Em abril do ano passado, após diversas idas e vindas, com direito a troca de farpas, a Aliansce Sonae conseguiu convencer a BRMalls e fechou um acordo para unir as duas operações, criando o maior nome do segmento de shopping centers da América Latina.

Mesmo após realizar uma das maiores transações do setor, a companhia não desligou seus radares. O maior foco agora é a unificação e captura de sinergias dessa operação, mas a companhia não pretende abandonar esse perfil consolidador.

No entanto, caso volte às compras, a companhia não planeja fazer movimentos tão grandes, como foi o caso da própria BRMalls ou a união entre a então Aliansce com a Sonae Sierra Brasil, em 2019.

“Seguimos sendo um potencial consolidador do mercado e vamos continuar avaliando medidas para consolidar, mas de uma forma que não tenha um impacto tão relevante”, disse o CEO Rafael Sales na teleconferência de resultados do quarto trimestre, nesta sexta-feira, dia 24 de março.

Segundo ele, a ideia é olhar ativos pontuais e de qualidade. “Vamos olhar para shoppings dominantes, em cidades e áreas urbanas, que sejam o melhor destino para os consumidores”, complementou.

Segundo o executivo, a decisão por um eventual novo acordo dependerá das oportunidades que surgirem, considerando o tamanho que a companhia atingiu, com mais de R$ 40 bilhões de vendas totais, 62 shoppings e mais de 11 mil lojas.

“A necessidade de consolidação é menor, porque somando lojas relevantes das principais marcas brasileiras, temos pelo menos o dobro de número de operações do que a somatória dos dois maiores concorrentes”, afirmou Sales.

Para 2023, a prioridade segue sendo a integração com a BRMalls. A companhia revisou as expectativas das sinergias anuais de R$ 160 milhões para uma faixa de R$ 180 milhões a R$ 210 milhões. O valor envolve a parte operacional, visto que a sinergia financeira de R$ 50 milhões estimada em janeiro foi capturada por medidas de gestão de passivo.

“Obviamente, vamos capturando um pouco a cada ano, mas é razoável pensar que 85% deve ser atingido até o final de 2025”, disse Daniella Guanabara, CFO e diretora de relações com investidores.

Juntamente com a busca por sinergias, a Aliansce Sonae vai revisar seu portfólio de shopping centers. A administração pretende se concentrar em unidades maiores, estrategicamente posicionadas nas cidades, com dominância em suas regiões, mesmo racional por trás de uma eventual aquisição. A expectativa é de que movimentos desse tipo sejam avaliados a partir do segundo semestre.

“Vemos demanda por participação minoritárias, enquanto para shoppings inteiros falta profundidade do ponto de vista de transações”, afirmou Sales. “Faz sentido esperarmos, nosso portfólio está longe de ter problemas.”

O CEO da Aliansce Sonae destacou ainda que a união com a BRMalls deve dar mais robustez à geração de caixa. Combinada com os desinvestimentos, a captura de sinergias e a administração de passivos financeiros, a expectativa é de que a empresa tenha um retorno de capital mais “previsível e relevante aos acionistas”.

No quarto trimestre, somente a Aliansce Sonae registrou um prejuízo líquido de R$ 17 milhões, revertendo um lucro líquido de R$ 115,7 milhões no mesmo período de 2021. A receita líquida subiu 5,4%, a R$ 292,7 milhões, e o Ebitda ajustado caiu 9,3%, para R$ 206 milhões.

A dívida líquida somou R$ 479 milhões, abaixo dos R$ 680 milhões do quarto trimestre de 2021. A alavancagem financeira fechou os últimos três meses de 2022 em 0,6 vez, recuo ante a 1,0 vez do mesmo intervalo de 2021.

A integração com a BRMalls foi concretizada somente em 6 de janeiro, mas a Aliansce Sonae informou alguns dados consolidados. Em 2022, a receita líquida somou R$ 2,5 bilhões e o Ebitda ajustado atingiu R$ 1,8 bilhão.

As ações da Aliansce Sonae encerraram o pregão de hoje com alta de 7,74%, cotadas a R$ 17,13. No acumulado do ano, os papéis estão praticamente estáveis, levando valor de mercado a R$ 9,6 bilhões.