A startup chilena BioElements desembarcou no Brasil em julho do ano passado. Seis meses depois, a empresa de bioplásticos recebeu aporte de US$ 30 milhões do Fundo de Investimentos de Impacto do BTG Pactual, em um valuation do negócio de US$ 160 milhões.

O investimento do BTG mostra a importância do impacto da startup. Com clientes como a marca de streetwear Reserva, o outlet online Privalia e a Cornershop, a plataforma de delivery da Uber, a BioElements produz uma embalagem que não agride o meio ambiente. O material que embala uma peça de roupa, por exemplo, não é o mesmo que acondiciona um alimento. Em comum, todos têm a rápida biodegradabilidade.

Se o plástico tradicional leva, no mínimo, 400 anos para se decompor na natureza, o bioplástico da BioElements se degrada entre seis e 20 meses, no máximo. A startup já desenvolveu 27 formulações. Delas, 20 estão em uso.

“Nosso produto pode ser reciclado mecanicamente e voltar para a indústria organicamente e ser compostado; ambientalmente, nos aterros sanitários, no solo e na água”, conta Adriana Giacomin, country manager da BioElements. Ou seja, o bioplástico da startup é facilmente integrado às cadeias da circularidade.

A BioElements quer encerrar o ano com, pelo menos, 20 contratos firmados no Brasil e US$ 10 milhões de faturamento no País. No ano passado, a receita total da startup, que também está presente no México e no Peru, foi de US$ 30 milhões.

A expectativa é que, em seis anos, o Brasil ultrapasse o México como o principal mercado da empresa, que projeta iniciar as operações nos Estados Unidos em 2024.

Do direito ao bioplástico

Atento às ameaças impostas ao planeta pelo lixo plástico, o chileno Ignacio Parada decidiu trocar o escritório de direito ambiental pelo empreendedorismo e fundar a BioElements em 2014.

Como a maioria dos inovadores do setor, o jovem advogado, então com 25 anos, pensava em desenvolver embalagens recicláveis e/ou compostáveis. Logo no início da nova jornada, porém, ele teve de reformular a tese de seu negócio.

Apenas um ínfimo das 300 milhões de toneladas de lixo plástico, produzidas anualmente, no mundo, volta à condição de matéria-prima ou vira adubo. Se quase ninguém recicla ou composta para onde vai essa montanha de resíduos?

Grande parte tem os aterros sanitários como destino. Sobram 7% a 8% que são descartados nas ruas, praias e florestas. Para realmente fazer a diferença, portanto, seria preciso criar um produto degradável em qualquer ambiente, conta Parada, em entrevista ao NeoFeed.

Comida de micróbio

Com a ajuda de pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Chile (UC), ele encontrou seus “parceiros” de inovação nos fungos filamentosos, popularmente conhecidos como mofos ou bolores. Abundantes no solo, na água e nos lixões, nas altas ou baixas temperaturas, na presença ou ausência de oxigênio, esses seres microscópicos usam o plástico como fonte de energia.

Depois de muitas tentativas, ao lado dos cientistas da UC, Parada chegou a uma fórmula “apetitosa” aos micróbios. Batizada BioE-8, a resina de base vegetal não oferece riscos à natureza, como a produção de microplásticos.

Em todos os países para onde leva a BioElements, seu fundador faz questão de se associar a universidades e instituições de pesquisa – aqui, a parceria foi com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Assim, é possível adaptar a produção do bioplástico às características de cada localidade e às necessidades de cada cliente.