O banqueiro Ricardo Lacerda, presidente do banco de investimentos BR Partners, nunca ficou em cima do muro. Neste ano, tornou público o seu voto em Jair Bolsonaro no segundo turno, alegando que o governo tem um viés de reformas e essa é uma das razões para ter “maior convergência com o atual governo”.
Ao mesmo tempo, Lacerda se desfiliou do Partido Novo em solidariedade a João Amoêdo, fundador da sigla, que declarou voto em Luiz Inácio Lula da Silvano no segundo turno. “Discordo da decisão de João Amoêdo de votar em Lula. Mas foi uma decisão corajosa, fundamentada e estritamente pessoal”, escreveu no Twitter.
Questionado pelo NeoFeed qual Lula deve governar, o do primeiro mandato ou o do segundo, Lacerda foi mais uma vez direto. “Não está claro. Lula fez campanha em cima dos absurdos cometidos na era Bolsonaro, sem se comprometer com muita coisa. Conseguiu manter a máxima opcionalidade e creio que evitará maiores compromissos até a posse”, disse ele.
Em sua visão, Lula indicou que colocará um político à frente da economia, o que ele não considera má ideia. Cita Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin e Tasso Jereissati como nomes que agradariam muito o mercado. “Mas há também bons nomes no PT, como Jorge Vianna e Rui Costa”, diz Lacerda.
O presidente do BR Partners, no entanto, acredita que não haja espaço para boas surpresas como as vistas em 2022 no âmbito fiscal. Mas pede: “A sociedade não aguenta mais o ônus desse estado gigante e ineficiente”, afirma Lacerda.
Na entrevista que você lê a seguir, Lacerda fala sobre o que considera essencial para o país crescer de forma consistente e o que precisa ser feito para evitar o toma lá, dá cá. Confira:
O que esperar do terceiro mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva? Em sua opinião, ele deve mais o Lula do primeiro mandato ou o Lula do segundo mandato?
Não está claro. Lula fez campanha em cima dos absurdos cometidos na era Bolsonaro, sem se comprometer com muita coisa. Conseguiu manter a máxima opcionalidade e creio que evitará maiores compromissos até a posse. A indicação de Aloizio Mercadante para coordenar a transição econômica é um péssimo começo. Trata-se de um nome que simboliza o que houve de pior no governo Dilma.
Muito tem se especulado sobre quem seria o ministro da Fazenda ou da Economia de Lula. Mas antes de especular nomes, qual o perfil que você gostaria de ver à frente da economia brasileira?
O presidente eleito já deixou claro que quer um político à frente da Economia. Não é uma má ideia, dado que precisamos urgentemente de reformas. O importante é ter técnicos competentes no segundo escalão. Em termos de nomes, Meirelles, Alckmin ou Tasso Jereissati agradariam muito o mercado. Mas há também bons nomes no PT, como Jorge Vianna e Rui Costa.
"Em termos de nomes, Meirelles, Alckmin ou Tasso Jereissati agradariam muito o mercado. Mas há também bons nomes no PT, como Jorge Vianna e Rui Costa"
Não há um dado sobre o rombo fiscal em 2023 – os números variam de mais de R$ 100 bilhões até R$ 400 bilhões. O aumento da carga tributária é inevitável e como isso pode afetar as empresas?
Não vejo tanto espaço para boas surpresas como as vistas em 2022 no âmbito fiscal. Dado o aumento de juros e gastos e a desaceleração do crescimento, o rombo tende a ficar no topo dessa faixa. Espero que haja um plano sem aumento de impostos. Não há mais espaço para onerar quem produz riqueza nesse país.
Fale-se muito de reformas como essenciais para o Brasil crescer. Qual delas você considera a mais essencial?
A tributária, sem dúvida alguma. O viés da sociedade e do Congresso é por reformas, algo que o PT sempre foi contra. Seria importante conciliar essa agenda para o país avançar. Depois da tributária, vejo as reformas administrativa e política como as mais importantes.
O que em sua visão precisa ser feito para destravar o crescimento do Brasil?
Reduzir o tamanho do estado e o ônus em cima de quem produz, trabalha e consome. O governo Bolsonaro, através do Paulo Guedes, enxergou isso e fez grandes avanços. O governo eleito infelizmente tem o viés oposto, mas Lula é muito hábil. Seria importante ele reconhecer que foi eleito por uma maioria não aderente ao programa do PT. A sociedade não aguenta mais o ônus desse estado gigante e ineficiente.
É possível Lula governar com um Congresso de oposição? O que fazer para não cair no toma lá, dá cá?
O único caminho na democracia é colocar propostas claras, que venham de encontro aos anseios da sociedade. Há que se criar uma dinâmica construtiva de pressão em cima dos parlamentares. Todos já vimos no que dá mensalão, petrolão ou orçamento secreto. O eleitor não é bobo e está de olho nisso tudo.