Em maio deste ano, quando vendeu o Orlando City, clube da liga americana de futebol, Flávio Augusto da Silva decidiu que era o momento de se dedicar 100% aos negócios em outro campo, no qual fez seu nome no mercado: a educação, por meio da Wiser, holding fundada por ele em 1994.
Dono de marcas como Wise Up, Number One e Meu Sucesso, o grupo vinha preparando o terreno para uma série de aquisições desde o início de 2021. Essa estratégia começou a render frutos em junho, com a compra de uma participação minoritária na Conquer, escola de negócios voltada à nova economia.
Agora, a Wiser está dando o segundo passo nessa arena. A empresa antecipou com exclusividade ao NeoFeed a aquisição de uma fatia na Aprova Total, edtech dona de uma plataforma de cursos preparatórios para vestibulares e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Pelos termos do acordo, cujo valor não foi revelado, o aporte envolve a compra de uma participação relevante – entre 20% e 40%. E, nos mesmos moldes do que foi feito com a Conquer, o contrato prevê a possibilidade da aquisição de 100% da operação, em um prazo estimado de três anos.
“Nosso plano é tornar a Wiser um hub de edtechs, com negócios focados em melhorar a empregabilidade das pessoas”, diz Silva, em entrevista ao NeoFeed. “E, nesse contexto, já vínhamos olhando para os cursos preparatórios na internet, que são uma parte essencial dessa estratégia.”
As conversas com a Aprova Total tiveram início em abril, quando a empresa se destacou entre os ativos mapeados pela holding nesse espaço. O posicionamento, a plataforma e, em particular, o fato de a empresa ter sido uma das pioneiras nesse modelo chamaram a atenção da Wiser.
“Já tínhamos sido procurados por outros investidores e a ideia não era fechar um acordo nesse ano”, afirma Paulo Jubilut, fundador da Aprova Total, que permanecerá à frente da operação. “Mas tivemos um crescimento acelerado e começou a ficar muito mais complexo para tocarmos sozinhos o negócio.”
Professor de biologia, Jubilut criou a empresa em 2011, com o nome de Biologia Total, a partir de aulas ministradas no YouTube. Com o tempo, a plataforma ganhou novas disciplinas até que, em dezembro de 2020, foi rebatizada, depois de cobrir todo o conteúdo exigido no Enem e em vestibulares.
Desde a sua fundação, a edtech também estruturou um modelo baseado em cursos online, acessados por meio de uma plataforma própria. Além das videoaulas, o aluno conta com apostilas, exercícios, simulados e um cronograma do que deve estudar para cada exame.
A proposta é semelhante a de um curso pré-vestibular. Além das aulas online, a diferença é a aposta em preços mais acessíveis, com a cobrança de planos anuais de R$ 475, que podem ser parcelados em até 12 vezes sem juros.
Com esse formato, a Aprova Total tem hoje uma base de 45 mil alunos ativos, além de uma forte presença nas redes sociais. São mais de 3 milhões de seguidores no Facebook, 436 mil no Instagram e 2 milhões de inscritos no YouTube.
“Nós dobramos de tamanho, sem ter um time de vendas e, basicamente, com crescimento orgânico e pouco investimento em marketing digital”, diz Jubilut. “Em 2020, representávamos 0,5% dos alunos que fizeram o Enem. Esse ano, alcançamos 1%.”
A partir da associação com a Wiser, os primeiros passos irão envolver justamente a estruturação de equipes em áreas como vendas e marketing, além de toda a assessoria da holding em temas como planejamento financeiro e desenvolvimento de produto.
“Nós vemos espaço para ampliar a participação em frentes como o Enem e para a criação de outros produtos usando o alcance da plataforma”, afirma Carlos Lazar, chief strategy officer da Wiser. “E vamos começar a olhar para as possíveis sinergias que possam existir com outros ativos do grupo.”
Plano bilionário
O apetite da Wiser por aquisições não se esgota com o aporte na Aprova Total. E o modelo centrado no uso de tecnologia para reduzir custos e democratizar o acesso a uma grande escala de usuários, resume, em boa medida, a tese da holding.
O grupo segue olhando para outros acordos no segmento de cursos preparatórios, em áreas como certificações, concursos e opções de estudo fora do País. Há espaço também para negócios ligados à capacitação em marketing digital, tecnologia e educação financeira.
“Nós temos mapeados cerca de 80 ativos”, observa Lazar. “E, dentro desse universo, estamos com negociações mais avançadas com cinco operações.”
Com mais negócios no radar, a Wiser promete reforçar a atenção em um segmento que, cada vez mais, atrai investimentos. Segundo o hub de inovação Distrito, as edtechs estiveram no centro de 15 acordos apenas em outubro. No ano, essas startups captaram US$ 552,7 milhões no País.
Silva ressalta que a Wiser tem caixa e acesso a outras fontes para superar a concorrência por esses ativos e financiar boa parte dos acordos previstos. E destaca a ambição do grupo com essa estratégia. “Em três anos, queremos construir uma operação com R$ 1 bilhão em ativos por meio dessas aquisições”, afirma.
No caminho para buscar tornar realidade esse plano, a Wiser contabiliza o crescimento registrado em sua operação em 2021. Para o resultado consolidado do ano, a holding projeta superar a marca de R$ 300 milhões em receita, contra os R$ 244 milhões reportados em 2020.
Nesse intervalo, a base de clientes do grupo, considerando todas as suas marcas, saltou de 242 mil para cerca de 400 mil alunos. Boa parte desse avanço veio na esteira da Wise Up Online, escola de idiomas no formato de ensino a distância lançada em 2020, com a chegada da Covid-19.
“Nossos produtos digitais voaram quando entramos na pandemia”, diz Silva. “Hoje, com esse modelo, nós chegamos a 85 países e cobrimos mais de 4 mil cidades.” O empresário não descarta incluir uma abertura de capital no roteiro da holding para seguir impulsionando esses e outros indicadores.
“Nós trabalhamos em paralelo para ter todas as alternativas na mesa, o que não significa que vamos apertar o botão do IPO amanhã”, afirma Silva. “Estamos prontos, mas não temos uma data, nem pressa para seguir esse caminho.”