No início do ano, a Blackstone foi um dos nomes destacados em um levantamento da S&P Global Market Intelligence, que ressaltava o fato de a indústria de private equity abrir 2024 com um recorde de US$ 2,59 trilhões em reservas de caixa.

O saldo desse montante apontava para o desafio dos players do setor encontrarem alternativas de saída de ativos já antigos em seus portfólios e, ao mesmo tempo, buscarem novas opções para investir os recursos que administram e colocarem novos fundos em ação.

Com US$ 1 trilhão de ativos sob gestão, a Blackstone parece estar resolvendo essa segunda questão. Um dia depois de anunciar um investimento de cerca de US$ 10 bilhões na compra da AIR Communities, sua maior aquisição no segmento de multipropriedades, a gestora está prestes a fechar outra transação.

Segundo informações da agência Bloomberg, a gestora americana está próxima de selar um acordo para fechar o capital da L’Occitane, o que colocaria um ponto final na trajetória de 14 anos do grupo francês de cosméticos na bolsa de valores de Hong Kong.

No acordo, Reinold Geiger, o bilionário austríaco que controla a L’Occitane, com uma fatia de 70%, estaria buscando um prêmio de 20% sobre a cotação da ação do grupo no início de fevereiro, quando surgiram as primeiras especulações sobre a aquisição.

Na época, o papel da empresa estava cotado a 26 dólares de Hong Kong. Nesta terça-feira, a ação fechou o pregão no patamar de 29,50, queda de 3,59%, com a companhia avaliada em 43,4 bilhões de dólares de Hong Kong (US$ 5,6 bilhões).

As conversas avançadas para fechar o acordo sinalizam, em um primeiro momento, que Geiger, aos 76 anos, teria um plano de sucessão em andamento. Ao mesmo tempo, o fechamento de capital encerraria um período de três anos de turbulências na operação, fundada em 1976, por Olivier Baussan.

Esse contexto se traduziu em uma dança nas cadeiras no comando da empresa. Em 2021, Geiger renunciou ao posto, sendo substituído por Andre J. Hoffman. Já em janeiro desse ano, o grupo anunciou que um novo CEO, Laurent Marteau, ex-LVMH, assumiria o cargo neste mês de abril.

Dono de uma fortuna estimada em US$ 3 bilhões e acionista da L’Occitane desde 1994, Geiger assumiu o controle e o comando do grupo no mesmo ano, impulsionando a expansão global da empresa, o que incluiu a abertura de capital em Hong Kong, em 2010 e a escolha da Ásia como um dos grandes focos.

Atualmente, a companhia detém oito marca e presença em 90 países. Nesse mapa, porém, um dos pontos mais desafiadores têm sido a forte concorrência de marcas também globais, como a L’Oreal e a Estee Lauder, justamente em mercados como a China.

Ao apostarem em uma prática agressiva de descontos, essas duas empresas vêm ganhando market share no país, assim como outros players locais. Como resultado, a região Ásia-Pacífico foi a única a registrar queda de receita nos nove meses do ano fiscal da operação, encerrados em 31 de dezembro.

No período, a divisão Ásia Pacífico, que foi o principal mercado da companhia nos dois exercícios anteriores, apurou uma receita de € 679,3 milhões, um recuo de 1,2%. Já a receita total avançou 18,9%, para € 1,91 bilhão. O lucro da operação, porém, caiu 51% nesse intervalo.