Anunciada há um ano por Fernando Haddad em pronunciamento na TV e para arrepio do mercado financeiro focado nas contas públicas, a principal “bandeira” do presidente Lula para impulsionar sua popularidade rumo às eleições gerais de 2026 foi desfraldada na marca do pênalti, na quarta-feira, 26 de novembro.

Em cerimônia superlativa pela audiência lotada de sindicalistas e políticos no Palácio do Planalto – apesar da ausência deliberada dos presidentes da Câmara Hugo Motta e do Senado Davi Alcolumbre – Lula sancionou a reforma o Imposto de Renda ao zerar o tributo para quem ganha até R$ 5 mil mensais; isentar parcialmente quem recebe entre R$ 5.000,01 e R$ 7.350; adotar alíquota mínima para quem ganha a partir de R$ 600 mil por ano; e uma alíquota progressiva para rendimentos acima de R$ 1,2 milhão ao ano.

A quatro semanas do Natal, a “bandeira” de Lula, que busca o quarto mandato, tem uma mensagem inequívoca: colocar mais dinheiro em circulação por injeção de recursos na veia ou por alívio no orçamento das famílias, graças à redução de contas de itens básicos que embalam e infernizam a vida da população – luz, gás, moradia e crédito.

Com viés essencialmente técnico pela política monetária restritiva adotada há mais de um ano e que prioriza a convergência da inflação à meta, o Banco Central também deverá colaborar para o cenário de 2026 que promete ser mais animador para consumidores com preços em possível desaceleração e corte de juro. Ainda que a conta-gotas, a tendência terá poderoso efeito sobre as expectativas e para já. Cresce a aposta na queda da Selic em janeiro.

Destacam-se entre programas e medidas lançadas meses a fio visando ao bem-estar sobretudo dos brasileiros mais vulneráveis, o Luz para Todos, Gás do Povo, novas regras para o Minha Casa Minha Vida (MCMV), crédito para reforma de imóveis, liberação de recolhimento compulsório sobre poupança para financiamentos imobiliários liderados pela Caixa e o Crédito do Trabalhador – ou consignado privado que, calcula o Itaú, a partir de dados do Ministério do Trabalho e Emprego, cresce de R$ 250 milhões a R$ 300 milhões por dia útil.

A ser talvez reforçado pela complexa e polêmica gratuidade do transporte público, redução da jornada de trabalho 6x1 e gastos de governos estaduais e municipais recorrentes em anos de eleição, esse conjunto de iniciativas já entra no cálculo de projeções para o crescimento do País em 2026.

As estimativas de grandes bancos para a entrada de recursos na economia oscilam entre R$ 160 bilhões e R$ 180 bilhões. Dinheiro que tende a suavizar a queda do Produto Interno Bruto (PIB), cuja expansão é projetada entre 1,5% e 1,8%.

Desaceleração “contratada”

Esse avanço ocorrerá sobre 2025, quando o PIB deve crescer entre 1,8% e 2,2%, calculam bancos e consultorias que poderão atualizar os parâmetros, a partir resultado do PIB do terceiro trimestre, a ser anunciado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quinta-feira, 4 de dezembro. Para esse indicador, os prognósticos variam de 0,1% a 0,3% na comparação com o período anterior.

É desempenho passado a ser contabilizado nas estatísticas de Contas Nacionais que, historicamente, sofrem ajustes pelo IBGE quando da divulgação de dados do terceiro trimestre. E a confirmar a “escadinha” trimestral declinante observada com frequência no Brasil que, neste ano, cresceu 1,3% de janeiro a março e 0,4% entre abril e junho. As expectativas apontam mais desaceleração à frente e que poderá, inclusive, levar o saldo do último quarto a quase zero. Sem espanto.

Os dois indicadores vistos como antecedentes sobre a evolução do PIB – Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) e Monitor do PIB do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre FGV) – já foram divulgados e prepararam o terreno. O IBC-Br retraiu 0,9% no terceiro trimestre; o Monitor do PIB subiu 0,1%. Ambos refletiram desaceleração disseminada entre setores.

Informações mais atualizadas sobre atividade, relativas a novembro, serão divulgadas pela S&P Global responsável pelo monitoramento de Índices de Gerentes de Compra (PMI, na sigla em inglês) de uma coleção de economias no mundo e também do Brasil. Na segunda-feira, 1º de dezembro, a consultoria internacional publicará o PMI Industrial e, na quarta-feira, 3, o PMI Serviços e o PMI Composto.

Os indicadores poderão até contabilizar avanços em novembro, mas é improvável que alcancem a neutralidade representada por 50 pontos. Variações acima dessa marca denotam crescimento e, abaixo, contração da atividade. Em outubro, os dados ficaram aquém de 50 pontos, reprisando tendência baixista observada durante meses e que o governo tentará reverter – possivelmente com sucesso e mais inflação.

Em outubro, o PMI Industrial cravou 48,2 pontos; o PMI Serviços, 47,7 pontos, numa sequência de sete meses abaixo de 50 pontos por demanda fraca e pressão de custos; e o PMI Composto, que reúne informações da indústria e de serviços, também cravou 48,2 pontos, confirmando, contudo, um mercado de trabalho inalterado porque a perda de postos na indústria foi compensada por contratações em serviços.

A S&P Global observa que o tarifaço de Trump, provocou notável contração de pedidos internacionais e comprometeu a atividade e as expectativas ao longo do ano. A ver, se a queda da tarifa de 40% sobre importações de duas centenas de produtos brasileiros pelos EUA, anunciada pelo presidente norte-americano, trará resultados alvissareiros para além de favorecer expectativas para os próximos meses.

Quanto às perspectivas para um arrefecimento de custos, a percepção é de que o corte da Selic pelo BC – mais cedo do que mais tarde – terá efeito concreto imediato “zero”. Mas será um inegável e animador ponto de partida para futuros contratos financeiros e corporativos. Também, a ver.