Com as famosas reuniões das suas consultoras nas casas de clientes e a oferta de potes plásticos para armazenar alimentos, a Tupperware foi uma das pioneiras no modelo de vendas diretas e tornou-se sinônimo de uma categoria de produtos, chegando a valer quase US$ 5 bilhões.
Esses feitos não impediram, porém, que a companhia americana recorresse ao Chapter 11 da lei de proteção contra falências dos Estados Unidos, em setembro deste ano. E, agora, a empresa acaba de escrever um novo capítulo nesse processo, com cifras bem mais modestas do que o valor de mercado em seu auge.
A Tupperware entrou em um acordo para a venda das suas operações a um grupo de credores pelo valor total de US$ 86,5 milhões, colocando um ponto final nos planos de um leilão de seus ativos no mercado aberto, segundo a agência Reuters.
De acordo com os termos firmados com o consórcio de credores em uma audiência do tribunal de falências de Wilmington, no estado americano de Delaware, a transação envolverá o pagamento de US$ 23,5 milhões em dinheiro, além de um montante de US$ 63 milhões em dívidas.
No processo, o juiz de falências Brendan Shannon afirmou que agendaria rapidamente uma audiência separada para considerar a aprovação da venda, em função das “circunstâncias difíceis e desafiadoras” da companhia.
Com sede em Orlando, na Flórida, a Tupperware recorreu ao Chapter 11 da lei americana, o equivalente a uma recuperação judicial, com uma dívida total de US$ 818 milhões e o plano de encontrar um comprador para a sua operação no prazo de 30 dias.
Entretanto, uma parcela dos seus credores se manifestou contrária a uma venda da operação, ao reivindicarem o controle sobre os ativos. A empresa, por sua vez, argumentou que eles não deveriam ter permissão de impedir que outros credores se beneficiassem de um eventual acordo.
Os credores, um grupo que inclui nomes como Alden Global Capital e Stonehill Instutional Partners, responderam, então, que o leilão para a venda da empresa seria injusto, pois suas regras impediriam que eles usassem uma troca de dívida como parte da oferta pelas operações da companhia.
Com o acordo anunciado hoje, as duas partes chegam um meio termo, já que os credores poderão usar o cancelamento da dívida como parte da aquisição. Em contrapartida, eles terão a obrigação de injetar recursos para que a Tupperware pague outras dívidas.
Quando recorreu ao Chapter 11, o grupo ressaltou que sua posição financeira foi bastante impactada pelo ambiente macroeconômico. A empresa fez, no entanto, um mea culpa, ao observar que confiou demais no modelo de vendas diretas e perdeu oportunidades nas vendas online e no varejo físico.
Em março deste ano, na esteira desse cenário e sob a alegação de problemas internos, a Tupperware chegou a atrasar a divulgação do seu balanço de 2023. Já em junho, a empresa anunciou que fecharia sua única fábrica nos Estados Unidos e a demissão de cerca de 150 funcionários.
No trimestre encerrado em setembro de 2023, a companhia reportou um prejuízo líquido de US$ 55,8 milhões e uma queda de 14% em sua receita, para US$ 259,6 milhões.
Com a entrada no Chapter 11, a Tupperware teve as negociações de suas ações na Bolsa de Nova York suspensas. Até então, os papéis registravam uma desvalorização de aproximadamente 75% em 2024.