Prestes a completar, em janeiro, dois anos à frente da BP, Murray Auchincloss decidiu deixar o comando da petroleira britânica. Como parte do processo de transição no cargo, o executivo de 55 anos vai atuar como consultor da empresa até dezembro de 2026.
A movimentação foi divulgada na quinta-feira, 18 de dezembro. A companhia anunciou Meg O’Neill como a substituta do executivo, a partir de 1º de abril de 2026. E informou que, até lá, Carol Howle, atual vice-presidente de suprimentos, trading e transporte marítimo, vai atuar como CEO interina.
“Após mais de três décadas na BP, chegou a hora de passar o bastão para um novo líder”, disse, em nota, Auchincloss. “Estou confiante de que a BP está bem posicionada para um crescimento significativo e aguardo com expectativa o progresso e o sucesso futuros da empresa sob a liderança de Meg.”
Já a nova CEO afirmou que "é uma honra assumir o cargo de CEO da empresa. Com um portfólio extraordinário de ativos, a BP tem um potencial significativo para restabelecer a liderança de mercado e aumentar o valor para os acionistas”.
A BP informou que a escolha de O’Neill foi resultado de um processo de seleção supervisionado por um comitê do seu conselho de administração. Em julho, Auchincloss havia comunicado sua decisão a Albert Manifold, que acabara de assumir a presidência do board.
No comunicado da mudança da liderança, Manifold afirmou que, após um processo abrangente de planejamento de sucessão, o conselho acredita que essa transição cria uma oportunidade para a BP acelerar sua visão estratégica de se tornar uma empresa mais simples, enxuta e lucrativa.
“Houve progresso nos últimos anos, mas é necessário maior rigor e diligência para implementar as mudanças transformadoras necessárias para maximizar o valor para nossos acionistas”, disse o presidente do colegiado.
Manifold também ressaltou o histórico comprovado de O’Neill na condução de transformações, crescimento e alocação de capital disciplinada, destacando que esse perfil torna a executiva a líder ideal para a companhia.
Antes de aceitar a nova posição, O’Neill cumpriu um roteiro de quase oito anos na Woodside Energy – os últimos três como CEO. A executiva também teve uma passagem de 23 anos na ExxonMobil, em diversas funções em países como Estados Unidos, Indonésia, Canadá e Noruega.
Quando assumir o posto, em abril de 2026, ela se tornará o quarto nome a comandar a BP em pouco mais de seis anos, incluindo nessa equação a interina Carol Howle, sua antecessora. Da mesma forma, algumas reviravoltas na estratégia ajudam a explicar essa dança das cadeiras na petroleira.
Quem iniciou essa contagem foi Bernard Looney. O executivo foi nomeado como CEO em fevereiro de 2020 e definiu como prioridade tornar a BP uma gigante da energia verde, o que se traduziu na meta de reduzir as emissões de carbono a zero até 2050 ou mesmo antes desse prazo.
Entretanto, Looney renunciou ao cargo em setembro de 2023, após uma série de polêmicas envolvendo relacionamentos pessoas anteriores com alguns de seus colegas de trabalho. Na época, a BP afirmou em comunicado que o executivo não era “totalmente transparente” sobre esse tema.
Antes disso, a tese encampada por Looney já vinha perdendo fôlego. Passada a pior fase da pandemia, os países retomaram o consumo de combustíveis fósseis e, nesse contexto, a companhia passou a reportar, trimestre a trimestre, resultados inferiores aos registrados por outras grandes petrolíferas.
Essa estratégia começou a ser recalculada justamente com a chegada de Auchincloss, em janeiro de 2024. E a volta das operações de petróleo e gás na lista de prioridades teve como um dos seus principais combustíveis a pressão exercida pelo fundo ativista Elliott Management.
Essa reviravolta da BP se materializou em metas como ampliar sua produção global de petróleo e gás para a faixa de 2,3 milhões a 2,5 milhões de barris por dia até 2030. E no plano de alcançar US$ 20 bilhões em desinvestimentos até 2027, boa parte deles, ligada à tese anterior de energia limpa.
Após alguns percursos acidentados, a BP vem mostrando reação no mercado de capitais. Suas ações recuavam 1,17% na Bolsa de Londres por volta das 16h (horário local) de quinta, 18. Mas têm alta de quase 8% no acumulado de 2025, dando à companhia um valor de mercado de £ 64,3 bilhões (aproximadamente R$ 474 bilhões).