A Reag Investimentos conseguiu uma importante vitória na manhã de segunda-feira, 23 de outubro. Com 30% das ações emitidas pelo GetNinjas, a gestora de João Carlos Mansur pediu a convocação da assembleia geral extraordinária (AGE) para que os acionistas pudessem decidir sobre a devolução de 80% de um total de R$ 270 milhões que estão no caixa da companhia.

A tese da gestora é que o GetNinjas está perdendo oportunidades de mercado e, ao devolver R$ 220 milhões para os acionistas, “abandonando o jogo e a competição”. A proposta da Reag foi vencedora na AGE: 58,9% reprovaram a distribuição do dinheiro em caixa, enquanto 41,1% aprovaram.

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A partir de agora - e com a certeza que tem maioria entre os acionistas -, a Reag vai ocupar o seu espaço dentro do GetNinjas. A primeira medida, segundo apurou o NeoFeed, é a entrada da consultoria Alvarez & Marsal para ajudar na gestão do aplicativo de serviços. A segunda é a redução de sete para cinco membros no conselho de administração.

Na última sexta-feira, 20, a Reag solicitou a convocação de uma nova AGE, para 21 de novembro, para destituir os atuais conselheiros e, em seguida, escolher os novos nomes.

Atualmente, o conselho do GetNinjas é formado por Andrea Di Sarno, da Galápagos Capital (presidente); L’Hotellier (vice-presidente) e os membros Ariel Lambrecht, ex-99 e Yellow; Claudio Kawa Hermolin, da eXp Brasil; Gregory Louis Reider, da R6 Capital; Lucas Barcelos Vargas, CEO da Nomad; e João Nascimento Nerasti, da Indie Capital.

A Reag também fez, no seu voto, um pedido de criação de um conselho fiscal para o GetNinjas, que foi aprovado. Todos os membros são indicados pela gestora - Alexandre Fujimoto, sócio da Reag e os advogados Marco Folla de Renzis e Savério Orlandi.

Nas últimas semanas, o GetNinjas fez de tudo para barrar o avanço da Reag sobre a empresa. Além de o fundador Eduardo L’Hotellier ter aumentado sua participação de 19,6% para 25%, o aplicativo de serviços contratou a plataforma Atlas AGM para permitir o voto eletrônico dos acionistas minoritários

Para o GetNinjas, que é uma corporation e não tem um acionista controlador, a participação dos minoritários poderia ajudar a brecar a proposta da gestora de manter o dinheiro em caixa. Para se ter uma ideia, cada ação emitida teria direito a receber R$ 4,40. Nesses termos, a Reag embolsaria pouco mais de R$ 67 milhões e L’Hotellier, pouco menos de R$ 56 milhões.

Na estratégia do GetNinjas, conseguir a ampla participação dos minoritários poderia significar a manutenção dessa distribuição para todos os acionistas. Mas como atrair esse pequeno investidor, que historicamente fica distante das decisões das companhias de capital aberto?

A possível solução encontrada pelo GetNinjas estava na plataforma Atlas AGM, uma ferramenta recém-criada pela Atlas Governance, de Eduardo Carone. O empreendedor, que já participou de 25 conselhos de administração e hoje está no board de Multilaser e Ambiental Limpeza Urbana e Saneamento, desenvolveu um sistema de voto a distância que simplifica a participação.

Mesmo com todos os esforços do GetNinjas nas últimas semanas, o resultado é uma derrota para a gestão e, principalmente, para L’Hotellier, que fica cada vez mais distante da companhia.

O voto eletrônico

A primeira experiência da plataforma Atlas AGM é considerada um sucesso. O objetivo de democratizar a participação do acionista minoritário foi atingido. Mais de 10% dos 4.724 acionistas (4.590 pessoas física e 135 pessoas jurídica e institucionais) do GetNinjas voltaram.

Os números de outras empresas são mais modestos. Na última assembleia geral ordinária (AGO), realizada no primeiro semestre deste ano, a média de participação dos acionistas das 100 maiores empresas da B3 foi de 0,6% da base total, que considera pessoas física e jurídica e institucionais. E menos de 20% dessas companhias superaram 1% de participação de sua base.

É interessante notar que empresas com grandes bases têm um desempenho pior do que as com menor base. Enquanto a Energisa, com 317 acionistas teve uma participação de 5,4% (17 votos), a Petrobras, por exemplo, com pouco menos de 868 mil acionistas, teve uma participação de 0,13%. As companhias de telecom Tim e Telefônica, com mais de 1,4 milhão e 1,7 milhão de acionistas, respectivamente, tiveram ambas uma participação de 0,04%.

A plataforma criada por Carone é totalmente digital. O acionista recebe a pauta do dia, preenche o boletim de voto a distância BVD e define o seu voto eletronicamente. O sistema gera o documento para conferência, que é assinado eletronicamente via DocuSign e a empresa já recebe o mapa de votação completo pouco antes de começar a assembleia.

Há, sim, outras plataformas que permitem a assembleia eletrônica, mas o voto não é digital, apesar de ser feito à distância. Nelas, o acionista é obrigado a imprimir o BVD, preencher o documento a mão, assinar e escanear para enviar de volta à empresa. Do outro lado, uma pessoa fica responsável por receber esses votos eletrônicos e preencher um por um em uma planilha Excel para se somar aos votos presenciais.

“As empresas, por muito tempo, preferiam o minoritário distante e nunca deram valor à participação dele”, diz Carone. “Agora, elas estão precisando dessa participação e o acionista deve cobrar a empresa por melhor governança e transparência.”

De acordo com Carone, 40 empresas estão testando a ferramenta, que custou R$ 15 milhões e está totalmente funcional, mas que precisa de mais R$ 15 milhões para os próximos desenvolvimentos e chegar “ao estado da arte”.

A intenção é chegar em um modelo de “assembleia Netflix”, ou seja, que a empresa consiga gravar vídeos apresentando cada item da pauta para que o acionista consiga assistir com antecedência e tomar a sua melhor decisão.

A Atlas já fez quatro rodadas de captação. Na última, o aporte integral foi feito pela Volpe Capital. No início deste ano, os principais sócios fizeram um aporte de R$ 8 milhões como “reforço de caixa”. A empresa, que está caminhando para o breakeven no segundo trimestre de 2024, projeta uma nova rodada de captação na ordem de US$ 10 milhões em breve.