Na contramão de muitos analistas, com alguns projetando um “longo inverno” para o Banco do Brasil (BB), o Citi está otimista com as perspectivas da estatal, avaliando que o pior já passou e que há uma assimetria de valuation a ser capturada nas ações.

Por isso, os analistas Gustavo Schroden, Brian Flores e Arnon Shirazi decidiram elevar a recomendação para as ações do BB, de neutro para compra. Eles também ajustaram o preço-alvo dos papéis de R$ 22 para R$ 29, valor que representa uma valorização de 32,2%.

“Nós vemos o terceiro trimestre, especialmente julho, como possivelmente o fundo em termos de [perda de] rentabilidade para o BB”, diz trecho do relatório. “Esperamos que o terceiro trimestre seja o pior em despesas com provisões, de R$ 16,4 bilhões, frente aos R$ 15,9 bilhões do segundo trimestre, e isso já parece precificado.”

Os analistas destacam que medidas do governo federal ajudam a mitigar o impacto da inadimplência na carteira de agro, “grande vilã” dos resultados do segundo trimestre.

Uma delas é a Medida Provisória (MP) anunciada no início do mês, que libera R$ 12 bilhões em recursos para renegociação de dívidas do agronegócio com os bancos. O texto prevê que instituições que aderirem ao programa poderão apurar crédito presumido para fins tributários, abrindo caminho para a melhora dos índices de capital.

Os analistas do BB destacam também a publicação da resolução 5.244 do Conselho Monetário Nacional (CMN), no fim de agosto, que permite a reclassificação antecipada de empréstimos de longo prazo fora do estágio três, que indica expectativa de perda integral do crédito. Isso pode ocorrer desde que o devedor demonstre capacidade de pagamento por pelo menos 90 dias antes da classificação.

Essas medidas são consideradas relevantes, dado o tamanho do problema enfrentado pelo BB. No segundo trimestre, a carteira de crédito do agronegócio totalizou R$ 365 bilhões, com cerca de 7% classificados na categoria três.

“Os programas do governo são bem-vindos não apenas pelo potencial benefício nos resultados, mas também pelo possível impacto em capital, especialmente para bancos com posição mais apertada que a média, como é o caso do BB”, diz o relatório.

Diante desse alívio, os analistas do Citi elevaram as projeções de lucro do BB para este ano e o próximo. A expectativa para o resultado na última linha do balanço em 2025 foi ajustada em 1%, para R$ 20,4 bilhões, enquanto para 2026 foi elevada em 17%, a R$ 29,4 bilhões — 9% acima do consenso — graças a um custo de risco mais normalizado.

A decisão do Citi destoa de outras casas. A XP Investimentos, o Santander e o Itaú BBA demonstram cautela com o BB, com recomendação neutra para as ações. Já o Bank of America (BofA) recomenda a venda dos papéis, devido a preocupações com a qualidade dos ativos.

As ações do BB encerraram o pregão desta quarta-feira, 17 de setembro, com queda de 0,32%, a R$ 21,87. No ano, os papéis acumulam baixa de 8,57%, levando o valor de mercado a R$ 124,8 bilhões.