Um novo M&A deve fazer muita gente voltar a sorrir. A chinesa Angelalign anunciou nesta sexta-feira, 28 de outubro, a compra de 51% da operação da Aditek, fabricante brasileira de aparelhos ortodônticos e de alinhadores dentários. A transação movimentou US$ 19,4 milhões.

O acordo vinha sendo costurado há alguns meses. Com o deal, a companhia chinesa, listada na bolsa de Hong Kong e avaliada em cerca de US$ 1,6 bilhão, terá na Aditek o player local para oferecer seus próprios alinhadores.

“Este é o primeiro investimento deles fora da China e vai dar acesso ao mercado que tem o maior número de dentistas no mundo”, diz Eduardo Lopes, CEO da Aditek, ao NeoFeed. Ele seguirá no comando da operação. “A aposta deles é de que o mercado brasileiro vai seguir o rumo já tomado pela China neste segmento.”

Fundada em 2003 por Huamin Li, a Angelalign é uma das principais concorrentes da líder de mercado Align Technology, americana responsável pelos alinhadores da marca Invisalign, e avaliada em US$ 14,1 bilhões.

Antes de abrir capital, em junho do ano passado, a companhia chinesa captou pouco mais de US$ 23 milhões com investidores como Warburg Pincus e Orbi Med. O desempenho no mercado aberto vem sendo turbulento. Desde o IPO, as ações já cairam cerca de 78%.

Em 2021, a companhia reportou uma receita de 1,2 bilhão de yuans (US$ 165 milhões), o que representou um crescimento de 55,7%. Já no primeiro semestre de 2022, a receita foi de 570,9 milhões de yuans (US$ 78 milhões).

A Aditek, por sua vez, foi fundada em 1990, pelo casal de ortodontistas Alexandre e Dilza Lopes. A empresa passou mais de duas décadas operando com a fabricação de aparelhos ortodônticos. Em 2011, quando Eduardo, filho do casal, ingressou na operação, a companhia decidiu entrar no mercado de alinhadores.

Em 2019, já sob o comando de Eduardo, a Aditek passou a intensificar a operação dos alinhadores, que hoje representam 20% da receita e devem superar o patamar de 50% em 2023.

Os termos acordados no negócio especificam que, ao menos em um primeiro momento, a Aditek vai permanecer operando com sua própria marca e não vai parar de fabricar e oferecer seus próprios alinhadores, da marca Self. Os alinhadores produzidos pela Angelalign serão oferecidos como uma opção ao consumidor.

No longo prazo, outras mudanças que podem ser implementadas são o uso de tecnologias desenvolvidas pela Angelalign e a adoção de novos fornecedores dos componentes importados para a fabricação dos alinhadores. Um exemplo é o plástico usado nos alinhadores da Aditek, que hoje é importado de uma empresa alemã.

“Vamos ter esses recursos para ocupar um espaço maior nesse mercado”, diz Eduardo. De acordo com o executivo, o dinheiro será aplicado em investimentos em marketing, vendas e na finalização da construção da nova fábrica da empresa.

Localizada em Cravinhos, na região metropolitana de Ribeirão Preto, em São Paulo, a nova unidade já está em construção e deve começar a operar entre março e abril de 2023. Com investimento de cerca de R$ 30 milhões, a estrutura terá capacidade de produção até dez vezes maior do que a fábrica atual, que também está instalada no mesmo município.

A expectativa é de que o investimento fortaleça a companhia na competição com os aparelhos da marca Invisalign. No mundo, a empresa americana afirma já ter tratado mais de 12 milhões de pacientes.

Alinhadores da marca Self

Há ainda outras rivais, como as brasileiras SouSmile, que já captou quase US$ 29 milhões com investidores como Canary, Kaszek e Global Founders Capital; e Smilink, comprada em agosto do ano passado pelo grupo suíço Straumann, por um valor não revelado.

O mercado de alinhadores dentários transparentes vem crescendo em ritmo acelerado. Nos Estados Unidos, dados da consultoria Grand View Research apontam que o segmento deve passar de uma receita de US$ 2,6 bilhões, em 2020, para US$ 32,3 bilhões em 2030.

No Brasil, o mercado é mais enxuto. De acordo com Eduardo, menos de 10% dos casos ortodônticos por aqui são tratados com os alinhadores, enquanto nos Estados Unidos esse percentual está próximo de 30%.

O que atrapalha, em muitos casos, ainda é o preço. Dependendo da empresa escolhida, o tratamento, que tem um prazo de 6 a 18 meses, pode custar mais de R$ 12 mil.