Nesta semana, na madrugada de 22 de fevereiro, a Vale anunciou a compra de uma fatia de 15% do complexo Minas-Rio, ativo de produção de minério de ferro da britânica Anglo American no Brasil, pelo valor de US$ 157,5 milhões, sujeito a ajustes.

O acordo incluiu outros termos. Entre eles, a opção de a empresa brasileira comprar uma participação adicional de 15% no negócio e uma parceria que destinará a produção de minério de ferro da Vale em seu depósito na Serra da Serpentina ao complexo Minas-Rio, instalado próximo a essa operação.

Com a transação, a Vale encerrou um hiato de quase dois anos sem nenhum movimento no plano de aquisições. E agora, a partir do modelo desenhado com a Anglo American, a perspectiva é de que a empresa volte a ser mais ativa em sua estratégia inorgânica.

“Quando vemos uma oportunidade como essa, da Anglo, é o que chamamos de M&A inteligente”, afirmou Eduardo Bartolomeo, CEO da Vale, em teleconferência para tratar dos resultados da empresa no quarto trimestre e no ano de 2023.

Uma boa parcela da inteligência citada pelo executivo se deve ao fato de a companhia ter atrelado a transação à integração do seu depósito da Serra da Serpentina, dono de recursos estimados em 4,3 bilhões de toneladas, ao complexo da Anglo American.

“É um ativo de classe mundial, que está lá. Nós temos a logística, eles já têm a mina instalada”, afirmou Bartolomeo. “Então, claro, estamos esperando muito dessa operação. E é o tipo de negócio que iremos buscar com certeza.”

Hoje, o complexo Minas-Rio tem a capacidade de produzir 26,5 milhões de toneladas por ano de minério de ferro de alta qualidade e um potencial de expansão para até 31 milhões de toneladas. Já na soma das duas operações, a projeção é atingir mais de 50 milhões de toneladas até a próxima década.

“Isso deve nos dar acesso a até 15 milhões de toneladas ano de minério de ferro de alta qualidade quando Serpentina estiver totalmente desenvolvida”, disse Gustavo Pimenta, CFO da Vale. “E esse fornecimento é um componente chave na nossa estratégia de menor pegada de carbono.”

Bartolomeo observou, por sua vez, que, hoje, a empresa tem um nível de produção suficiente para manter o seu ritmo de crescimento. Mas voltou a ressaltar que isso não impede a companhia de buscar outros acordos semelhantes ao da Anglo American, sejam eles aquisições ou parcerias.

Uma das operações com ativos que podem compor essa tese é a Vale Base Metals, justamente a companhia que reúne suas iniciativas e negócios na área de metais de transição energética. Nesse sentido, um dos ativos citados foi a planta da empresa em Hu’u, na Indonésia.

“Vamos sempre buscar criar valor”, afirmou o executivo. “A ideia é ter parcerias sólidas para satisfazer também as demandas para a transição energética, que é um desafio para toda a indústria. Se pudermos antecipar e acelerar, vamos fazer.”

A Vale em números

Na sequência do acordo com a Anglo American, a Vale reportou seu resultado no quarto trimestre e no consolidado de 2023. Entre outubro e dezembro, o lucro líquido recuou 35,1%, para US$ 2,4 bilhões. No ano, a retração na última linha do balanço foi de 52,2%, para US$ 7,9 bilhões.

A queda no lucro trimestral foi impactada, em parte, por uma provisão de US$ 1,2 bilhão relacionada ao rompimento da barragem e compromissos da Fundação Renova, além de um potencial acordo global com autoridades brasileiras no caso.

Já a receita líquida apurada pela companhia no quarto trimestre do ano passado avançou 9,3%, para US$ 13,1 bilhões, enquanto no consolidado de 2023, houve uma queda de 4,6%, para US$ 41,7 bilhões.

Em outra linha, o Ebitda ajustado trimestral foi de US$ 6,3 bilhões, um salto de 36,9%. No ano, o recuo foi de 9,1%, para US$ 17,9 bilhões. A margem Ebitda, por sua vez, evoluiu de 39% para 49% entre outubro e dezembro, e ficou em 43% em 2023, contra 45% em 2022.

A empresa encerrou o ano com uma dívida líquida expandida de US$ 16,1 bilhões. A cifra leva em conta compromissos com o Refis e programas de reparação e compensação de Mariana e Brumadinho. Descontando esses efeitos, a dívida líquida foi de US$ 9,5 bilhões.

A alavancagem da operação, por sua vez, medida pela relação dívida líquida/Ebitda ajustado, ficou em 0,5 vez no fim de 2023, contra 0,4 vez, um ano antes, e 0,6 vez no terceiro trimestre do mesmo exercício. A empresa anunciou ainda dividendos de US$ 2,4 bilhões, a serem pagos em março.

Por volta das 13h15, as ações da Vale registravam alta de 1,13%, cotadas em R$ 67,98. Em 2023, os papéis da companhia, avaliada em R$ 291,2 bilhões, acumulam uma desvalorização de 11,9%.