A forte demanda por ativos de crédito privado tem comprimido os spreads a níveis historicamente baixos, tornando as taxas pouco atrativas e potencialmente "perigosas" — especialmente nos papéis AAA, considerados os mais seguros do mercado. Essa foi a avaliação da gestora Asset 1, com R$ 450 milhões sob gestão, em sua carta mensal.
“São empresas que têm um nível de caixa adequado, só que, nesse nível de spread, se houver qualquer ruído de mercado que provoque resgates nos fundos de crédito, são os primeiros papéis que todo mundo vai querer vender, porque são os que têm mais liquidez”, diz Daniel Palaia, CIO de crédito da Asset 1, ao NeoFeed.
O gestor destaca que os spreads dos títulos não isentos AAA estão mais baixos que em novembro do ano passado, antes da abertura da curva em dezembro por temores fiscais. Naquela época, esses títulos estavam pagando em torno de CDI+1,16%. Em agosto deste ano, o prêmio em relação ao CDI fechou em 1,06%. “Os AAA são os primeiros que sofrem, depois vêm os AA, os A e assim por diante”, complementa o gestor.
Na prática, a abertura dos spreads significa que o mercado está exigindo uma remuneração maior para carregar aquele crédito e, consequentemente, um preço mais baixo para comprá-lo.
Palaia enxerga dois potenciais gatilhos para a abertura dos spreads. Um deles é o eventual aumento do apetite ao risco, motivado pela queda da taxa Selic.
“Estamos vendo a recuperação da bolsa e um cenário mais previsível para 2026. Se os cotistas começarem a migrar para fundos de maior risco, como multimercados e de ações, os spreads poderão abrir por uma questão de fluxo”, diz o gestor.
Outro fator que poderia desencadear a desvalorização dos títulos, segundo o especialista da Asset 1, é a piora da qualidade de crédito. “Vamos começar a ver o efeito dos juros altos na piora da atividade a partir dos balanços deste semestre. Enquanto isso, os juros médios continuarão altos, impactando as despesas financeiras das empresas.”
Nesse ponto de vista, o gestor avalia que o cenário para as debêntures tradicionais pode se mostrar mais arriscado, por envolver emissores mais sensíveis ao ambiente econômico do que o mercado de incentivadas.

Por outro lado, Palaia alerta que as debêntures incentivadas costumam ter prazos de vencimento mais longos, o que amplifica o efeito da marcação a mercado e, assim, a desvalorização desses títulos em caso de abertura dos spreads.
“Como são ativos de infraestrutura, estamos falando de prazo médio entre 3 a 7 anos. Então, na hora que o spread abre, dado esse prazo médio, ele machuca bastante a cota”, afirma.
Prevendo um cenário mais desafiador à frente, Palaia tem aumentado o caixa dos dois fundos que administra. O fundo de crédito high grade, mais conservador, vem carregando 49% de caixa, enquanto o de infraestrutura, 30%.
O montante, segundo o gestor, é o dobro dos níveis médios de caixa que costuma carregar nesses dois fundos, de 25% e 15%, respectivamente. Ele também tem priorizado títulos com prazos mais curtos, menos sensíveis à abertura dos spreads.
“Meu custo de oportunidade de comprar crédito agora é muito baixo, como os spreads estão muito baixos. Então, prefiro ter caixa e esperar o momento em que os spreads irão abrir. Já vi esse filme: é um jogo de paciência”, diz ele.
Sua projeção é de que os spreads deverão abrir nos próximos 6 a 12 meses. “Houve uma entrada de recursos em fundos de crédito muito grande nos últimos cinco anos. Então, hoje, a porta é muito menor para a saída. O montante que os fundos de crédito têm que vender fica mais complexo”, complementa.