Nada escapa à sanha por inovação e futuro dos empreendedores 4.0. Nem aquela singela plantinha, que usamos para decorar a sala de estar. Os franceses Patrick Torbey, geneticista, e Lionel Mora, publicitário, fizeram da popular jiboia uma central de purificação do ar.

Depois de quatro anos de pesquisas, eles acabam de abrir a pré-venda da “superplanta”, batizada Neo P1. A fila de espera já é de quatro meses. O preço? US$ 179 – por aqui, um vaso, com uma folhagem robusta de jiboia, sai por US$ 9, no máximo. Pois é, tecnologia custa caro, sobretudo quando envolve bioengenharia.

A Neo P1 foi projetada geneticamente para capturar quatro dos mais perigosos compostos orgânicos voláteis (COVs). Em contato com a atmosfera, esses poluentes se transformam em gás e, por isso, dificilmente são filtrados pelos purificadores tradicionais.

O formaldeído, benzeno, tolueno e xileno são lançados no ambiente por tintas, solventes e vernizes. Por isso, a concentração de COVs é maior em ambientes fechados. E as jiboias produzidas no laboratório do subúrbio parisiense de Saint-Ouen-sur-Seine, segundo seus criadores, não só limpam o ar como reciclam as substâncias capturadas.

Os pesquisadores inseriram genes no DNA das plantas, de modo a que a Neo P1 convertesse os poluentes em compostos do bem, como proteínas e açúcares, algumas das substâncias fundamentais para o desenvolvimento da espécie. Com o mesmo objetivo, eles trabalharam o genoma das bactérias e fungos que vivem nas folhas e nas raízes.

A tese de que as plantas poderiam ajudar a purificar o ar ganhou força com um estudo da Nasa, de 1989. Os cientistas da agência espacial americana isolaram espécies domésticas em uma pequena câmera e encheram o recinto com COVs.

NEOPLANT jiboia
A jiboia da Neoplant no ambiente doméstico

Até funcionou. Esses resultados, porém, podem ser enganosos, defendem alguns pesquisadores. Na opinião do engenheiro ambiental Michael Waring, professor da Drexel University, no Estados Unidos, um das principais falhar dessas pesquisas é a dessemelhança entre o ambiente controlado de um laboratório e os de nossas casas e escritórios.

Outra questão levantada é sobre a quantidade de planta necessária para limpar o ambiente. Um estudo publicado na revista científica Journal of Exposure Science & Environmental Epidemiology, mostra que seriam necessários dez vasos grandes por metro quadrado para perceber a melhora na qualidade do ar. Talvez seja mais fácil viver na floresta.

Planta na lua

Mas Torbey e Mora argumentam que nada se compara à força da genética. Suas jiboias não são jiboias comuns, dizem. Foram turbinadas pela bioengenharia. Algumas startups também trabalham com mudas mutantes para aumento da capacidade de captura de CO², em ambientes externos. Com espécies domésticas, porém, os francês são os primeiros.

neoplant fundadores
Os fundadores Patrick Torbey e Lionel Mora

“Nossa equipe está empenhada em construir um futuro verde e vibrante, onde as plantas são atualizadas com a mesma frequência que nossos telefones”, diz o geneticista e CTO da biotech, em entrevista ao MIT Technology Review. “Ficarei desapontado se, no futuro, houver uma planta na lua e não for uma Neoplants.”

Torbey e Mora criaram a biotech Neoplants, em 2018. Desde então, levantaram US$ 20 milhões. Contaram com o apoio dos fundos True Ventures, Heartcore, Entrepreneur First e Collaborative Fund. Entre os investidores individuais estão o sueco Niklas Zennstrom, cofundador do Skype, e o também francês Arnaud Plas, da Prose.