O calvário que o IRB Brasil vive desde 2020 parece não ter fim à vista. Apesar do follow on de R$ 1,2 bilhão feito no início de setembro ter ajudado a empresa, ela ainda enfrentará problemas operacionais.

E, para piorar, a resseguradora terá de avançar em sua reestruturação em meio à deterioração das condições econômicas. Diante desse cenário, os analistas do Credit Suisse avaliam que dificilmente o IRB conseguirá recuperar sua lucratividade no ano que vem, como esperavam anteriormente.

Levando isso em consideração, e incorporando uma taxa de desconto maior no valuation, os analistas Marcel Telles e Daniel Vaz decidiram cortar o preço-alvo das ações do IRB de R$ 3,35 para R$ 0,70, mantendo a recomendação de venda. O banco também anunciou que deixará de acompanhar o IRB, alegando que a decisão foi tomada em meio à “realocação de recursos”. 

“Apesar dos esforços que a diretoria vem fazendo, ainda vemos um cenário desafiador para o principal negócio do IRB, com espaço limitado para crescimento ou até para absorver potenciais novos prejuízos, enquanto cumpre com as obrigações regulatórias”, diz trecho do relatório. 

Segundo os analistas, os resultados do IRB estão sob pressão por uma combinação de diversos fatores, resultando numa intensa saída de recursos do caixa da companhia. 

No terceiro trimestre, o caixa consumido pelas operações totalizou R$ 789,5 milhões, um aumento em relação aos R$ 476 milhões apurados no segundo trimestre. O prejuízo somou R$ 155,7 milhões, uma reversão do lucro registrado no terceiro trimestre de 2021.

No balanço relativo ao período julho a setembro, o IRB relatou um momento desafiador para a empresa e o setor de resseguros, diante da aceleração da inflação global e a alta dos juros, a guerra na Ucrânia, a pandemia, além de catástrofes naturais, o que aumentou o nível de sinistros. 

Existe uma expectativa dentro da companhia de que uma retomada da economia estimule investimentos em projetos de infraestrutura, elevando a demanda por seguro garantia, riscos patrimoniais e de responsabilidade civil. Mas as dúvidas com relação a 2023 levaram os analistas do Credit Suisse a revisarem as expectativas para o resultado da companhia. 

Os analistas esperam agora que o IRB feche este ano com um prejuízo líquido de R$ 764 milhões e uma perda de R$ 113 milhões em 2023. Antes, a expectativa era de prejuízo de R$ 226 milhões em 2022 e lucro de R$ 226 milhões em 2023. 

As expectativas do Credit Suisse se somam ao fluxo de notícias negativas que a companhia vem acumulando há dois anos, quando uma carta da gestora Squadra expôs uma série de inconsistências no balanço da companhia.

O episódio foi agravado com a veiculação de que a gestora Berkshire Hathaway, do bilionário Warren Buffett, havia comprado uma participação na companhia, o que foi desmentido posteriormente. 

À época, a cotação das ações do IRB despencou. Negociado a R$ 41,43 em 31 de janeiro de 2020, o papel passou a valer R$ 6,47 em apenas dois meses. O cenário ganhou contornos ainda mais críticos com a descoberta de práticas da gestão anterior, que encobriu sinistros e inflou os resultados da empresa. 

Desde então, o IRB vem trabalhando para recuperar sua credibilidade, mas vem sofrendo para se recolocar de pé, por conta de um ambiente operacional tumultuado e a desconfiança dos investidores. 

Em novembro, a companhia anunciou que Raphael de Carvalho renunciou ao cargo de CEO, pouco mais de um ano de sua posse. Sua saída ocorreu após uma sequência de prejuízos, tendo tido apenas um trimestre de lucro, nos primeiros três meses do ano. 

Por volta das 13h02, as ações do IRB subiam 5,19%, a R$ 0,81. No ano, elas acumulam queda de 79,8%, levando o valor de mercado a alcançar R$ 1,9 bilhão.