Aqui jaz a Black Friday (BF). Pouca gente notou, não teve muito alarde, mas a data mais forte do varejo online foi dessa para uma melhor. Sem velório nem nota no jornal. Morreu. A culpada? Ela, o terror de 2020, a Covid-19.

“A BF acabou”, me alertou Pedro Eugênio, empresário visionário que trouxe e fomentou mais do que ninguém a data aqui no Brasil. “Ou você acha que esse ano vai ter aquele ‘empurra, empurra’ lá no Guanabara com isolamento social?!”.

Não, não vai. Pelo menos em 2020, não teremos BF como estávamos acostumados a ver. Porque BF é sinônimo de aglomeração, lojas cheias, confusão, calçadas lotadas à espera da abertura das lojas. E nada disso vai acontecer neste ano.

As lojas físicas estão reabrindo, mas as vendas não pagam nem os custos, informa a associação de shopping centers. Quem reabriu, está voltando atrás e fechando. O motivo é simples, os clientes têm medo.

Medo de sair de casa e pegar Covid. Medo de gastar dinheiro e perder o emprego. Os bancos, por sua vez, têm medo dos calotes -  a prova disso são os aumentos nas provisões.

O medo paralisa a retomada da economia e a recessão está ali na próxima esquina. Vamos ter recuperação em U, W, L? Não sei. O fato é que a situação ainda piora antes de melhorar.

Mas o online não vende?! Sim. As vendas pela internet crescem, mas não o suficiente para compensar as perdas do varejo físico. A Covid acelera migração para o online, avançamos décadas em semanas, é verdade.

Mas não vai ter Black Friday na internet como estávamos acostumados porque os e-commerces anteciparam o movimento, fazendo uma delas por dia desde março para tentar segurar o rojão. Recebi hoje um e-mail da Smiles anunciando a Orange Week.

Diversos outros players, de diversas categorias, já tinham feito o mesmo. E vão seguir fazendo. Vamos ver muito mais gente adiantando a BF para tentar brigar pelo pouco dinheiro que sobra no bolso do consumidor, numa disputa sanguinária do share of wallet. E a BF vai chegar, fraquinha, magrinha num novembro distante.

Nos EUA, o Walmart anunciou que vai fechar as lojas no Dia de Ação de Graças, interrompendo uma tradição que funciona como o aperitivo da BF. A Amazon adiou o Prime Day, sua BF particular, de julho para algum momento no último trimestre do ano.

Pedro Eugênio está certo. Dia 27 de novembro vai ser uma sexta-feira como outra qualquer. Vou pedir pizza como sempre, mas vai faltar assunto para reclamar nas redes sociais. Vamos ver o que tem para 2021 porque a BF, como conhecíamos, não vai acontecer esse ano. É uma pena, vamos sentir sua falta.

*Renato Mendes é investidor, professor na pós- graduação do Insper, mentor na Endeavor Brasil e autor do livro “Mude ou Morra”, finalista do Prêmio Jabuti 2019.

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