O preço do barril do petróleo encerrou a primeira semana de outubro com quedas de 8,5% (tipo WTI) e 8,3% (tipo Brent), recuperando as altas de 8,6% e 7%, respectivamente, acumuladas ao longo de setembro. O alívio com a cotação na casa dos US$ 80 parecia indicar que o óleo negro não se sustentaria perto dos US$ 100. Mas o ataque do Hamas a Israel, no sábado, 7 de outubro, pode trazer consequências para a produção e a oferta da commodity.
“As tensões entre países e blocos de países estão se intensificando. É a geo-economics, como tem sido chamada a junção da tensão geopolítica com as tensões econômicas”, afirma Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da Ryo Asset, em entrevista ao NeoFeed.
A guerra, como o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu chamou a resposta à invasão da faixa de Gaza, pode desencadear um conflito maior no Oriente Médio. O porta-voz do ministério de relações exteriores do Irã, Nasser Kanaani, disse que o ataque era uma “prova do aumento da confiança dos palestinos em relação a Israel”, destacando a vulnerabilidade dos sionistas e o poder que os jovens palestinos tinham alcançado.
“Os EUA, fiador do bloco ocidental, devem atuar de forma relevante a favor de Israel, na contraofensiva. É para se preocupar pois vários países e forças armadas estão a favor de um lado ou de outro. Pode gerar perda de controle”, afirma Leal de Barros, que alerta para o impacto no petróleo e também em commodities minerais, como cobalto e níquel.
No início de março de 2022, quando as tensões entre Rússia e Ucrânia se acentuaram, o preço do barril do petróleo chegou a ser negociado a US$ 120. Conflitos que envolvem países do Oriente, muito ligados à produção do óleo negro, geram apreensão no Ocidente pela possibilidade de corte e abastecimento da matéria-prima dos combustíveis.
“O petróleo já vinha pressionado e o crítico seria Israel responsabilizar o Irã de alguma maneira, o que escalaria muito a tensão e colocaria mais pressão”, diz Ian Caó, sócio e portfólio manager da Gama Investimentos. “Tem um arranjo sendo construído para uma relação maior entre Israel e Arábia Saudita. O problema é que esse tipo de confusão certamente aumenta muito a tensão para esses arranjos.”
Nas últimas semanas, houve uma aproximação histórica entre a Arábia Saudita e Israel para um acordo de paz. Há algumas semanas, na Assembleia Geral das Nações Unidas, Riad e Jerusalém estiveram mais próximos do que nunca de um acordo. No entanto, o governo saudita, em nota oficial, disse que “Israel era responsável por eles por causa da privação sofrida pelos palestinos”.
“Ainda é muito cedo porque temos de ver se isso pode desestabilizar a região como um todo. Israel não produz petróleo, mas tem um impacto de segunda ordem que pode ser algum problema no acordo entre Israel e Arábia Saudita”, diz Victor Cândido, economista-chefe da RPS Capital.
Em entrevista à Reuters, Brian Jacobsen, economista-chefe da Anexo Wealth Management, afirmou que o tempo de duração do conflito vai determinar o impacto no preço do petróleo, mesmo com o aumento recente da produção no Irã.
“Haverá algum prêmio de risco até que o mercado esteja convencido de que o evento não vai provocar uma reação em cadeia e que os fornecimentos de petróleo e gás do Oriente Médio não serão afetados”, disse à CNBC Vandana Hari, CEO da Vanda Insights, consultoria especializada em commodities.
Há 50 anos, em 6 de outubro de 1973, quando teve início a Guerra do Yom Kippur, o conflito entre israelenses e árabes no canal de Suez, a consequência para o mundo foi a crise do petróleo que provocou um complexo distúrbio econômico nas décadas de 1970 e 80 para os países do Ocidente.
“O Hamas conseguiu ferir profundamente o processo de paz, provocando declarações dos governos da Arábia Saudita, Qatar e Irã”, escreveu Antonio Gelis Filho, professor de geopolítica da FGV-EAESP, em artigo para o NeoFeed.
O especialista complementa: “É duvidoso que Israel se lance em alguma guerra maior, salvo no caso da entrada do Hezbollah no conflito. Também é pouco provável que os Estados Unidos ataquem o Irã. Essa situação, porém, é instável e haverá muita tensão até que um novo equilíbrio seja atingido”.
Além das atenções sobre o impacto no petróleo e seus derivados, os investidores vão iniciar a semana em busca de proteção para as suas carteiras. Nesses momentos o hedge acontece com uma corrida ao ouro e aos títulos do tesouro americano.