A Casas Bahia deu um passo importante em seu processo de reestruturação financeira. Na madrugada de 15 de dezembro, a rede varejista detalhou, em fato relevante, seu plano que pode reduzir em, no mínimo, R$ 2,8 bilhões o valor de face de sua dívida.
A rede varejista está propondo um reperfilamento da 10ª emissão de debêntures, hoje com cerca de R$ 3,3 bilhões em valor de face, seguido por uma 11ª emissão estruturada em quatro séries. Esse movimento redesenha o balanço da companhia e altera a trajetória financeira nos curtos e médios prazos da companhia.
"A empresa estava gastando muita energia em discussões financeiras, reuniões com bancos. Se o plano for confirmado, ela encerra o ano com aumento de margem operacional e redução da alavancagem, o que muda o cenário com perspectiva de mudanças macroeconômicas", diz uma fonte próxima à companhia.
O plano da Casas Bahia é aprovar a proposta nas assembleias extraordinárias (AGE) e de debenturistas (AGD), que acontecerão na quarta-feira, 17 de dezembro, para conseguir fazer a precificação e a liquidação em 26 de dezembro e constar no balanço do quarto trimestre.
A operação, que dá continuidade ao plano de transformação da estrutura de capital iniciado em 2025, combina descontos sobre debêntures existentes, conversão de dívida em ações e alongamento extremo dos vencimentos, com o objetivo de aliviar o caixa, reduzir despesas financeiras e melhorar o perfil de risco da varejista.
Dependendo do nível de adesão dos credores, o endividamento remanescente da companhia pode cair para R$ 583 milhões, no cenário de endividamento mínimo após a operação.
Internamente, a expectativa é que a dívida fique em torno de R$ 400 milhões e a alavancagem em 0,8 vez. Fontes próximas à empresa disseram ao NeoFeed que a empresa vem negociando com os credores desde sexta-feira e teria a certeza de contar com 50% mais 1 dos votos necessários para aprovação nas assembleias.
A estratégia do plano é trocar títulos antigos por novos instrumentos que envolvem haircuts relevantes sobre o valor de face das debêntures, conversão de parte relevante da dívida em ações e alongamento de vencimentos até 2050 para a parcela remanescente.
O plano implica diluição dos atuais acionistas, pois parte da dívida será convertida em ações. Ao mesmo tempo, ele reduz de forma significativa o risco financeiro da empresa.
A 11ª emissão de debêntures foi desenhada para acomodar quatro diferentes perfis de credores. A 1ª série é voltada aos credores que preferem seguir como credores, mas aceitam um desconto para reduzir o risco.
Esses vão receber novos títulos equivalentes a 45% do valor original (ou seja, 55% de desconto do valor de face), com vencimento em dezembro de 2029, com juros de CDI+1% ao ano. O volume máximo para essa tranche é de R$ 437 milhões.
A 2ª e a 3ª séries são as conversíveis em ações, com uma delas com conversão mandatória, no preço de R$ 3,71 por ação, calculado com base na média dos últimos 90 dias e vencimento em junho de 2028.
A outra é com conversão facultativa no curto prazo e mesmo preço por ação. Mas há limites trimestrais para a conversão e as ações convertidas ficam sujeitas ao lock-up.
Esse desenho permite que a maior parte da dívida seja efetivamente transformada em capital, enquanto a parcela que permanece como passivo é reduzida e alongada.
A 4ª série é a menor e a mais curta, pois funciona como um incentivo para que os credores aceitem a operação. Com um desconto de 70% do valor de face, a Casas Bahia pode desembolsar até R$ 146 milhões em janeiro de 2026.
A Casas Bahia estima que o novo desenho financeiro pode gerar uma economia de cerca de R$ 1,7 bilhão em despesas financeiras entre 2026 e 2030. Quando se olha a economia total, considerando juros e amortizações ao longo do período, de aproximadamente R$ 4,5 bilhões em caixa.
No início de dezembro, a Casas Bahia comunicou ao mercado que havia fechado um acordo com o Itaú Unibanco para vender suas participações em operações financeiras, incluindo sua fatia na Financeira Itaú CBD (FIC) e no Investcred, duas estruturas que historicamente fomentavam crédito ao consumidor dentro do ecossistema da empresa.
A ação BHIA3 acumula valorização de 9,9% em 2025. O valor de mercado da rede varejista é de R$ 2,05 bilhões.