Depois de passar os últimos três anos lidando com as situações atípicas provocadas pela pandemia de Covid-19 e da alta da inflação, a Ambev terá em 2023 o primeiro “ano normal” de atividades.

O fim das restrições para mobilidade e dos efeitos das mudanças nos canais de vendas, junto com a dissipação da inflação de custos e a redução da renda dos consumidores, permitirá aos investidores uma visão melhor da real situação da companhia e quais as perspectivas para os próximos anos.

Para o BTG Pactual, o que mais interessa para a tese de investimento na Ambev daqui para frente é se a companhia conseguiu recuperar seu poder de precificação, para contornar a expectativa de desaceleração dos volumes de venda. Por enquanto, as notícias não são boas.

“Após se beneficiar de um mix favorável de produtos em 2022, a receita por hectolitro deve ser o principal motor de crescimento da receita”, diz trecho do relatório assinado pelos analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin. “Mas nós não estamos confiantes de que isso [poder de precificação] virá tão cedo.”

A capacidade de conseguir ajustar preços é necessária considerando que as vendas em termos de volume perderam força no primeiro trimestre, segundo os analistas.

O Carnaval e a base comparativa favorável de janeiro de 2022 devem permitir um leve aumento nas vendas de cerveja nos primeiros três meses do ano, de 3% em relação ao mesmo período do ano passado.

O avanço é tímido e dados apontam para uma desaceleração no volume de vendas da Ambev, mesmo com um de seus competidores, o Grupo Petrópolis, entrando com um pedido de recuperação judicial em março, com dívidas de R$ 4,2 bilhões.

“A Ambev se tornou uma companhia robusta nos últimos anos, mas não esperamos nenhuma surpresa significativa em seus resultados a não ser que ela recupere seu lendário poder de precificação”, diz trecho do relatório.

Junto com esta questão, os analistas do BTG Pactual afirmam que será preciso ver como a empresa será afetada pela proposta de Reforma Tributária, cujas informações apontam para cortes de subsídios e revisão de certos benefícios fiscais.

Considerando as circunstâncias, as ações da Ambev possuem recomendação neutra no BTG Pactual, com preço-alvo de R$ 16.

“A recente redução do valuation tornou os múltiplos da empresa mais atraentes em relação a seus pares, mas ainda não achamos que as ações estão baratas suficientes para torná-la uma jogada de value, nem vemos um ponto de inflexão próximo”, diz trecho do relatório.

Por volta das 12h15, as ações da Ambev caíam 2,03%, a R$ 14,46. Em 12 meses, elas acumulam alta de 2,64%, levando o valor de mercado a R$ 227,7 bilhões.