Maior endividamento, juros acima do crescimento e desvalorização cambial. Esses fenômenos, vividos recentemente pela economia brasileira, são explorados por Ray Dalio, sócio-fundador da Bridgewater, em seu novo livro, How Countries Go Broke (Como os países vão à falência, em tradução livre)

Com lançamento previsto para 2 setembro deste ano, nos Estados Unidos, o livro detalha nos primeiros capítulos as características que levam países à bancarrota. Dalio divulgou essa primeira parte em suas redes sociais, oferecendo um diagnóstico que aponta um cenário pouco animador para a economia global.

Fiel à sua abordagem histórica, Dalio observa que "praticamente todos os casos de níveis elevados e crescentes de dívida resultam em crises quando os montantes devidos se tornam altos demais para serem pagos". Contudo, ele destaca que sinais de alerta costumam surgir antes do colapso — alguns dos quais já visíveis no Brasil.

Um desses indicadores é a deterioração da relação dívida/receita, frequentemente associada ao PIB. Dalio explica que a dívida do governo americano atualmente equivale a 580% da receita e, caso a tendência persista, deve alcançar 730% em dez anos. Com um déficit primário de 15%, os EUA têm contraído dívida equivalente a 20% da receita anual apenas para pagar os juros da dívida.

“Quanto maior a relação dívida/receita, mais arriscada e onerosa será a dívida, o que torna mais difícil para o banco central manter as taxas de juros baixas o suficiente para satisfazer os tomadores de empréstimos, sem que fiquem altas demais para os credores”, afirma Dalio.

O Brasil já começa a desenhar um cenário semelhante. O Banco Central projeta elevar a taxa Selic para 14,25% em resposta ao agravamento das expectativas fiscais. Segundo previsões do mercado, a relação dívida/PIB deve subir para 86% até 2026, um aumento de 14 pontos percentuais em apenas quatro anos.

Economistas esperam que o BC eleve ainda mais a Selic, para 15%, mesmo com a inflação projetada para encerrar o ano em 5%, resultando em uma taxa de juros real de 10%. Enquanto isso, o crescimento econômico é estimado em apenas 2%.

“Quando as taxas de juros reais são altas em relação ao crescimento e à inflação, os encargos da dívida aumentam. Períodos de juros reais elevados frequentemente coincidem com crises de dívida, pois dificultam a renovação de débitos ou a atração de novos financiamentos”, alerta Dalio.

Outro sinal de alerta destacado é a desvalorização cambial, que reflete a perda de valor da moeda devido à falta de credibilidade associada a desequilíbrios fiscais. Nesses casos, bancos centrais podem impor controles de capital ou intervir diretamente nos mercados cambiais para tentar estabilizar a moeda.

Em dezembro, o Banco Central brasileiro vendeu US$ 21,57 bilhões para conter a alta do dólar, que havia ultrapassado R$ 6. Para Dalio, essas intervenções diretas podem ajudar no curto prazo, mas têm “eficácia limitada no longo prazo”.

Como solução, Dalio sugere uma estratégia equilibrada para evitar uma crise econômica severa: reestruturar as dívidas, estendendo os prazos, e aumentar a emissão de dinheiro e recompra de títulos pelos bancos centrais.

“Fazer isso de forma equilibrada reduz os encargos da dívida e gera um crescimento nominal maior do que as taxas de juros, o que diminui os encargos da dívida em relação às rendas”, conclui Dalio.