1 - Cuidado com falsários. Infelizmente, eles existem no mundo das artes. Há algumas maneiras de garantir a autenticidade da obra — uma delas é verificar se o trabalho consta em algum livro ou no catálogo raisonné do artista. Entretanto, há exceções e, seja por descuido, seja por desconhecimento, acontece de obras legítimas não estarem ainda catalogadas.
Nomes do primeiro escalão da arte brasileira, Candido Portinari (1903-1962), Tarsila do Amaral (1886-1973), Alfredo Volpi (1896-1988) e Tunga (1952-2016) são alguns exemplos cujas obras completas estão organizadas em projetos, facilitando a checagem.
É importante analisar toda a documentação que confirme a procedência da obra, como o certificado de autenticidade emitido pela galeria e os recibos. Também é um bom indicativo o trabalho ter pertencido a algum colecionador com bom histórico.
2 - Obra também tem currículo. E ele conta muito. Se o trabalho participou de alguma exposição importante dentro ou fora do Brasil, isso costuma valorizá-lo.
Na hora de comprar um quadro, verifique a parte de trás do mesmo; geralmente, ali há selos das mostras onde ele foi exibido. Em minha coleção pessoal, tenho “Unidade I”, de Lygia Clark (1920-1988). O verso está repleto de etiquetas: a pintura foi exposta no Tate Modern, de Londres; no MoMA, de Nova York; na Fundació Antoni Tàpies, de Barcelona, entre outros locais.
3 - Conservação. Fique atento ao estado da obra. Dependendo da tinta, da técnica, da maneira como ela foi conservada ou mesmo de algum restauro malfeito no passado, o trabalho pode ter algum dano irreparável. Antes de comprar, consulte um especialista.
4 - Tamanho e estilo. Geralmente, obras grandes valem mais — há exceções, diminutas mas verdadeiras joias. Se você pensa em comprar uma obra de arte como investimento, um quadro ou uma escultura muito grandes podem ser difíceis de revender.
Pinturas a óleo são consideradas as de maior durabilidade e resistência ao tempo. Trata-se da técnica mais famosa e mais desejada. O que não significa que uma gravura também não tenha seu valor — esta foi a especialidade de artistas como Oswaldo Goeldi (1895-1961) e Gilvan Samico (1928-2013).
Aliás, é essencial descobrir o que o artista em questão faz ou fez de melhor: nem sempre um exímio pintor é também bom escultor, por exemplo.
Além disso, é importante identificar qual seu gosto, é claro. Pintura? Escultura? Fotografia? Desenho? Videoarte? Performance? A artista Élle de Bernardini, de gênero não definido, vende uma performance em que ela “se veste” com mel e folhas de ouro para dançar com o colecionador.
E qual sua técnica predileta? Arte abstrata? Figurativa? Geométrica? Cinética? Alguns preferem arte política, outros vão de conceitual, e há os que buscam a experimental. Pesquise e conheça-se bem antes de sair por aí comprando.
5 - Fases. Artistas são humanos e, portanto, também estão suscetíveis a oscilações de qualidade no decorrer da vida. Anita Malfatti (1889-1964) tinha uma produção muito mais vigorosa e original antes de receber as pesadas críticas do escritor Monteiro Lobato (1882-1948). Assim, as obras expressionistas de sua primeira fase — como “A Boba”, “O Homem Amarelo” e “O Farol” — são mais marcantes e, consequentemente, mais caras.
Por falar em fases, cuidado com artistas emergentes: a história mostra que são poucos os jovens que conseguem superar adversidades e realmente se consolidar — a grande maioria desiste e muda de profissão.
Recentemente, fui procurado aqui na Suíça por um sujeito que tinha uma “oportunidade”: um Caravaggio (1571-1610) por € 5 milhões. Fiquei desconfiado
6 - O mercado. Não compre de qualquer um. Veja quais são as galerias que representam os artistas que deseja e trabalhe com profissionais de boa reputação e credibilidade.
Cuidado com barganhas: uma obra barata pode ter problemas, seja de legitimidade, seja porque é de um período ruim do artista. Recentemente, fui procurado aqui na Suíça por um sujeito que tinha uma “oportunidade”: um Caravaggio (1571-1610) por € 5 milhões. Fiquei desconfiado, porque é um valor ridiculamente inferior ao praticado na venda de obras desse quilate.
Pesquisei, averiguei, consultei especialistas — tudo indica que a tela em questão era falsa e que eu estava prestes a cair em uma trapaça.
Por fim, uma dica importante: certifique-se de que a obra esteja livre de pendências judiciais com herdeiros, o que é bastante comum.
7 - Na hora de comprar. Primeiro, treine seu olhar. Visite ateliês de artistas, frequente museus, vá a bienais, feiras e galerias. Tenha sua própria biblioteca de artes visuais, com livros dos artistas de sua predileção.
Se não conhece bem o setor, não compre em leilão. Nem sempre eles são uma oportunidade: o mercado pode estar aquecido e, com a especulação, os preços sobem de forma estrondosa.
Certa vez, em São Paulo, me ofereceram um Frans Krajcberg (1921-2017) por R$ 600 mil. Pedi para uma pessoa desconhecida do mercado sondar o preço, e a ela informaram R$ 400 mil
Quando estiver prestes a fechar uma compra, negocie. Na maioria das vezes, há margem para desconto e parcelamento. Certa vez, em São Paulo, me ofereceram um Frans Krajcberg (1921-2017) por R$ 600 mil. Pedi para uma pessoa desconhecida do mercado sondar o preço, e a ela informaram R$ 400 mil.
8 - Invista com sabedoria. Não coloque todos os ovos na mesma cesta. Monte um acervo diversificado, se possível contemplando diferentes artistas, períodos, técnicas e estilos.
Importante: se você precisa de dinheiro, não compre. Arte de qualidade só se valoriza com o tempo.
9 - Burocracias necessárias. Faça o seguro de sua coleção. Há pelo menos uma dezena de companhias especializadas em obras de arte no Brasil.
Não se esqueça de declarar a obra em seu imposto de renda — e, claro, recolha os 15% de ganho de capital se obtiver lucro em alguma venda.
10 - Aprecie. Comprou a obra? Curta-a! Arte precisa ser prazerosa e estimulante. E, sempre que possível, algo que amplie sua visão de mundo.
*Marcos Amaro é artista plástico, colecionador e empresário. Ele também é presidente do FAMA Museu e Campo e membro dos conselhos do MAM e do MASP.