Califórnia - A alcunha "the people shark" ("o tubarão do povo", em tradução livre) lhe cai como uma luva: de todos os investidores que já participaram do reality show americano Shark Tank, talvez Daymond Johnson Jr. seja o mais acessível deles.
Nascido no Brooklyn e criado no Queens, bairros de Nova York, Johnson repete o típico clichê hollywoodiano: começou a trabalhar ainda garoto, com 10 anos, por pura necessidade, quando seus pais se divorciaram. Conciliou os estudos com os mais variados "bicos", sendo o último deles como garçom de uma unidade da rede de restaurantes Red Lobster.
Nas horas vagas deste trabalho, Johnson aprendeu a costurar com a mãe, para vender, junto com os amigos, gorros que faziam sucesso entre os amantes de hip-hop. Nascia ali, em 1992, a FUBU, uma marca de roupas que hoje acumula mais de US$ 6 bilhões de vendas, segundo levantamento do site americano Business Insider.
Chegar aos bilhões, obviamente, não foi gratuito, e John refinanciou a casa da própria mãe duas vezes, para conseguir fazer seu sonho e empresa prosperarem. Foi nesta época mais delicada, aliás, que o "shark" diz ter feito o melhor negócio de toda sua carreira.
Ele comprou um anúncio de página inteira no jornal New York Times. "Temos um milhão de dólares em pedidos e precisamos de financiamento”, dizia a peça. A publicidade deu resultado: 33 pessoas ligaram, sendo 30 deles com ofertas de empréstimo. Por sorte, um dos interessados era a Samsung.
“Por ignorância, passei semanas insistindo e 'cobrando' uma resposta. As coisas começaram a melhorar, e eu fiquei irritado quando a Samsung finalmente retornou minha ligação querendo fechar negócio”, relembra Johnson. Cheio de segurança, ele disse que seus termos haviam mudado e que só aceitaria negociar em novos parâmetros.
"Passei a agendar tempo para a minha família. Parece meio frio, né?"
Hoje, com a experiência que tem, jamais teria agido daquela maneira – e provavelmente nunca chegaria a um acordo tão bom. A Samsung investiu, em 1996, algo em torno de US$ 30 milhões na FUBU. Em cinco anos, a parceria já movimentava US$ 200 milhões.
Essa ingenuidade e falta de maturidade do jovem empreendedor deu lugar a um empresário seguro o suficiente para declarar publicamente que sabe muito pouco. "Quando eu faço um investimento, pondero se gosto da pessoa e do mercado, porque eu tenho que querer aprender – a lidar com o meu sócio, ou a lidar com o negócio", diz.
Conjugando quase todas as suas frases na primeira pessoa do singular, Johnson conta que aprendeu cedo que as pessoas mais bem-sucedidas são também um pouco egoístas, mas não de um jeito cruel: elas sabem priorizar suas necessidades e entendem que, para ajudar os outros, ela precisa estar numa boa posição também.
Sem acreditar em sorte, o empresário usa uma fórmula bastante popular para calcular os riscos que assume: 20/80. "Eu busco sempre identificar quais são os 20% dos meus esforços que me trazem os 80% de bonança – e aqui pode ser financeira ou emocional, porque se divertir também é um ativo", afirma.
Em 2017, o criador da FUBU descobriu um câncer em estágio já avançado. Depois de tratamentos e cirurgias, Johnson se viu livre da doença. Hoje, ele acha que uma pessoa bem-sucedida, de fato, é aquela que consegue equilibrar vida pessoal e profissional.
"Passei a agendar tempo para a minha família. Parece meio frio, né? Mas, olha, eu agendo reuniões, entrevistas, visitas, consultas. Por que não agendaria também um momento para estar com quem eu amo? Cada vez mais concordo que uma família é como uma empresa: é preciso investimento de tempo, dinheiro e dedicação, se não o negócio – e o amor – não floresce", diz com a experiência de quem passou por um divórcio doloroso, em parte por conta do excesso de trabalho.
“Comece pequeno, fique pequeno e falhe pequeno, até que você não tenha mais para onde ir, a não ser para cima, crescendo."
Tantas reviravoltas fizeram com que o empresário sentisse a necessidade de educar outras pessoas e compartilhar o que aprendeu pelo caminho. Johnson lançou três livros, sendo o último deles, Rise and Grind, lançado no ano passado. "A gente sabe que ninguém ganha dinheiro com livro, eu faço isso para ajudar as pessoas", afirma.
Dono de uma fortuna estimada em US$ 300 milhões, gosta de dizer que seu melhor conselho, para qualquer investidor, é “continue pequeno”. E conclui: “Comece pequeno, fique pequeno e falhe pequeno, até que você não tenha mais para onde ir, a não ser para cima, crescendo."