Nos últimos anos, a despeito da previsão dos economistas, o PIB brasileiro não para de surpreender positivamente. Apesar de os juros estarem em 14,75%, o desemprego está em níveis baixos, a inflação não está na meta, mas não está descontrolada, e a economia segue aquecida.
A questão fiscal ainda é um problema grave, que está longe de ser resolvido. E, em um mundo em que os investidores estão alocando recursos fora dos Estados Unidos, o Brasil pode voltar ao radar?
Esse foi um dos temas de um debate com três economistas no Fin4She Summit 2025, evento que reuniu executivas do mercado financeiro para falar com uma plateia feminina sobre finanças, carreira e inovação.
“Não dá para dizer que o Brasil é o ganhador no cenário global atual. Mas, sem dúvida, é um dos que têm perdido menos”, disse Ana Madeira, Chief Economist Brazil do Morgan Stanley.
“E, quando você soma juros altos, câmbio competitivo e boas perspectivas para soft commodities, o Brasil se torna uma proposta interessante de ‘carrego com fundamento’”, complementou a executiva.
De acordo com ela, dois motivos contribuem para a economia aquecida neste momento. O primeiro deles é a série de reformas estruturantes que o Brasil vem fazendo desde 2016, que começam a ter o seu impacto — como a da Previdência, trabalhista e do crédito — e também o aumento das transferências sociais.
“Antes da pandemia, o Bolsa Família correspondia a 0,4% do PIB. Agora, está em 1,6%. Isso aquece a economia e dá trabalho para o BC baixar os juros”, afirmou Ana Madeira.
Somado a isso, o “carrego” de dois dígitos sobre o real e um câmbio que, nas palavras de Ana Madeira, “escorrega todo dia para baixo” resultam em uma equação que atrai gestores globais em busca de rendimento real.
Por conta disso, os investidores estão diversificando os seus portfólios fora dos EUA. Com a China travada, a Rússia em guerra e a Índia cara, o Brasil surgiu como opção viável — e barata.
De abril a junho, os investidores estrangeiros aportaram um volume superior a R$ 20 bilhões na bolsa brasileira. E o investimento que chega é em busca de empresas de valor, geradoras de caixa, com alavancagem controlada, boa governança e política clara de dividendos.
“O investidor estrangeiro está menos disposto a pagar por promessas e muito mais interessado em consistência”, disse Marília Guimarães, diretora de relações com investidores da PetroReconcavo.
Natália Larghi, economista-chefe da SulAmérica, reforça que o ambiente atual é de oportunidade para o Brasil, mas requer vigilância. “Esse capital externo vem porque o Brasil está entregando. Mas ele vai embora na primeira sinalização de descontrole fiscal ou voluntarismo populista”, afirmou.
Ela acredita que o país pode manter sua atratividade se seguir acumulando pequenas vitórias em reformas, produtividade e estabilidade macro. “O investidor quer retorno, mas exige compromisso de longo prazo. Estamos no jogo — agora é preciso disciplina para continuar nele.”