No Japão, nem tudo é o que parece. Ou é um pouco mais do que aparenta. Basta ver, por exemplo, um piano Yamaha modelo Transacoustic com sua aparência bem clássica. Quem seria capaz de perceber algo diferente, até mesmo se sentasse para tocar algo?
Mas se olhar no canto esquerdo, embaixo da base, porém, notará uma barra de apenas 2 cm de altura e 15 cm de comprimento onde ficam os comandos que transformam a parte de trás em um poderoso amplificador sonoro de longo alcance. Isso transforma o instrumento, especialidade da companhia desde o século 19, em uma poderosa caixa de som. No país do sol nascente, a tradição se alia à alta tecnologia nesse em outros casos.
O piano e mais sete objetos fazem parte da exposição Design Museum Japan: investigando o design japonês, que está em cartaz na Japan House São Paulo, que vai até 11 de junho. Em seguida, vai para Los Angeles e Londres.
Com a investigação de oito criadores, que visitaram regiões do país em busca de produtos com design icônicos, o conceito da mostra é destacar como a tradição se alia à alta tecnologia no cotidiano e nas indústrias em um país cuja memória gráfica e visual – além de cultural – remonta a mais de dez mil anos, desde que os humanos começaram a viver em sociedade. Os japoneses têm um orgulho imenso de preservar isso.
Outro exemplo de tradição aliada à fabricação de produtos de ponta é o uniforme dos jogadores japoneses de rugby, inspirado no festival de lanternas gigantes “Andon”, de Toyama.
A artista Reiko Sudo viajou à província de Toyama e se interessou pela tecnologia por trás dos uniformes 3D confeccionados para a Copa de Rugby de 2019, realizada no país, que teria garantido a vitória da equipe na competição.
Ela estudou como o design destas roupas foi inspirado nas formas das lanternas tão tradicionais da cultura de seu país. Para potencializar o desempenho dos atletas, o tecido foi construído de forma tridimensional permitindo com que os uniformes sigam o contorno dos corpos dos atletas.
Organizada pela NHK, emissora pública do Japão, juntamente com a NHK Promotions e NHK Educational, empresas do mesmo grupo, a exposição faz parte do projeto de itinerância global da Japan House.
Para compor esse inventário, foram convidados oito criadores japoneses de renome internacional de diferentes áreas de atuação para que identificassem por meio de pesquisa experiências e histórias coletadas em sete províncias japonesas escolhidas por eles. Os participantes são Akira Minagawa, Reiko Sudo, Tetsuya Mizuguchi, Tsuyoshi Tane, Kenya Hara, Koichiro Tsujikawa, Kumiko Inui e Kumihiki Morinaga.
A maioria desses criadores já foi tema de mostras individuais ou teve seu trabalho exposto na JHSP, como é o caso de Reiko Sudo, Akira Minagawa, Kunihiko Morinaga, Kenya Hara e Tsuyoshi Tane – esse último assina a expografia da mostra.
Além dos espaços dedicados a cada uma das pesquisas, com direito a vídeos sobre os processos de investigação produzidos especialmente pela NHK, o público também pode acessar uma coleção de títulos sobre os criadores e os temas que abordam.
Foi montada também uma seção interativa, onde o visitante é convidado a deixar suas impressões sobre “o que é o design para você?” e contribuir com exemplos presentes no cotidiano brasileiro e que podem ser considerados verdadeiros “tesouros” de cada região do país.
A produtora-chefe da NHK, Kyoko Kuramori, responsável pela mostra, explicou na abertura da mostra que quando se pensa na cultura nipônica, uma das primeiras referências que surgem é o design. Mas não há hoje, observa ela, um museu dedicado exclusivamente a este assunto no Japão.
“Nesse sentido, essa exposição cumpre um papel importante de reunir diferentes itens presentes no cotidiano do japonês a partir do olhar desses renomados criadores, que muito diz a respeito de aspectos atemporais da vida local, da paisagem, da história de diferentes regiões do país, mostrando que basta um olhar curioso para encontrar o design em quase tudo o que nos cerca”.
Eric Klug, Presidente da Japan House São Paulo, destaca que a Design Museum Japan apresenta um lado peculiar que é o design no cotidiano japonês, na produção de objetos de consumo e marcas conhecidos no país. Tanto que inclui diversas peças de épocas diferentes desde milênios atrás até o presente.
“Os curadores participantes não são os designers destas peças, mas as escolheram como ótimos exemplos de design japonês, de pianos a camisas de jogadores de rugby, de tapetes a hélices de navio”, diz ele, em entrevista ao NeoFeed.
Todas as oito “ilhas” que formam a exposição são surpreendentes. O piano fabricado pela Yamaha, em Hamamatsu, província de Shizuoka, foi o ponto de partida para Tetsuya Mizuguchi fazer a sugestão.
Já Akira Minagawa visitou a fábrica Yamagata Dantsu, localizada na cidade de Yamanobe, na província de Yamagata, onde as tapeçarias grossas e feitas manualmente há milhares de anos ganharam auxílio de uma máquina para acelerar sua produção sem perder a autenticidade.
Kenya Hara visitou, em sua cidade natal, na província de Okayama, uma empresa fabricante de hélices de navio, para revelar seu design funcional e a forma de produção eficiente e prática, mesmo com o gigantismo dos objetos – de até oito metros de diâmetro.