Brasília - A dez meses da eleição parlamentar que vai decidir quem será o novo presidente da Câmara dos Deputados, se intensifica a mobilização dos principais pré-candidatos à cadeira ocupada, hoje, por Artur Lira (PP-AL).
Em fevereiro de 2025, os 513 deputados escolherão quem vai comandar a Casa nos dois anos seguintes. Vence aquele que obtiver a maioria absoluta dos votos, ou seja, 257 parlamentares votando nele. Se isso não ocorrer, os dois mais votados partem para um segundo turno e ganha aquele que alcançar a maioria simples.
A mobilização corre solta nos bastidores, justamente por não haver, até o momento, um nome público que desponte como o “favorito” para vencer o pleito. Nas últimas semanas, o NeoFeed conversou com membros do governo e lideranças partidárias sobre o cenário atual e as principais movimentações de pré-candidatos que buscam uma posição mais consolidada.
Quatro deputados surgem como os mais bem posicionados para brigar pelo posto: Antonio Brito (PSD-BA), Elmar Nascimento (União-BA), Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e Marcos Pereira (Republicanos-SP). Essa lista, porém, não está fechada e há quem diga que novos entrantes podem surgir pelo caminho.
Em meio às negociações com lideranças partidárias e representantes das principais bancadas, como a do agronegócio e a evangélica, os pré-candidatos trabalham na aproximação com o governo e com Arthur Lira, já que o presidente da Casa deve ter peso decisivo no resultado.
Lira tem dado sinais trocados. No início deste ano, mandou um recado público ao governo, ao declarar que Lula não deve divergir do nome que ele indicará para sua sucessão, já que haveria a tendência de se buscar um nome de “consenso” sobre aquele que assumirá o comando da Câmara. O fato, porém, é que, até agora, não há muita evidência de que essa confluência se confirmará.
Por trás das negociações e das buscas de acordo corre um sentimento comum: Lula e Lira não estão dispostos a apostarem em um perdedor, ou seja, querem cravar o apoio em um nome que tenha todas as fichas para ser vencedor. Por isso, a tendência é que – ao menos publicamente – seus posicionamentos só se confirmem no fim deste ano ou, quiçá, início do ano que vem.
Ao olhar para as posições atuais das peças no tabuleiro, o governo sabe que o peso maior do apoio está nas mãos de Lira. Com a batuta do Centrão, o atual presidente da Casa já deu sinalizações de que tenderia a apoiar o candidato baiano Elmar Nascimento.
Lira mantém relações de amizade há anos com Elmar, com direito a viagens em família e frequentes passeios de bugue pelas praias. Em janeiro, Elmar recebeu Lira em uma festa que durou vários dias, realizada na Ilha dos Frades, no litoral baiano, um encontro que contou com a presença de políticos de todo espectro, incluindo nomes como o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) e o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União-MA).
Na hora de falar publicamente sobre seu apoio a Elmar, porém, Lira diz que ainda é cedo para cravar nomes e, nos bastidores, garante que não vai tomar sua decisão baseado em amizades. A possibilidade de o presidente da Câmara votar no deputado baiano, por óbvio, não agrada outros concorrentes, como Marcos Pereira, presidente do Republicanos, com quem Lira também mantém boa relação.
Aliados de Pereira dão conta de que, quando Lira brigava por sua reeleição à frente da Casa, em 2023, teve o apoio do chefe do Republicanos. Em troca, Lira assumiu dois compromissos com Marcos Pereira: nomear um membro de seu partido para ser ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) e apoiar o nome de Pereira para ser o seu sucessor no comando da Casa.
O primeiro ato foi cumprido. Apadrinhado pelo presidente da Câmara, Jhonatan de Jesus, então deputado federal pelo Republicanos em Roraima, assumiu o posto na corte de contas, no lugar de Ana Arraes, que se aposentou. O segundo compromisso com Marcos Pereira, porém, segue em aberto até hoje.
Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcos Pereira tem o benefício de contar com a simpatia de parte da cúpula do PT e chega a ser defendido, nos bastidores, como o nome mais indicado para formar o procurado consenso entre Lira e o governo.
Entre seus colegas, Pereira é considerado uma pessoa de perfil mais conciliador que Elmar Nascimento, parlamentar que é visto como alguém de pavio mais curto. O presidente do Republicanos lidera uma legenda que sempre foi alinhada de primeira hora de Jair Bolsonaro, mas que hoje não apenas possui um ministério do governo Lula – Silvio Costa Filho, no Ministério de Portos e Aeroportos – como vê espaço mais espaços para se aproximar do governo.
Tanto Elmar Nascimento, quanto Marcos Pereira têm feito sinalizações para atrair o apoio da bancada evangélica, mas o fato é que esta se divide entre os nomes e não há consenso, dado que Pereira é ligado à Universal e enfrenta a oposição da Assembleia de Deus na Câmara.
Dentro do Palácio do Planalto, o candidato preferido é Antonio Brito (PSD-BA). O líder do PSD está entre aqueles que mais têm votado com o governo em projetos apoiados pela base, além de nutrir proximidade com nomes de peso da Bahia que hoje ocupam lugar de destaque na cúpula de Lula, como o senador Jaques Wagner (PT), líder do governo no Senado; e o ministro da Casa Civil, Ruy Costa.
Para se ter uma ideia sobre como o jogo está embolado, Antonio Brito goza da simpatia, inclusive, de caciques políticos, como o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. Na semana passada, o presidente da legenda de Jair Bolsonaro chegou a publicar uma foto de Brito, durante uma visita do parlamentar à sua casa, em Mogi das Cruzes (SP).
A cordialidade tem uma razão objetiva: o PL é dono da maior bancada da Câmara, com 95 deputados. Não por acaso, apesar de toda a simpatia, Costa Neto disse que seu partido ainda avalia se a legenda lançará uma candidatura própria.
A proximidade com o governo também tem sido cultivada pelo líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões. Ainda no ano passado, primeiro ano do governo Lula, Bulhões chegou a declarar que seu partido deverá apoiar uma eventual campanha de reeleição do presidente petista.
Os (muitos) pré-candidatos à presidência
A pulverização de candidatos tem mexido com as ambições de nomes que, se hoje não têm tanta força entre seus pares, poderiam crescer em um eventual segundo turno. É sabido que a citação antecipada de muitos pré-candidatos, porém, acaba tendo, muitas vezes, o interesse de “queimar” essa possível candidatura, desgastando-a entre os demais.
Para o governo, no entanto, a inclusão de diversos nomes do Centrão na disputa poderia favorecer seu candidato, uma vez que divide os votos e pode dar força a um candidato da base. Como a votação é secreta, nada impede que ocorram “traições” de votos, como já se viu em outras disputas.
Com tudo certo e nada decidido, sobra espaço para mais especulações e citações de novos nomes que podem entrar no jogo. É o caso do deputado Doutor Luizinho (RJ), que é líder na Câmara pelo PP, mesmo partido de Arthur Lira. Luizinho assumiu o comando do partido quando André Fufuca (MA), que ocupava a posição, passou a ser o ministro dos Esportes no governo Lula.
O deputado Pedro Lupion (PP-PR) é mais um que tem sido incensado pelos corredores da Câmara. Presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), dona da maior bancada do Congresso, Lupion afirma que não colocou seu nome no jogo, mas que se sente lisonjeado com as citações.
A briga ferrenha pelo comando da Casa passa pelo poder que o cargo acumula. O presidente da Câmara é o segundo na linha sucessória da Presidência da República. Já o presidente do Senado, o terceiro.
À frente do parlamento, o presidente da Câmara é quem decide o que será pautado e quando, o que inclui desde projetos de interesse do governo a eventuais pedidos de impeachment de um presidente da República.