriel, nas condições atuais, os cortes na Selic poderiam começar no início do próximo ano, embora destaque que esse é o grande “se” da questão.

Macroday 2025 - Macroeconomicas BTG Pactual

“Se a atividade desacelerar como o modelo prevê — o modelo do BC, que tem subestimado sistematicamente a inflação nos últimos anos — ele indica que a inflação chega perto da meta no primeiro trimestre do ano que vem”, afirma ele.

Para o sócio e estrategista-chefe do BTG Pactual, a possibilidade de os cortes começarem em dezembro é baixa, ainda que não impossível, mas dependeria de uma reancoragem das expectativas e de uma apreciação cambial “pouco usual”, mesmo com o vento de cauda vindo dos Estados Unidos.

Diante da possibilidade de a projeção indicada pelo modelo ser contaminada pelo risco fiscal — algo que o modelo não tem conseguido captar nos últimos anos — a recomendação é de cautela.

“Do ponto de vista do BC, talvez seja prudente ir tateando com cuidado e não aceitar a convergência da atividade e da inflação como o modelo sugere”, afirmou Berriel.

Se pode prejudicar a queda dos juros, a situação fiscal também pesa sobre o consumo. O economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, afirmou que o Brasil verá uma desaceleração do consumo das famílias, preço a ser pago pelo forte aumento dos gastos públicos, elevando a inflação num país em que já há muita incerteza sobre se o ajuste fiscal ocorrerá ou não.

A expectativa do BTG Pactual é que o Brasil cresça cerca de 2% neste ano, puxado pela atividade no primeiro semestre, uma vez que a economia deve se manter estável na segunda metade do ano. “No ano que vem, na nossa conta, o crescimento é de 1,5%, mesmo com alguns estímulos fiscais”, afirma.