No começo de 2020, o Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP), braço de educação do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, atendia 10 mil alunos e tinha cerca de 30 cursos nas áreas de medicina e de enfermagem, entre pós-graduações presenciais e cursos menores no formato de educação a distância.

Com o avanço da pandemia e uma migração maior para o ambiente digital, o número de alunos dobrou no fim do ano passado. E outros dez cursos foram lançados. Além disso, o instituto incorporou a área de consultoria do Sírio-Libanês.

Agora, aproveitando o momento oportuno de geração de negócios, o IEP se prepara para um novo salto. Em especial, na área de consultoria que, em 2020, apoiou mais de 40 empresas de diferentes segmentos, e que exerce um papel estratégico na operação: levar a marca do hospital a outras fronteiras.

"Antes, para levar a marca para a América Latina, eu precisaria construir hospitais de parede e tijolo", diz Christian Tudesco, superintendente corporativo de marketing e responsável pelo IEP, ao NeoFeed. "Hoje, eu já estou em outros países, no Rio de Janeiro, em João Pessoa."

Tudesco explica que essa expansão acontece, de forma remota, nas duas frentes, de consultoria e ensino. Seja por meio da transferência de tecnologia para equipes em instituições médicas ou pelo treinamento de profissionais com a chancela da marca Sírio-Libanês.

Em educação, o IEP oferece um mix de eventos, simpósios, cursos online e presenciais, entre opções de curta duração, pós-graduação e residência. Já a área de consultoria tem pilares como gestão de saúde, capacitação profissional, gestão de processos e informação, saúde corporativa e políticas públicas de saúde.

Em 2019, último balanço divulgado pela instituição, o Sírio Libanês apurou uma receita operacional de R$ 2,27 bilhões, contra R$ 2,02 bilhões, em 2018. O hospital atende cerca de 120 mil pacientes anualmente e conta com 60 especialidades.

O IEP já contribui com essa conta. No ano passado, a receita da área de consultoria, por exemplo, cresceu quatro vezes em relação a 2019 e a previsão é de que haja um crescimento adicional de 30% na procura por essas ofertas.

Para consolidar essa projeção, o conteúdo a distância terá papel fundamental. Alguns números ajudam a dar a dimensão do potencial do formato. Em 2020, o Sírio-Libanês deu acesso gratuito a quatro opções do seu portfólio, por quatro meses. E, nessas ofertas, registrou 220 mil alunos, 20 mil deles do exterior.

O calendário de 2021 também já tem uma série de ações programadas. Estão previstos mais de 75 eventos, entre simpósios, congressos e fóruns. Cerca de 80% dessas atividades serão realizadas em formato digital.

Em 2019, último balanço divulgado pela instituição, o Sírio Libanês apurou uma receita operacional de R$ 2,27 bilhões

Ampliado recentemente, o portfólio de ensino tem opções como o curso de atenção primária voltado para enfermeiros, ministrado em três dias, com o custo de R$ 499. E alternativas como a especialização em saúde mental, uma pós-graduação de 11 meses, que custa R$ 24.200.

Transmissão de conhecimento

Na visão de Tudesco, pesquisa, ensino e consultoria são áreas complementares que fazem parte do mesmo processo de geração de conhecimento. Os estudos realizados e o aprendizado diário no hospital podem ser estruturados em cursos. E, a partir deles, é possível estabelecer protocolos e diretrizes adaptáveis a outras empresas e instituições da área de saúde.

Christian Tudesco, superintendente corporativo de marketing e responsável pelo IEP

Ele cita o exemplo dos protocolos elaborados para empresas relacionados à Covid-19. "Por conta da pandemia, fomos muito demandados", diz. “Toda empresa tem seus protocolos, mas nossa expertise permite agir mais rápido e ser mais eficiente, minimizando os custos."

Entre os clientes atendidos a partir dessa demanda estão a rede hoteleira GJP, o Colégio Bandeirantes e a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).

Os serviços incluem, por exemplo metodologias para reduzir o desperdício de material hospitalar, a taxa de mortalidade em unidades de tratamento intensivo e o tempo de ociosidade de entrada e saída em um hospital.

Na área da saúde, a relação entre instituições de ensino e hospitais não é novidade. Tudesco cita como inspiração a universidade americana Johns Hopkins, que construiu uma aliança entre assistência, ensino e pesquisa que se tornou referência mundial.

O Brasil também tem outros bons exemplos nesse segmento. É o caso do Hospital Albert Einstein, que mantém o Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP), com graduações nas áreas de medicina, enfermagem e fisioterapia a pós-graduação, MBA, especialização em gestão e outros cursos de curta duração.

O Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), da Rede D'Or, também oferece cursos de graduação, extensão, residência e outras modalidades de ensino. E o hospital Osvaldo Cruz mantém a Faculdade de Educação em Ciências da Saúde.

Esses institutos acabaram beneficiados pela mudança do mercado de educação, expressa na migração para o formato híbrido, em que o presencial divide espaço com o digital, e na busca pelas chamadas micro certificações.

"O aluno sabe que tem que ir muito além da universidade", afirma William Klein, CEO da consultoria Hoper Educação. "E o setor produtivo, por meio de institutos que são entrantes no setor de educação, está ofertando as certificações nessas outras competências."

Houve também um amadurecimento do formato remoto. Alguns cursos e especializações seguirão exigindo aulas presenciais. Mas muito conteúdo passou a ser ofertado em um modelo digital, sem perda de qualidade. O resultado é uma aceitação maior da modalidade inclusive entre profissionais de saúde.