Em meados da década de 1970, Steve Wozniak já tinha visto o projeto do computador pessoal que havia criado ser rejeitado cinco vezes pela Hewlett-Packard (HP), onde trabalhava como engenheiro. A empresa não via mercado para a categoria e tinha como grande aposta as calculadoras científicas.
A solução para essa equação veio em 1976, quando ele fundou a Apple, ao lado de Steve Jobs (1955-2011). O tal computador foi o pontapé para que a empresa revolucionasse o setor de tecnologia e chegasse ao posto atual de companhia mas valiosa do mundo, avaliada em US$ 2,4 trilhões.
A história em questão já tem 45 anos. Mas ainda encontra muitos paralelos especialmente quando o tema em pauta é a inovação e os modelos, produtos e serviços que podem transformar radicalmente os mercados nos quais as grandes empresas estão inseridas.
“As grandes empresas costumam ter aquela cultura de que se as coisas sempre foram feitas do mesmo jeito e que não se deve mudar”, afirmou Wozniak, que participou nesta quarta-feira do Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
“Na Apple, nós sabíamos que não era possível fazer o mesmo produto para sempre”, prosseguiu o cofundador da empresa da maçã. “É preciso criar sempre outra direção, outras tendências.”
Nesse roteiro, ele citou a incursão da Apple em novos segmentos no decorrer da sua trajetória, com lançamentos como iPod, iTunes e, em especial, o iPhone, até hoje o grande carro-chefe da operação. Além de movimentos mais recentes, como o maior peso dado aos serviços conectados a esse ecossistema.
“Steve (Jobs) não sabia quanto os produtos custariam, mas conhecia as pessoas”, afirmou. “Ele tinha as ideias, as vendas cresciam exponencialmente e o Conselho de Administração nos deu bilhões de dólares para seguir nesse caminho.”
A visão de Wozniak casa com o que aconteceu com as principais empresas brasileiras nos últimos dois anos. Diante das dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19, elas tiveram de inovar. Esse é justamente um dos pontos abordados em uma pesquisa encomendada pela CNI e realizada pelo Instituto FSB Pesquisa, com a participação de executivos de 500 indústrias de médio e grande portes do País.
Segundo o estudo, 80% das empresas participantes promoveram alguma inovação entre 2020 e 2021, o período que abrange a pandemia da Covid-19. E, a partir dessas iniciativas, obtiveram ganhos em produtividade, competitividade e lucratividade, sendo que 55% delas registraram crescimento no faturamento.
Ao mesmo tempo, o levantamento mostrou alguns desafios para que a inovação ganhe, de fato, escala no plano das indústrias. De acordo com o estudo, 51% das companhias não têm uma área específica centrada na inovação, 63% das não têm orçamento reservado para o tema e 65% não contam com profissionais dedicados exclusivamente a essa área.
Entre os principais problemas para inovar, os executivos apontaram a dificuldade de acesso a recursos financeiros externos (19%); a falta de mão de obra qualificada (8%); a contratação de profissionais (7%); e o orçamento da empresa (6%).
Em contrapartida, a necessidade de dar mais peso a esse assunto já é uma tônica para boa parte das companhias. Para 84% dos entrevistados, suas empresas terão que investir em inovação para crescer ou se manter no mercado.
Nessa direção, a expectativa, para os próximos três anos, é de que essas companhias tenham como prioridade dar vazão a essas estratégias para ampliar o volume de vendas (49%); produzir com menos custos (49%); com mais eficiência (41%); ampliar o volume de produção (34%); e fabricar novos produtos (27%).
Mas, além de centrar esforços nessas frentes, é preciso ter uma espécie de "sexto sentido" para entender os consumidores. "É preciso encontrar boas tendências que realmente vão atrair as massas", disse Wozniak. "Esse sempre foi o maior desafio e não acho que será diferente no futuro."