O IPCA supera 5% há oito meses e aí deverá permanecer até novembro. Em dezembro, essa marca com base em 12 meses será rompida, segundo a MacroSector Consultores que prevê 4,8% por alta do dólar médio e incerteza fiscal. O IPCA 15 de outubro, divulgado na sexta-feira, 24, caiu de 5,32% para 4,94%. Embora recuando, o índice estará distante da meta de 3% e ainda justifica a mão pesada do Banco Central no juro e a inflação seguir como a maior preocupação dos brasileiros sem comprometer, porém, a percepção de que a vida vai melhorar.

Uma queda mais acelerada da inflação, a não ser descartada em reação ao aperto monetário deflagrado há mais de um ano, poderá ser um trunfo se bem “capitalizada” pelo governo, dada a potencial repercussão junto à população também atenta ao juro, endividamento e aumento de impostos, mas otimista quanto aos salários – possivelmente sob influência da perspectiva de ajuste do mínimo no início de 2026.

Esse é o cenário apontado pelo Radar Febraban, pesquisa trimestral da Federação Brasileira de Bancos em parceria com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) sobre perspectivas da sociedade e seu impacto econômico.

Atualizada no fim de setembro com 2 mil pessoas em todo o País e divulgada em outubro, a sondagem mostra variação positiva do humor do brasileiro neste segundo semestre de indicadores de atividade mais fracos e mercado de trabalho em fase de moderação, mas ainda forte e salários também.

A pesquisa Radar Febraban mostra que subiu a 72% os brasileiros satisfeitos ou muito satisfeitos com a vida que levam, reprisando patamar de março e superando a piora de junho – mês em que o tarifaço de Trump contra o mundo e o Brasil dominava o noticiário. Parcela de 65% crê que sua vida e de sua família também continuará melhorando no restante do ano.

“Um misto de cautela e otimismo perpassa as avaliações sobre o País e a economia”, observa o cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Ipespe, no documento que revela sinais em geral positivos. A percepção é mais favorável quanto maior a formação e a renda.

Fatia de 82% com nível superior e 74% com ensino médio avaliam positivamente o cenário e 64% com ensino fundamental acusaram melhora. Quanto à renda, 84% com renda acima de 5 salários mínimos são mais positivos, seguidos por 72% com renda entre 2 e 5 mínimos e 64% até 2 mínimos.

O humor melhora, mas a preocupação com a inflação persiste. Em setembro, 81% da população avaliou que os preços “aumentaram muito ou aumentaram” em seis meses. Margem expressiva, mas menor que 89% de junho – a maior da série.

Por ordem de relevância quanto ao peso no bolso, mas em decréscimo, 69% dos entrevistados em setembro apontaram alimentos; 28% preço de combustíveis; 27% gastos com saúde e medicamentos; 22% indicaram juros com cartões de crédito, financiamentos e empréstimos; 8% citaram despesas com escolas, faculdades e serviços de educação, além da compra de veículos e imóveis.

A percepção positiva para o País até o fim do ano, ante 2024, teve leve avanço, de 33% para 34% e sustou a queda constante desde dezembro passado. As mulheres são mais confiantes que os homens. E a percepção mais favorável por faixa etária é homogênea – 40% entre jovens de 18 a 24 anos até 43% entre os 60+.

As expectativas quanto aos indicadores econômicos para os próximos meses sinalizam discreta melhoria quanto ao ambiente econômico, diz o Radar Febraban.

Inflação – percepção de alta recuou de 71% para 69% de junho a setembro; de estabilidade passou de 16% para 18% e a de queda manteve-se em 11%.

Taxa de juros – chance de alta recuou de 68% para 65%; de estabilidade passou de 16% para 20%; e a perspectiva de redução dos juros permaneceu em 12%.

Impostos – a expectativa de elevação chegou a 71%, maior nível da série histórica; a visão de estabilidade oscilou de 20% para 21%; e a de queda manteve-se em 12%.

Endividamento – vai crescer para 70% dos pesquisados, ante 71% em junho; a chance de estabilidade cedeu de 18% a 17%; para 10% o endividamento irá declinar.

Desemprego – haverá aumento para 42%, ante 41% em junho; estabilização passou a 31%, ante 34% na pesquisa anterior; e recuo para 24%, ante 22%.

Salários – quesito com maior variação e avanço no otimismo, a expectativa de alta saltou de 23% para 34%; para 48% os salários ficarão estáveis, ante 58% na leitura anterior; e deverão recuar, segundo 16% dos consultados, contra 18% em junho.

Entre as prioridades da população – e alerta para políticas públicas – estão saúde, emprego e renda, inflação, educação, segurança, corrupção, fome e pobreza, impostos, meio ambiente, oferta de energia, estradas, saneamento e crédito.