Com o tema do crédito rotativo em pauta, com projetos para estabelecer limites a esta modalidade, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse na terça-feira, 22 de agosto, que é preciso encontrar uma solução para o tema, sem correr risco de afetar o crédito no País.

“Não tem como dizer agora qual será a solução, mas é preciso endereçar esse assunto”, disse ele em painel na 24ª Conferência Anual Santander, em São Paulo. “Não fazer nada pode ser pior do que achar uma solução organizada.”

Afirmando que o tema vem sendo discutido desde o governo passado, o presidente da autoridade monetária brasileira destacou que uma solução precisa ser faseada, olhando para o médio e longo prazo, considerando que 40% do consumo é baseado em cartão de crédito.

Ele destacou ainda que, da carteira total de crédito, dois terços não pagam juros. Isso representa cerca de 15% do crédito total do mercado. “O cartão de crédito tem uma função além do que deveria”, disse. “É preciso encontrar uma solução, considerando que o parcelado sem juros é importante para o consumo e não pode sofrer ruptura.”

A fala de Campos Neto representa uma mudança de tom em relação ao que falou no dia de 10 de agosto, em sessão do Senado, quando afirmou que técnicos do BC estudavam o fim do crédito rotativo como forma de combater a inadimplência nos cartões de crédito.

Sobre a inadimplência, ele disse que o mercado de cartão de crédito passou por uma expansão forte nos últimos anos, com a chegada de fintechs e outros novos entrantes, além de grandes bancos que foram a “mar aberto”, ajudando a puxar para cima a inadimplência do mercado como um todo.

“Houve uma concessão muito alta de cartões num curto espaço de tempo”, afirmou. “O cartão de crédito foi utilizado como um instrumento de fidelização, mas esta é uma estratégia difícil de se manter.”

Na batalha

O presidente do BC também falou sobre a condução da política monetária, dizendo que o momento ainda exige juros restritivos, mesmo com a inflação em patamares considerados baixos por muitos economistas, considerando a situação externa e que ainda é preciso ver mais sinais de melhoras dentro do País. “A batalha contra a inflação ainda não está ganha”, disse Campos Neto.

Olhando para o aperto monetário praticado pelo mundo após a massiva concessão de incentivos durante a pandemia, ele afirmou que o Brasil foi capaz de trazer a inflação para baixo com juros menores que os vistos em outros momentos do País. “Existe uma grita muito grande a respeito dos juros”, disse. “Conseguimos fazer esse começo de pouso suave com aumento menor de juros.”

Campos Neto voltou a falar também o lado fiscal, dizendo que o governo precisa apresentar um plano fiscal com credibilidade. Segundo ele, neste momento, o mercado ainda tem dúvidas sobre as metas estabelecidas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de zerar o déficit até 2024.

“É importante explicar que se tiver uma ancoragem na parte fiscal, o trabalho monetário será feito com mais facilidade”, afirmou ele.

Outro tema levantado pelo presidente do BC foi a questão da concessão de crédito público, que impede uma maior redução dos juros. “Se o crédito direcionado sobe muito, é como se tivesse uma tubulação entupida, porque exige juros maiores para destravar”, disse.