Ainda que tenha aumentado sua receita em mais de 21%, para R$ 9,8 bilhões, e seu lucro em 22%, para R$ 2,9 bilhões, em 2022, Pague Menos está sentindo um gosto amargo após a divulgação dos resultados na segunda-feira, 6 de março. A impressão dentro da companhia é que o crescimento poderia ter sido maior se a indústria farmacêutica tivesse colaborado.

“A indústria farmacêutica está muito errática em termos de abastecimento para nós”, diz Luiz Novais, CFO da Pague Menos, em entrevista ao NeoFeed. “Gostaríamos de ter comprado R$ 180 milhões para ter reforçado o estoque da Extrafarma ao longo de 2022, mas não foi isso que a indústria entregou.”

De acordo com Novais, a indústria farmacêutica forneceu metade do que a Pague Menos demandava para abastecer os estoques das unidades que absorveu após o M&A realizado em agosto do ano passado. “A outra metade ficou para 2023”, afirma ele. Os produtos mais demandados pela rede são antibióticos.

Esses R$ 180 milhões é 50% maior do que a Pague Menos havia estimado antes da aquisição. A projeção de compra precisou ser ampliada porque a ruptura do estoque das lojas da Extrafarma é maior do que a das unidades da Pague Menos.

Para financiar o abastecimento de produtos, a Pague Menos vem realizando acordos de alongamento no prazo de pagamento com os fornecedores. O prazo passou de 24 dias no  quarto trimestre de 2021 para 34 dias no último trimestre do ano passado. “É uma compra para reforçar os estoques e fazer com que os produtos comecem a girar. Por isso, os fornecedores estão considerando um prazo adicional de pagamento”, afirma.

Esse alongamento tem relação direta com uma estratégia de controle de despesas da companhia após a aquisição da Extrafarma. O acordo, celebrado em agosto do ano passado, movimentou R$ 737,7 milhões. O negócio impactou na alavancagem da dívida da empresa, que dobrou de R$ 535,5 milhões para R$ 1,1 bilhão em doze meses (1,4x o Ebitda).

Neste plano, a Pague Menos vai deixar somente para o segundo semestre do ano que vem uma possível nova aquisição. “Com a taxa de juros atual, o custo financeiro machuca bastante o resultado da companhia”, diz Novais. “Mesmo sabendo que uma aquisição vai trazer mais retorno, a gente prefere esperar um pouquinho.”

Ainda assim, a rede cearense não pretende cessar os investimentos. Para 2023, a companhia projeta um desembolso de R$ 100 milhões na inauguração de 60 novas lojas – foram 118 aberturas no ano passado (além das unidades da Extrafarma absorvidas). Atualmente a companhia detém pouco mais de 1,6 mil farmácias espalhadas pelo Brasil (considerando as duas marcas), mas com presença maior nas regiões Norte e Nordeste.

A principal concorrente é a Raia Drogasil, que tinha 2,6 mil lojas ao fim do terceiro trimestre do ano passado – os resultados do quarto trimestre serão divulgados na terça-feira, 7, após o fechamento do mercado. Em termos de receita, a concorrente paulista é mais robusta, tendo registrado receita de R$ 7,9 bilhões no terceiro trimestre de 2022 ante R$ 2,6 bilhões da Pague Menos no mesmo período.

Resultados financeiros

Nos resultados divulgados pela Pague Menos no quarto trimestre, a companhia registrou receita bruta de R$ 2,8 bilhões, alta de 37% em relação ao mesmo período do ano passado. O lucro bruto ficou em R$ 854,6 milhões, o que representou um aumento de 38,6% ante o mesmo período de 2021. O Ebitda ajustado ficou em R$ 232,5 milhões, alta de 46,2% no trimestre.

O fluxo de caixa livre ficou negativo em R$ 462,4 milhões, impactado pelo pagamento da primeira parcela referente à aquisição da Extrafarma (R$ 365,4 milhões). Em relação aos investimentos, a Pague Menos desembolsou R$ 325,6 milhões direcionados principalmente à expansão orgânica da operação em 2022.

Considerando apenas as farmácias da marca Pague Menos, a companhia terminou o quarto trimestre de 2022 com um aumento de 2,9% na venda média mensal de cada loja para R$ 621 mil e de 4,9% no tíquete médio para R$ 77,2. O número de funcionários da operação cresceu em 0,6% para quase 20,1 mil.