Após um fim de ano que parecia antever o caos, com uma saída de capital substancial do Brasil e uma intervenção sem precedentes do Banco Central, os primeiros 45 dias de 2025 trouxeram uma relativa calmaria nos mercados e no País, ao menos perto da grande turbulência que se desenhava.

Entretanto, a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, expressa em pesquisas divulgadas nesse intervalo, parece precipitar uma outra data – ainda distante – no calendário: as eleições presidenciais de 2026.

Para alguns, esses dados ativaram o modo “trade de eleição” no mercado. E a influência ou não dessa agenda, a 20 meses do pleito, foi justamente um dos temas discutidos por três nomes à frente de grandes gestoras do País na terça-feira, 25 de fevereiro.

“O timing é difícil estimar. Às vezes, há um pequeno catalisador e as coisas acontecem”, disse André Jakurski, sócio-fundador da JGP, durante o CEO Conferente 2025, promovido pelo BTG Pactual.

“Nós tivemos o início de um rali, de 24 horas, quando saiu a pesquisa do Datafolha”, afirmou ele. “Mas provavelmente ainda está muito cedo para esse trade. É certo, porém, que ele vai acontecer, porque existe uma demanda reprimida, principalmente de estrangeiros para comprar ativos brasileiros.”

Na mesma linha, Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset, destacou o longo intervalo até as eleições e o fato de, a princípio, com exceção da inflação, não haver razões tão fortes para uma queda tão expressiva na aprovação do governo Lula.

Ele alertou, porém, sobre os riscos embutidos na combinação entre a popularidade decrescente do presidente e a percepção de momento do mercado de que Lula não será reeleito caso decida concorrer novamente no pleito.

“O risco é que, esse governo, vendo que o mercado vai apostar na mudança, pense que pode gastar mais e tomar mais medidas populistas”, afirmou Stuhlberger. “Vamos testar até qual limite Lula vai para ganhar sua popularidade de volta. Acho que vamos ter fortes emoções e teremos que lidar com isso.”

Nessa corrida, há quem enxergue, porém, problemas que extrapolam o ímpeto para os gastos do governo Lula, especialmente no que se refere a temas como o controle da inflação e o ajuste fiscal. Esse é o caso de Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, que aponta outro vilão nesse roteiro.

“O grande câncer do Brasil se chama Congresso Nacional”, disse Xavier. “Enquanto tivermos um Congresso derrubando veto presidencial e votando MPs, não tem jeito. Não tem Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo], Deus e ninguém que vai mudar a sanha dos políticos de gastarem mais.”

Apesar de também observar que não consegue fazer um trade de 20 meses sem saber ainda qual será o “jogo” da eleição, Xavier destacou, além de Lula, um outro personagem que, em sua avaliação, influenciará nesse roteiro.

“Tudo vai depender de como ele vai ser preso e a narrativa que vai ser construída a partir daí. Mas acredito firmemente que Bolsonaro vai ter um papel importantíssimo no rumo político”, disse. “E o Lula já larga com 30% a 35% de votos da esquerda. Se ele estiver na cédula, o segundo turno vai ser pau a pau.”