Desde que Jean Jereissati Neto assumiu o comando da Ambev, em janeiro de 2020, a dona de marcas de cerveja como Skol, Brahma e Antarctica vem tentando mostrar ao mercado que pode ir além da categoria e ser muito mais do que uma companhia tradicional de bebidas.
Na tarde da terça-feira, 12 de abril, o grupo contou novos capítulos dessa história ao mercado, ao promover a primeira etapa do seu Investor Day. Não por acaso, o evento foi realizado em Campinas (SP), no Centro de Tecnologia e Inovação da empresa.
A estrutura é o berço de uma série de novas iniciativas para consolidar esse posicionamento mais amplo, bastante centrado em dados e na transformação digital. E que agora começam a despontar, de fato, como oportunidades concretas no horizonte da companhia.
“As bebidas continuam a ser a alma da empresa. Mas BEES, Zé Delivery, logística, desenvolvimento de marca e inovação estão prontos para se basearem em um uso sem precedentes de dados”, escreveram os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin, do BTG Pactual.
Ao ressaltar que a Ambev está, cada vez mais, saindo de sua zona de conforto, a dupla acrescentou: “E é aí que a Ambev busca se destacar para criar uma plataforma que irá impulsionar seu crescimento nos próximos 20 anos.”
No caso da BEES, plataforma de e-commerce e de marketplace que permite que bares e restaurantes comprem produtos que vão além da cerveja e do próprio portfólio do grupo, o BTG destacou, entre outros fatores, a aceleração da expansão da operação, que chegou a um GMV de R$ 1 bilhão em 2021.
“A plataforma está reformulando o relacionamento da Ambev com os pontos de venda”, observaram os analistas. “E, ainda mais importante, a BEES prepara o terreno para a Ambev alavancar as vendas de produtos 3P, com um mercado endereçável no Brasil estimado em R$ 706 bilhões.”
Embora tenha apontado a Bees como a iniciativa mais promissora da Ambev, o banco também destacou o Zé Delivery, para os analistas, o projeto mais “perspicaz” do grupo. O fato de o aplicativo de entregas de bebidas já representar 6% do volume de vendas de cervejas do grupo, com 4,9 milhões de usuários, justifica, em parte, essa visão.
“A venda de produtos não pertencentes à Ambev também é uma oportunidade promissora”, escreveram os analistas do BTG, observando ainda aspectos como a queda dos custos de última milha por pedido e dos descontos ofertados no aplicativo.
Em outro relatório, quem também teceu comentários positivos sobre as novas frentes em andamento na operação e sobre a mudança de mentalidade e da maneira de fazer negócios da Ambev foi o Bank of America.
“A Ambev está em uma jornada para se tornar uma plataforma baseada em um ecossistema forte”, afirmaram Isabella Simonato, Guilherme Palhares, Fernando Olvera, do Bank of America (BofA). Ao lado da BEES e do Zé Delivery, o trio reservou espaço para um projeto mais recente da Ambev.
Trata-se da fintech B2B do grupo, lançada como Donus e rebatizada, recentemente, como BEES Bank. Entre outros números, a operação alcançou um TPV de R$ 1 bilhão, levando-se em conta apenas o mês de dezembro de 2021, e a abertura de mais de 220 mil contas.
Na visão do BofA, a BEES Bank preenche uma lacuna do mercado ao endereçar problemas crônicos na cadeia de bares, restaurantes e demais estabelecimentos, como a falta de linhas de crédito e as altas taxas bancárias as quais o segmento está submetido.
Apesar da visão otimista sobre essas e outras novas vias, os dois bancos mantiveram uma recomendação neutra para o papel. O BofA tem preço-alvo para a ação de R$ 18,60 e cita riscos como a inflação de custos de matérias-primas, o aumento da concorrência e a queda nos preços de cerveja.
Já os analistas do BTG Pactual têm preço-alvo de R$ 16 para a ação. Eles observaram que é “fascinante” ver a capacidade da Ambev de se reinventar e “desafiar velhos dogmas”. Mas fizeram uma ressalva:
“Ainda precisamos entender se as novas frentes que a Ambev está criando agora podem ser grandes o suficiente para compensar o que vemos com uma margem de contribuição cada vez menor do segmento de cervejas”.
Nesta quarta-feira, as ações da Ambev encerraram o pregão na B3 com uma queda de 1,46%, cotadas a R$ 14,83. A empresa está avaliada em R$ 233,4 bilhões e seus papéis acumulam uma desvalorização de 3,82% em 2022.