A Eletrobras comunicou ontem à noite, 24 de janeiro, que o executivo Wilson Ferreira Junior estava deixando a presidência da estatal de energia por motivos pessoais.
Mas a saída Ferreira Junior tem a ver com outro motivo. Ele foi contratado para assumir o comando da BR Distribuidora, que foi privatizada há dois anos, substituindo a Rafael Grisolia. A informação foi publicada em primeira mão pela coluna de Lauro Jardim, de O Globo.
A chegada de Ferreira Junior à BR Distribuidora aguarda decisão da Comissão de Ética Pública, do governo federal. Como a Eletrobras é uma estatal, o executivo precisa saber se terá de cumprir um período de quarentena antes de assumir o comando da distribuidora de combustível.
Se não for obrigado a cumprir uma quarentena, Ferreira Junior assume a BR Distribuidora no dia 6 de março, um dia depois de deixar a Eletrobras. Grisolia está deixando o comando da empresa nesta semana e não assumirá uma vaga no conselho de administração. Enquanto isso, a BR Distribuidora será comandada interinamente por Marcelo Bragança, que atua atualmente como diretor-executivo de operações e logística.
Na BR Distribuidora, a principal missão de Ferreira Junior é preparar a companhia para a transição energética de combustíveis fósseis para fontes renováveis, que já está em curso. “Ele foi contratado por sua visão de longo prazo e por sua experiência no setor de energia”, diz uma fonte. “Será fundamental para o futuro da empresa.” Além da Eletrobras, Ferreira Junior foi também presidente do grupo CPFL.
Outra fonte diz que a BR Distribuidora buscava um CEO que "já tivesse participado de processos de turnarounds para trazer mais confiança ao mercado".
Como CEO da BR Distribuidora, Ferreira Junior deve ajudar também a destravar o valor de mercado da companhia e assim ajudar na venda da fatia de 37,5% que a Petrobras ainda mantém na distribuidora de combustível. Isso não aconteceu por conta da desvalorização das ações da BR Distribuidora. Nos últimos 12 meses, os papéis acumulam queda de 29,3% na B3.
“A venda da parcela restante da Petrobras na BR tira aquele risco de cauda. Enquanto estatal, a Petrobras tem 37% da BR e o mercado vê que alguma mudança na Petrobras ou no governo afete indiretamente a BR. Quando a Petrobras toma a decisão de vender, você tira esse risco de cauda”, disse Grisolia, em entrevista ao NeoFeed, em dezembro do ano passado, sobre o fato de a saída da Petrobras destravar o valor da BR Distribuidora.
E prosseguiu. “Aquele investidor que não comprou o papel da BR nem no IPO em 2017 e nem na privatização por ter esse medo, ele não terá isso e, além disso, verá uma evolução de tudo o que construímos desde a privatização. Acho que tem um potencial, sim, de criação de valor importante.”
Ferreira Junior ficou quatro anos à frente da Eletrobras, tendo assumido a empresa no governo Temer em 2016, e se manteve no cargo durante a gestão de Bolsonaro.
“Conduzimos o maior programa de reestruturação de uma estatal. Reduzimos quadro de funcionários, melhoramos governança, companhia foi profissionalizada. Somente nos últimos três anos tivemos mais de R$ 30 bilhões de lucro. Reduzimos a alavancagem da companhia, concluímos obras, mas ainda há alguns desafios importantes, no sentido de retomar investimentos”, afirmou Ferreira Junior, em teleconferência com investidores na tarde de segunga-feira.
Ferreira Junior comandou a estatal de energia com o objetivo de preparar a empresa à privatização, o que nunca aconteceu. O mercado atribuiu a saída de Ferreira Junior ao fato de que à venda da estatal estar praticamente enterrada na gestão Bolsonaro. “A pandemia atrapalhou o andamento da privatização, havia perspectiva de retomada no segundo semestre de 2020, mas não se materializou", disse o executivo.
As ADRS da Eletrobras, comercializadas em Nova York, chegaram a cair mais de 11% por conta da notícia da saída de Ferreira Junior do comanda da estatal – a B3 está fechada nesta segunda-feira, em razão de feriado em São Paulo. No fim do pregão, a desvalorização foi de 5,58%.
(Reportagem atualizada com informações da teleconferência de Ferreira Junior com investidores e com o fechamento das ADRs da Eletrobras em Nova York)