Em meio à derrocada das 123 Milhas, que se viu obrigada a entrar com um pedido de recuperação judicial na terça-feira, 29 de agosto, a CVC vai aproveitando para ganhar terreno na B3, com as ações registrando forte alta pelo segundo dia consecutivo.
Depois de fechar o pregão de ontem com ganho de mais de 6%, os papéis da maior agência de turismo do País fecharam a quarta-feira, 30 de agosto, com alta de 17,09%, a R$ 2,74, maior avanço desde 6 de março deste ano. Apesar da forte pressão compradora, a ação da CVC acumula perda de 39% no ano (o valor de mercado da empresa é de R$ 648,7 milhões).
A CVC tem se beneficiado da leitura de analistas e investidores de que os problemas da 123 Milhas representam um alento competitivo para a empresa. A expectativa é de que o mesmo pode ocorrer com outras companhias que utilizam o modelo de intermediação de compra e venda de serviços de viagens por meio de milhas aéreas.
“A CVC é bastante intensa na competição entre as agências de turismo online, com preços significativamente menores”, diz Lucas Rietjens, analista da Guide Investimentos, em nota. “Diante do pedido de recuperação judicial da 123 Milhas, a CVC deve se beneficiar da redução da competitividade, inclusive, conseguindo capturar uma porção do market share da 123 Milhas.”
Mas se a saída de cena da 123 Milhas ajuda a amansar o cenário competitivo, analistas destacam que sobra lição de casa para a CVC, que ao longo dos últimos anos passa por dificuldades e tenta reestruturar suas operações.
Desde 2018, a companhia aparece no noticiário com manchetes negativas, desde a saída de seu fundador, Guilherme Paulus, em meio a uma investigação da Polícia Federal sobre supostas irregularidades cometidas por auditores da Receita Federal e empresários, até “erros contábeis” identificados em 2020, que alcançaram R$ 350 milhões, o que chegou a paralisar as operações por conta da pandemia de Covid-19.
O resultado foi uma enorme perda de valor. As ações da CVC, que começaram 2018 em R$ 49,42, recuaram para a casa dos R$ 30 no começo da pandemia, em fevereiro de 2020, chegando à casa dos R$ 4 no começo deste ano.
O caminho para retomar o patamar anterior é longo, considerando o recente desempenho. No segundo trimestre, o prejuízo aumentou 76% em relação ao mesmo período de 2022, para R$ 167 milhões. A receita ficou praticamente estável, em R$ 269,4 milhões, enquanto o Ebitda ajustado ficando negativo em R$ 14,9 milhões, uma melhora de 4% em base anual.
“Quando olhamos para a CVC, a gente esperava que a companhia se recuperasse mais rápido, voltando ao patamar pré-pandemia com o fim das restrições de circulação, mas foi passando o tempo, o mundo se normalizou, mas a companhia não se recuperou”, diz José Eduardo Daronco, analista da Suno Research.
Arrumar a casa é imperativo para que a CVC possa aproveitar a turbulência enfrentada pela 123 Milhas, segundo o analista. Os primeiros passos foram dados no lado financeiro, com um follow on de R$ 550 milhões em junho, com os recursos utilizados para recomprar duas emissões de debêntures e reforçar o capital de giro e melhorar sua estrutura de capital. A dívida líquida fechou o segundo trimestre em R$ 245,7 milhões, contra os R$ 616,3 milhões do primeiro trimestre.
A expectativa agora é ver os resultados dos ajustes sendo feitos no lado operacional, com a administração da CVC afirmando que vai focar esforços para vender produtos com rentabilidade maior e com menor necessidade de capital de giro, como pacotes em cruzeiros. Ela também informou que pretende retomar a inauguração de lojas, alinhando a rentabilidade de franqueador e franqueados.
Para Daronco, as medidas anunciadas vão no caminho certo, mas ele entende que a companhia precisa avançar mais na parte digital, lembrando que o público está cada vez mais acostumado a fazer compras de passagens e reservas de hotéis pela internet. “A demanda está voltando, mas uma parte dela foi para o digital, e ela não quer ir para lojas físicas”, diz o especialista.