Desde o ano passado, quando um pacote de escândalos colocou a solvência de sua operação em xeque, o Credit Suisse cumpre uma trajetória tortuosa que vem se refletindo na derrocada na cotação de suas ações.
Nesta quarta-feira, 15 de março, essa trilha descendente atingiu seu ponto mais baixo. Os papéis do banco suíço despencaram quase 30%, alcançando sua mínima histórica. Por conta disso, tiveram sua negociação interrompida quando chegaram ao patamar de 1,73 francos suíços. Em 2023, as ações acumulam uma desvalorização de mais de 38%.
O estopim para a nova e intensa queda foram declarações dadas por Ammar Al Khudariy, presidente do Saudi National Bank, instituição que comprou uma fatia de 10% no Credit Suisse em outubro de 2022, como parte do plano de resgate e recuperação da operação.
Em entrevista à Bloomberg TV, quando questionado sobre um eventual pedido de liquidez adicional, o executivo descartou qualquer possibilidade de o banco injetar novos recursos e fornecer mais assistência para financiar a recuperação do Credit Suisse.
“A resposta é absolutamente não, por muitas razões, além da mais simples que é regulatória e estatutária. Não podemos porque chegaríamos a mais de 10% de participação”, afirmou o executivo, deixando claro que a fonte secou.
Já o presidente do Credit Suisse, Axel Lehmann, disse durante uma conferência de finanças na Arábia Saudita, que o banco tem “fortes índices de capital e um forte balanço patrimonial”, além de ressaltar que a empresa está executando uma reestruturação radical para estancar anos de escândalos e perdas.
Apesar da tentativa de acalmar os ânimos, outros componentes contribuíram para aquecer esse caldeirão. Na terça-feira, 14 de março, o Credit Suisse informou que a PwC identificou “fragilidades materiais” em seus relatórios financeiros dos últimos dois anos.
Na semana anterior, a empresa já tinha sido obrigada a adiar a publicação do seu relatório anual de 2022 depois de a Securities and Exchange Commission (SEC) solicitar mais clareza sobre as falhas nos controles internos da operação, identificadas pela PwC.
Como consequência desses episódios e, em particular, do novo capítulo que veio à tona nesta quarta-feira, os spreads dos swaps de inadimplência de crédito de cinco anos do banco – que sinalizam o pessimismo dos investidores – chegaram hoje a 565 pontos-base, contra 350 pontos-base no início do mês.
Ao mesmo tempo, esse contexto trouxe reflexos para o mercado, que dava sinais de recuperação após o colapso do Silicon Valley Bank. Na esteira dos problemas do Credit Suisse, diversos bancos viram a cotação de suas ações recuar.
Na Bolsa de Paris, os papéis do BNP Paribas e do Sociéte Générale, por exemplo, operavam com quedas, respectivamente, de 11,09% e de 12,4% por volta das 14h (horário local). Já as ações do Deutsche Bank registravam um recuo de 8,5% nesta manhã.
Já no índice Stoxx Europe 600 Banks, que acompanha os grandes bancos europeus, a retração era de 7,02%. Segundo a agência Bloomberg, o valor de mercado combinado perdido pelas instituições europeias superou a casa de mais de US$ 60 bilhões nesta quarta-feira.
Na Bolsa de Nova York, por sua vez, as ações do Bank of America registraram queda superior a 3% no pre-market. Em linha com esse movimento, os papéis do Wells Fargo e do Citigroup caem, respectivamente, 4,5% e 4,1%.