Uma boa parte das embalagens dos produtos que você compra é feita de plástico. Mas apenas 14% deles são coletados para serem reciclados. Pior: cerca de um terço do plástico do mundo vai parar nos oceanos, de acordo com o Fórum Econômico Mundial.
Esses dados alarmantes motivaram a startup americana TerraCycle, fundada pelo húngaro Tom Szaky, a criar um serviço radical. É o Loop, testado no começo deste ano em Paris.
O conceito do Loop é bastante simples. As empresas passam a ser donas das embalagens. Mas para viabilizar isso, a TerraCycle criou um serviço logístico para tirar essa ideia do papel.
Os parceiros do Loop desenvolvem as embalagens não descartáveis. A Loop se encarrega da limpeza e da distribuição. O consumidor precisa acessar o site do projeto, fazer sua compra e, em poucos dias, receberá uma caixa com os produtos em embalagens reutilizáveis.
Depois de usar os bens adquiridos, o usuário retorna os frascos vazios à caixa da Loop e agenda a retirada – também capitaneada pela Loop. Cabe ao projeto limpar as embalagens, enchê-las novamente e, de novo, entregar ao cliente. É um ciclo (ou "loop", em inglês) verde.
Essa ideia atraiu empresas gigantes como Procter & Gamble, Unilever, Nestlé, PepsiCo, Danone, Mars Petcare, Mondelēz International, Walgreens, Kroger, entre outros. É possível comprar de sorvetes a desodorantes em embalagens reutilizáveis.
"Como em qualquer varejo, compramos o produto dos nossos parceiros e aplicamos uma pequena margem em cima do valor. Nesta fase inicial, estamos desenvolvendo um sistema de compras circular totalmente novo e os consumidores terão de gastar um pouquinho mais para ter o produto que gostam numa embalagem ecológica, mas, à medida que crescemos, os custos certamente irão cair", disse Szaky, com exclusividade ao NeoFeed.
Um sorvete Häagen-Dazs, por exemplo, custa US$ 6,49. Mas há o acréscimo de US$ 5 por conta da embalagem e da entrega e retirada do produto.
Depois de estrear de forma experimental em Paris, o Loop começou a ser testado nos Estados Unidos. Ele agora está disponível em Nova York, Nova Jersey, Pensilvânia, Washington, D.C., Maryland, Connecticut, Massachusetts, Rhode Island, Vermont e Delaware. Mais de 60 mil pessoas se inscreveram na plataforma só nos Estados Unidos.
A TerraCycle já está planejando expandir sua atuação para outras cidades e países . Em 2020, a expectativa é que o serviço esteja disponível na costa Oeste americana, em Londres (Inglaterra), Toronto (Canadá) e em cidades da Alemanha e do Japão. "A Loop também vai ganhar mais robustez firmando parcerias com novas marcas”, afirma Szaky. “Nosso objetivo é ter entre 100 e 400 novos produtos disponíveis até o fim do ano." Hoje, são 87 itens.
Apesar de ser uma unidade de negócios da TerraCycle, Szaky não descarta a possibilidade de torná-la independente. “Seu crescimento e expansão para novos mercados podem, sim, levá-la a se tornar uma empresa à parte."
Fugindo de Chernobyl
Fundada em 2001 por Szaky, a TerraCycle é uma empresa que foca em resíduos que são difíceis de serem reciclados. A startup criou, por exemplo, um método para reaproveitar gomas de mascar, bitucas de cigarro, escovas de dentes e outros produtos que não teriam outro destino senão a lata de lixo.
A empresa, que está presente em 21 países, inclusive o Brasil, oferece ainda um amplo portfólio de programas de coleta e reciclagem patrocinados por empresas, com o objetivo de viabilizar a coleta e o descarte ambientalmente correto de resíduos.
Com 37 anos, Szaky é um “refugiado” da tragédia nuclear de Chernobyl, na Ucrânia (na época, uma República da extinta União Soviética). Em 1986, países vizinhos começaram a ser afetados por nuvens tóxicas da usina nuclear, que forçou ao exílio milhares de famílias.
A Hungria, terra natal dos Szaky, foi também afetada, sobretudo na zona noroeste do país, onde morava. Sob o status de "refugiados", a família passou pela Alemanha e por Holanda antes de desembarcar, em 1987, no Canadá. Lá, ele passou o final de sua infância e adolescência.
Para o ensino superior, contudo, o garoto optou pelos Estados Unidos e frequentou as aulas de psicologia e economia da Universidade de Princeton, mas abriu mão da teoria (e do diploma) para viver os ensinamentos na prática, criando a TerraCycle.
Honrando seus princípios e slogan "eliminando a ideia do desperdício", a TerraCycle, em Trenton, ocupa escritórios que são inteiramente decorados com itens de reciclagem e operam sob um sistema de "zero waste" – "desperdício zero", em tradução literal.
Sua principal atividade é propor soluções tecnológicas, biológicas, logísticas ou criativas para reaproveitar itens de difícil descarte. Dos programas sustentáveis da TerraCycle, talvez o mais bem-sucedido seja a plataforma Zero Waste Box.
Ainda não ativa no Brasil, ela que permite que quase todo o tipo de resíduo seja reciclado, como cápsulas de café ou complexos de laboratório. Ao contratar esse serviço da TerraCycle, a empresa só precisa escolher o tipo de resíduo que quer reciclar, adquirir a caixa de tamanho adequado, coletar o resíduo e enviar para a TerraCycle para ser reaproveitado.
Soluções industriais, reciclagem de resíduos regulados, como baterias e lâmpadas fluorescentes, também fazem parte do escopo de atividade da companhia de Szaky, que busca parceria com ONGs e lideranças locais, a fim de maximizar o potencial de suas atividades.