Na esteira do seu status de lenda entre os investidores e de uma fortuna estimada em US$ 121 bilhões, Warren Buffett carrega a fama de ter a predileção por determinados setores da economia. Entre eles, as empresas de óleo e gás, a despeito da aposta crescente do mercado nas práticas ESG.

Um dos alvos mais recentes do interesse - e dos recursos - do megainvestidor americano e de sua gestora, a Berkshire Hathaway segue, no entanto, exatamente na contramão dessa preferência. Trata-se de um projeto industrial movido a energia solar, no estado de West Virginia, nos Estados Unidos.

O local que abriga a iniciativa também traz um contraponto. No país, o estado em questão é aquele com maior dependência do carvão. Historicamente, o poder político e a riqueza da região são fundamentados nessa atividade.

É nesse contexto que a BHE Renewables e a Precision Casparts, duas empresas do portfólio da Berkshire Hathaway, estão erguendo um centro industrial na cidade de Ravenswood, que incluirá uma fábrica para produzir titânio para peças de aeronaves, segundo o The Wall Street Journal.

Com um investimento de US$ 500 milhões, essa estrutura será alimentada por painéis solares e baterias recarregáveis. A promessa de geração de 300 vagas de empregos ajudou as duas companhias a vencer eventuais resistências. Mas não foi o único componente a dar fôlego ao projeto.

Outro impulso veio de um financiamento sugerido por políticos republicanos do estado e aprovado em 2022. O instrumento reserva aproximadamente US$ 400 milhões, a serem aplicados em três projetos de energias renováveis no estado. Entre eles, o complexo industrial da gestora de Buffett.

Ao mesmo tempo, a projeto encontra outro facilitador na Lei Federal de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês), legislação de energia limpa aprovada em agosto de 2022. Com ela, o custo dos painéis e baterias do complexo da Berkshire Hathaway será reduzido em até 50%.

Hoje, o carvão responde por mais de 90% da eletricidade gerada em West Virginia. Já as fontes de energia renovável representam apenas 5%. Essa discrepância tem se traduzido em uma grande barreira para a atração de investimentos de empresas preocupadas com suas pegadas de carbono.

A partir da aprovação da lei federal de energia limpa, porém, o estado assistiu ao surgimento de uma série de projetos baseados em energia solar. Até 2020, a capacidade instalada nessa matriz na região era de cerca de 10 megawatts.

Agora, as iniciativas no radar somam mais de 6 mil megawatts, enquanto a estrutura da Berkshire Hathaway prevê uma capacidade de gerar aproximadamente 100 megawatts quando estiver em operação.

À parte dessa movimentação, depois de ampliar os investimentos em petróleo e gás durante a pandemia, a Berkshire Hathaway segue apostando e reforçando sua presença no setor. Há dois meses, por exemplo, a gestora aumentou sua fatia detida na Occidental Petroleum para mais de 25%.