Aliviada pela redução de parte significativa da dívida a partir da conversão de debêntures em ações, que transformou a Mapa Capital em controlador, a varejista Casas Bahia registrou seu sétimo trimestre seguido com crescimento no Ebitda. No segundo trimestre, a companhia registrou R$ 572 milhões no indicador, 26,5% acima do reportado no mesmo período de 2024.

Na receita líquida, a empresa alcançou R$ 6,9 bilhões no período, crescimento de 6% sobre a mesma base do ano anterior (R$ 6,5 bilhões). No GMV (volume bruto de mercadorias) consolidado, o crescimento entre abril e junho foi de 7,6%, atingindo R$ 10,5 bilhões.

Na comparação com as mesmas lojas, a evolução financeira no segundo trimestre foi de 6,7%. No GMV do canal físico, a alta foi de 5,8%, com receita de R$ 6,2 bilhões. No e-commerce, a alta foi de 10,4%, com total de R$ 4,16 bilhões.

“Esse é um trimestre muito importante para a gente porque marca a nossa consistência e confirma nossa entrega de melhoria de margens”, diz Renato Franklin, CEO da Casas Bahia, ao NeoFeed.

“Quando comparamos com os últimos dois anos, qualquer indicador financeiro é muito melhor do que era antes. A gente pretende melhorar um pouco mais até o fim do ano para chegar a 2026 com um ciclo de investimentos definido”, afirma.

Segundo o executivo, a base de crescimento da companhia está apoiada em três pilares, que são uma boa execução operacional, aumento no volume de crediário e uma melhor estrutura de capital.

Além de liberar mais recursos pelo modelo que projetou a empresa, principalmente nas classes de renda mais baixa, que é o antigo formato de carnê de financiamento, a inadimplência tem registrado queda. A carteira de crediário alcançou R$ 6,2 bilhões, alta de 11,3% ano sobre ano.

“Temos tido uma capacidade de concessão de crédito de uma forma conservadora, mas com disciplina. A gente optou em crescer com cautela. Na última Black Friday fizemos R$ 1 bilhão. E depois seguimos no ritmo de R$ 850 milhões de crédito”, afirma o executivo

Parte do crescimento no digital está ancorado na estratégia da empresa, adotada no fim de 2023, em mudar o perfil das vendas pela internet, sem comercializar produtos sem conexão com o core da empresa. Mas, por causa do estoque alto, esse movimento foi concluído no segundo trimestre do ano passado, o que permitiu uma comparação mais limpa.

“Não estamos aqui para vender fralda, azeite. Hoje, no nosso marketplace, estamos vendendo geladeira, telefones, notebooks e móveis. A despeito de toda essa movimentação nos canais generalistas, estamos crescendo 16% no marketplace”, afirma Franklin.

Ainda assim, a companhia segue com a estratégia de avançar nas lojas físicas, como o canal mais importante de vendas. Até porque, segundo o CEO, hoje o cliente adota uma postura omnichannel, com visitas às lojas para conhecer de perto o produto e, em muitos casos, fechando a compra pela internet.

“A prioridade é crescer na loja física, onde a empresa tem mais margem, principalmente pelo crediário. O online cresceu porque temos uma marca muito forte. E, para acelerar o físico, temos adotado muitas alavancas de CRM para os vendedores, com uma comunicação direta na nossa base de 116 milhões de clientes”, afirma o CEO.

No digital, a penetração do crediário no digital alcança quase 9%, enquanto na loja física esse volume é de 26%. Na linha branca das lojas, a companhia cresceu 1,6 ponto percentual em market share. No geral, a alta foi de 0,8 ponto percentual.

No volume de despesas, a varejista registrou queda de 2,1 pontos percentuais no segundo trimestre, atingindo patamar de 22,8%. Nesse sentido, a redução do SG&A foi de 2,9%, no caminho contrário da receita, que subiu. Isso também explica parte do avanço na margem Ebitda de 1,3 ponto percentual, chegando a 8,3%.

O desafio da companhia, no entanto, está nas despesas financeiras, fortemente impactadas pela taxa Selic de 15% ao ano. No segundo trimestre, a empresa reportou um prejuízo de R$ 555 milhões. “Nós temos consciência que isso precisa melhorar. Uma parte dessa recuperação virá da redução dos custos do risco sacado. Vamos fazer nossas transações para diminuir isso.”

Mas o executivo reconhece que ainda há uma trilha importante para mudar essa sinalização. A expectativa é que pelo menos nos próximos 12 meses a empresa ainda opere no prejuízo para, a partir daí, começar a capturar o resultado da redução de custos e de aumento da receita.

Novo controlador

Com a chegada de um novo controlador – a Mapa Capital, que converteu, no início de agosto, R$ 1,6 bilhão de dívidas em participação acionária de 85,5% –, a Casas Bahia conseguiu reduzir o volume de dívidas em 40%.

“Com isso, temos redução de custo de R$ 250 milhões com juros. Começamos a colher em agosto. Metade no terceiro trimestre e integral no quarto trimestre”, afirma Franklin.

“O resultado disso é que, com um quadro financeiro melhor, nosso rating de crédito melhorou bastante. Hoje, conseguimos linhas de crédito melhores do que as que já tomamos. Aos poucos, vamos trocando por linhas mais baratas”, complementa.

Ainda que esse movimento não esteja no balanço do segundo trimestre, a companhia deu uma projeção de como ficará a situação financeira com essa redução da dívida. Com isso, a alavancagem salta de 1,8 vez na relação dívida/Ebitda para 1,1 vez.

Com a chegada do novo controlador, o Conselho de Administração da Casas Bahia terá mudança. Dos atuais cinco membros, a empresa passará a ter sete. Desse total, três serão indicados pela Mapa Capital.

A tendência é que ocupem assento Fernando Beda e Paulo Silvestri, sócios da Mapa Capital. O terceiro será um executivo de mercado. Mas, para isso acontecer, a gestora precisa solicitar a realização de uma assembleia, o que deve acontecer ainda nesta semana.

“A Casas Bahia já era uma corporation. A Mapa está confiante e investindo porque acredita que a companhia está na direção certa. Eles confiam na direção da empresa”, diz o CEO.

O novo dono deve manter toda a direção executiva da Casas Bahia pelos próximos dois anos. “Eles têm muita experiência em banco e podem muito contribuir para a redução da alavancagem. São investidores financeiros com uma visão de longo prazo.”

No acumulado de 2025, as ações da Casas Bahia na B3 registram valorização de 4,58%. A companhia varejista está avaliada em R$ 1,9 bilhão.