Em meio às discussões sobre os efeitos das tarifas de importação sobre a inflação e a economia dos Estados Unidos, o Walmart alertou na quinta-feira, 21 de agosto, que as taxas impostas pelo governo sobre produtos estrangeiros terão efeitos negativos sobre seus custos e suas margens.
Segundo os executivos da maior varejista do mundo, a companhia está tentando segurar os preços dos produtos importados, evitando repassar os custos das tarifas do presidente Donald Trump aos consumidores.
Mas a escalada de custos ocorre no momento em que a companhia começa a formar estoques, com a proximidade de datas comemorativas, como o Dia de Ação de Graças, que cai no final de novembro, fazendo com que a companhia tenha de arcar com os custos para manter os preços baixos.
“Do jeito que as coisas ocorreram até agora, o impacto das tarifas tem sido gradual o suficiente para que quaisquer ajustes comportamentais dos consumidores sejam, de certa forma, atenuados”, disse Doug McMillon, presidente-executivo do Walmart, a analistas na teleconferência que tratou dos resultados do segundo trimestre do ano fiscal de 2026, encerrado em 31 de julho, segundo relato do Financial Times.
“Mas, à medida que reabastecemos o estoque a níveis de preços pós-tarifas, continuamos a ver nossos custos aumentarem a cada semana, o que esperamos que continue no terceiro e quarto trimestres”, complementou.
Cerca de um terço do portfólio do Walmart é composto por artigos importados de países como China, México, Vietnã e Índia, alguns dos mais afetados pelas tarifas de Trump.
O alerta do Walmart veio no momento em que economistas e analistas buscam pistas nos balanços sobre se e como as tarifas de importação podem pesar sobre a inflação e o que isso significa para a taxa de juros dos Estados Unidos, atualmente entre 4,25% e 4,5%.
A expectativa é de que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, traga um pouco mais de clareza sobre o tema nesta sexta-feira, 22 de agosto, em seu discurso no simpósio de Jackson Hole. Em pé de guerra com o responsável pela política monetária dos Estados Unidos, Trump afirma que as tarifas não são inflacionárias.
Mas declarações dos executivos do Walmart caminham na direção contrária às convicções do presidente. Em maio, eles já haviam dito que seria necessário elevar os preços de alguns produtos para compensar os efeitos das tarifas, comentário criticado na ocasião por Trump.
Os resultados do segundo trimestre mostram que o Walmart começou a ajustar os preços. A inflação média nas cerca de 4,6 mil lojas da varejista nos Estados Unidos, conhecida pelos preços mais competitivos, foi de 1,1% no período, em base anual. Foi mais que o dobro do registrado no trimestre anterior.
Na teleconferência, McMillon disse que, embora não tenha visto mudanças dramáticas no comportamento dos consumidores por conta das tarifas, “não surpreendentemente, vemos mais ajustes entre os consumidores de renda média e baixa do que entre os consumidores de alta renda”.
Ele afirmou que as vendas caíram nas “categorias discricionárias em que os preços subiram”. Em alguns casos, os consumidores trocaram quais produtos ou marcas compram.
O Walmart elevou o guidance para as vendas neste ano fiscal, de uma alta de 3% a 4% para um avanço entre 3,75% e 4,75%, diante do ainda forte fluxo de consumidores em suas lojas. Já a projeção para o lucro operacional ajustado foi mantida, prevendo um aumento de 3,5% a 5,5%.
Já o resultado do segundo trimestre foi considerado decepcionante pelo mercado, fazendo as ações fecharem o dia com queda de 4,49%, a US$ 97,96. A frustração veio com o lucro por ação ajustado de US$ 0,68, abaixo da média das expectativas de Wall Street, de US$ 0,74.
No ano, as ações do Walmart acumulam alta de 8,84%, levando o valor de mercado a US$ 781,7 bilhões.