Em quase três décadas de Porto - ele completou 29 anos no grupo neste mês -, o executivo Lene Araújo tem passagens por diversas áreas da companhia. Além do jurídico, sua porta de entrada na empresa, tal trajetória inclui a direção de setores como operações, sinistros, RH e tecnologia.
Agora, aos 51 anos, ele está acrescentando um novo cargo a esse extenso currículo. Na quarta-feira, 6 de dezembro, durante o Investor Day do grupo, ele será anunciado como CEO da Porto Serviço, operação que também será lançada oficialmente no evento.
Em conexão com a bagagem acumulada por Araújo, o escopo da Porto Serviço também é diverso. E, muito além do negócio tradicional de seguros da Porto, envolve desde eletricistas, encanadores e help desk, para empresas e consumidores, até serviços de recolocação profissional e orientação financeira.
“Nós tentamos, mas é até difícil dimensionar o tamanho do mercado potencial”, diz Araújo, em entrevista exclusiva ao NeoFeed. “A única certeza é que os números são superlativos e que temos uma oportunidade gigantesca tanto com clientes tradicionais da Porto como fora desse ecossistema.”
Com esse viés, a criação da Porto Serviço também está alinhada a um movimento mais amplo. Em abril de 2022, a Porto anunciou um rebranding e a reorganização de seus negócios, a princípio, em três verticais: seguros, bank e saúde. Todas elas com maior autonomia para tocarem suas operações.
A Porto Serviço reforçou esse pacote um mês depois, a partir da aquisição – por um valor não revelado -da CDF e da junção de seus ativos, em um único CNPJ, com parte do portfólio ofertado na Porto, por meio da Porto Assistência, com serviços como resgate com guincho, cargas de bateria e trocas de pneu.
Fundada em 2003, a CDF construiu, ao longo do tempo, uma plataforma com um volume acumulado de 6 milhões de serviços prestados. E, além de trazer serviços presenciais e remotos para o novo braço da Porto, abriu as portas para parcerias com empresas de setores como o varejo, finanças e telecom.
Desde a aquisição, Araújo e seus pares trabalharam nos bastidores para integrar a operação, algo que não foi trivial. “O aspecto operacional é fundamental nesse negócio. Precisávamos estruturar todas essas pontas e alcançar um universo mais abrangente no dia a dia das pessoas e das empresas”, diz ele.
O passo mais recente desse esforço interno veio à tona para o mercado em agosto deste ano, com o anúncio da aquisição da Unigás, empresa de instalação e assistência técnica de sistemas de aquecimento, gás natural e gás liquefeito de petróleo, com atuação em Campinas (SP) e região.
Em campo
Com boa parte do processo de integração concluída, a Porto Serviço dá a partida oficial em sua operação com uma estrutura de mil funcionários 100% dedicados à sua operação, além de 13 mil prestadores de serviços.
Hoje, além das ofertas já citadas, esse batalhão vai a campo com serviços como instalação, suporte e reparos de linha branca, TVs, computadores, móveis e afins; manutenção de ar-condicionado; vidraçaria; limpeza de sofás; descarte de eletrônicos; e chaveiros para casas e autos, entre outros.
A partir desse modelo, o foco inicial será nos investimentos para a construção da marca e a comunicação de toda essa gama de serviços. Entre outros canais, eles poderão ser contratados pelo Hub de Vendas, plataforma em desenvolvimento e que vai reunir todas as ofertas no guarda-chuva da Porto.
Aqui, no entanto, outro exército, essencial no negócio tradicional da holding, também será acessado: o canal de corretores independentes, que, atualmente, compreende cerca de 35 mil profissionais.
A montagem e a indicação de combos de ofertas é mais uma das estratégias que serão adotadas já nesse primeiro momento. Em particular, para dar impulso às vendas dentro da lógica de serviços recorrentes e preventivos. Sem deixar de lado a abordagem adicional de serviços emergenciais.
“Nós fizemos algumas pesquisas e, pelas ondas de calor recentes, percebemos uma demanda gigante pela manutenção de ar condicionado”, diz Araújo. “Então, vamos juntar essa oferta com serviços como limpeza de aquecedor a gás e parcelar em dez vezes. Esse será o primeiro combo.”
Se o menu de serviços é extenso, as abordagens para atender os diversos segmentos e os caminhos para alcançá-los também não estarão restritos a uma única opção. No caso do B2C, uma das principais vias será explorar as vendas cruzadas junto aos mais de 15 milhões de clientes no ecossistema da Porto.
Já no plano das empresas, um relacionamento que foi fortalecido a partir da associação com a CDF, são dois os trajetos para encurtar essa jornada, com um ponto de partida em comum: as parcerias com empresas de outros segmentos, como varejistas, montadoras e operadoras de telecom.
Em uma primeira alternativa, que inclui um atalho em direção aos consumidores finais, a Porto Serviço opera como um white label, ao ofertar o serviço – uma instalação de móveis, por exemplo -, com a bandeira do parceiro.
Num segundo modelo, o serviço é vendido no canal do parceiro, mas com a marca da Porto Serviço. Hoje, são oito parcerias nos dois formatos, com um universo potencial de 6 milhões de clientes. E a busca por ampliar esse volume de acordos é uma das prioridades para escalar a nova empresa.
“Além das parcerias, algo que devemos buscar são outras aquisições”, diz Araújo, deixando claro que essa alternativa não se esgotará na incorporação da Unigás. “Essa tese pode incluir desde ganho de participação de mercado como a expansão para outros segmentos em que ainda não atuamos.”
Apesar de estar nascendo oficialmente agora para o mercado, a Porto Serviço já acumulou números durante a sua gestação que dão uma dimensão do seu potencial. No acumulado de janeiro a setembro de 2023, a operação prestou mais de 3,7 milhões de serviços
No terceiro trimestre, as receitas com serviços alcançaram a cifra de R$ 197,6 milhões, alta de 33,6% sobre igual período, em 2022, quando a empresa ainda estava sendo estruturada. Entre julho e setembro desse ano, a receita total do grupo Porto cresceu 13,3%, para R$ 8,3 bilhões.
Araújo observa que a Porto Serviço está só começando e que ainda é prematuro estimar qual pode ser sua fatia dentro do bolo total da Porto. Ele traz, porém, um outro indicador para a mesa para ressaltar como as perspectivas são positivas nessa largada.
“Em janeiro, a Porto Serviço já começa operando no breakeven” observa. “E talvez sejamos uma das poucas operações com essa capilaridade de presença e de serviços para avançar em um mercado que, até o momento, não foi capturado adequadamente.”
Em relatório recente, o BTG Pactual destacou, entre outros pontos, o foco da Porto Serviço no processo de captura de sinergias a partir da integração com a CDF. Além de frisar justamente a perspectiva de alcançar, em breve, um ponto de equilíbrio no novo negócio.
“A subsidiária deve atingir o breakeven até o fim de 2023 e pode contribuir no lucro por ação da Porto no próximo ano”, escreveram os analistas Thiago Paura, Eduardo Rosman e Ricardo Buchpiguel, que reiteraram a recomendação de compra e o preço-alvo de R$ 32,50 para a ação da Porto.
Os papéis do grupo encerraram o pregão da terça-feira, 5 de dezembro, cotados em R$ 28,80, alta de 0,35%. A Porto está avaliada em R$ 18,4 bilhões e suas ações acumulam uma valorização de 24,4% em 2023.