O UBS, maior banco suíço, anunciou na quarta-feira, 29 de março, a volta de Sergio Ermotti para o cargo de CEO, com a missão de liderar o processo de integração com o Credit Suisse, comprado há menos de duas semanas pelo UBS por US$ 3,25 bilhões.
Ermotti foi presidente-executivo do UBS por nove anos antes de deixar o cargo em 2020. Ele assumirá em 5 de abril, no lugar do holandês Ralphe Hamers – que havia sucedido o mesmo Ermotti há três anos, introduzindo uma cultura mais moderna no tradicional banco.
A mudança foi vista como um gesto de cautela do gigante suíço. As ações do UBS subiram cerca de 1,5% na quarta-feira, posicionando-se cerca de 5% acima do valor quando eram negociadas antes do acordo.
"Sentimos que, com Ermotti, tínhamos um cavalo melhor para apostar”, disse Colm Kelleher, presidente do Conselho de Administração do UBS, explicando a decisão do banco de substituir Hamers. Segundo ele, os riscos envolvidos daqui para frente para as duas instituições foram decisivos para a mudança.
A troca de comando do UBS é um sinal da reviravolta que a incorporação do Credit Suisse vai causar nas duas instituições – a fusão dos dois maiores bancos suíços é a maior no sistema bancário global desde a crise de 2008.
Com a aquisição, impulsionada pelos reguladores suíços para evitar a quebra do Credit Suisse – às voltas com problemas de gestão e prejuízos desde o ano passado -, o UBS dobrará sua participação de mercado, passando a controlar 30% do setor bancário do país.
Ermotti, que estava na gigante de resseguros Swiss Re, deverá repetir um papel que desempenhou na década passada, quando cortou milhares de empregos e fechou grande parte das operações do banco de investimento do UBS.
Agora, assumirá a tarefa de fazer o mesmo no Credit Suisse, cuja área de banco de investimento concentrou a maioria dos problemas que levaram à sua queda.
Outra prioridade de Ermotti será integrar as áreas de negócios dos dois bancos que se sobrepõem, incluindo gestão de patrimônio, gestão de ativos e bancos de varejo suíços. O grupo combinado tem cerca de 125 mil funcionários em todo o mundo. O corte estimado é de pelo menos 12 mil postos.
Os dois bancos suíços administram a riqueza de bilionários e da realeza de vários países do mundo famílias. O portfólio inclui bancos de investimento de Wall Street, além de empréstimos no mercado suíço.
Analistas e investidores vêm repetindo que a combinação dos dois bancos pode ser poderosa em termos de geração de receita, mas levará anos para ser concretizada.
“O UBS precisa avaliar de forma cuidadosa e sistemática todas as opções”, disse Ermotti.
Mudança de rota
Antes da aquisição do Credit Suisse, a estratégia do UBS era manter e atrair os ricos do mundo e fazer mais negócios bancários nos Estados Unidos –o que vinha sendo conduzido pelo então CEO Hamers, mais informal que o antecessor, com amplo apoio dos acionistas.
Por essa razão, a troca de comando foi recebida com surpresa. Desde que sucedeu a Ermotti, o holandês Hamers conduziu uma mudança na cultura do sisudo banco suíço, introduzindo o trabalho ágil e propostas mais arrojadas para o banco atualizar a forma como interagia com os clientes digitalmente.
O fato de Hamers afirmar estar disposto a assumir o desafio de integrar o Credit Suisse, porém, não sensibilizou o Conselho de Administração do UBS.
Kelleher, presidente do Conselho, admitiu que a opção pela troca do CEO foi feita pela mesma razão que os investidores ainda estão cautelosos com o acordo com o Credit Suisse: o cenário incerto após a incorporação do banco rival.
“Os riscos de integração são tão grandes que qualquer risco de gerenciamento precisa ser minimizado a todo custo”, disse ele.
Kelleher citou ainda o fato de Ermotti ser suíço para justificar sua nomeação, uma vez que a aquisição do Credit Suisse é controversa na Suíça por causa da escala da instituição que criará: “Espero que o que estamos fazendo seja a coisa certa.”