A disparada da inflação nos Estados Unidos e o aperto monetário conduzido pelo Federal Reserve para domar a alta dos preços está motivando um feroz debate entre economistas. Um dos pontos discutidos é se a autoridade monetária agiu certo e a tempo, além da dúvida sobre se haverá uma recessão e qual o nível dela, se ocorrer.
Quem meteu sua colher recentemente nessa discussão foi Mohamed El-Erian, que ficou conhecido no mercado por sua passagem como CEO e co-chefe de investimentos na Pimco, uma das principais gestoras de renda fixa do mundo, com cerca de US$ 1,8 trilhão em ativos sob gestão.
Em artigo publicado no site Project Syndicate nesta quarta-feira, 28 de setembro, El-Erian foi duro: a demora do Fed em reconhecer o problema da inflação o fez perder a credibilidade e vai resultar numa dura recessão nos Estados Unidos.
Para ele, as sinalizações dadas pelo Fed no encontro do dia 21 de setembro – de que vai elevar as taxas de juros a patamares altos e a um forte ritmo, e de que é improvável que elas caíam antes de 2023 – mostram um banco central correndo atrás da realidade, incapaz de controlar a inflação e que vai levar a uma queda pronunciada da economia.
“Os mercados veem um banco central que deve causar mais efeitos colaterais enquanto tenta cumprir com suas metas de inflação”, diz trecho do texto. “O presidente do Fed, Jerome Powell, disse tudo este mês, quando continuou a se distanciar da possibilidade de um ‘pouso suave’ (da economia), como disse anteriormente.”
Na semana passada, o Fed anunciou o terceiro ajuste consecutivo da taxa de juros em 0,75 ponto percentual, enquanto luta para manter a inflação sob controle. Os últimos dados mostram que, nos 12 meses até agosto, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) atingiu 8,3%. Os Estados Unidos não viam inflação tão alta há pelo menos 40 anos.
Após a decisão, Powell disse que a luta contra a disparada dos preços vai “trazer alguma dor” aos americanos, ao desacelerar o mercado de trabalho e elevar os custos do crédito e de hipotecas.
El-Erian, que agora atua como consultor econômico da Allianz e é professor na Universidade da Pensilvânia, destacou que o fato de o yield dos Treasuries de dez anos terem recuado 0,40 ponto percentual abaixo daqueles dos títulos de dois anos é um sinal de que o mercado acredita que os Estados Unidos não possuem uma âncora monetária e um banco central com credibilidade.
“Como resultado, os Estados Unidos precisam de uma política monetária mais dura do que deveria se o Fed tivesse agido de forma antecipada e com credibilidade”, diz o texto.
Para o economista, agora, o Fed não pode evitar novas altas dos juros, porque arriscaria uma estagflação, tal como ocorreu no final da década de 1970 nos Estados Unidos.