Pioneira no tratamento de HIV no Brasil, a farmacêutica Blanver vai levar para o exterior os medicamentos de sua prateleira produzidos e comercializados no País no combate à doença. A companhia assinou contrato de fornecimento para, a partir de 2026, exportar para o mercado do Chile e do Oriente Médio.

Nos dois casos, as parcerias foram feitas com os governos locais, em um modelo parecido com o de licitação no Brasil. Já há expectativa de avançar o negócio internacional para o México e Leste Europeu, ainda sem prazo.

Os pedidos de registros para comercialização dos medicamentos da Blanver nas agências de vigilância sanitária do Chile e da Arábia Saudita (primeiro país de atuação no Oriente Médio) foram protocolados em novembro. A previsão é que a aprovação saia em no máximo cinco meses.

Com faturamento previsto de R$ 800 milhões em 2025, a companhia planeja ultrapassar R$ 1 bilhão em 2026, e chegar a R$ 1,6 bilhão até 2030, incluindo ampliação do mercado externo e de novos produtos que irão chegar às farmácias brasileiras.

“Vamos chegar, nos próximos dois anos, a um limite saudável no Brasil. Temos que ir para expansão e avançar no exterior, justamente para ganhar mais mercado”, diz Sérgio Frangioni, CEO da Blanver, em entrevista ao NeoFeed.

“O Brasil hoje é o terceiro maior mercado do mundo em produção de medicamentos para HIV e referência mundial em tratamento. E a gente já está pronto para levar nossos produtos a pacientes de outros países”, complementa.

Para sustentar essa expansão internacional, a empresa iniciou um plano de investimentos, que soma R$ 900 milhões e inclui a inauguração, no início de 2026, da terceira fábrica da Blanver no Brasil.

Para o novo parque fabril, que fica em Mairiporã e terá 30 mil metros quadrados (m²), os aportes somam R$ 600 milhões. A empresa tem unidades em Taboão da Serra e Indaiatuba, todas em São Paulo.

Dessa forma, a Blanver planeja dobrar a capacidade de produção, passando de dois bilhões para quatro bilhões de unidades de medicamentos, considerando sólidos e líquidos. Do volume previsto no projeto de ampliação, R$ 420 milhões foram captados junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

“Precisamos estar constantemente investindo. Já sei o quanto teremos que aportar até 2028. Estamos trazendo licenciamento de alguns produtos e nos aprofundando em tecnologia pata justamente ganhar mais participação”, diz o CEO.

Além do plano internacional, a companhia também irá aumentar sua presença no mercado brasileiro. Do faturamento na área de HIV, praticamente toda a venda, até aqui, vem via poder público, com distribuição gratuita pelo governo via Sistema Único de Saúde (SUS). Agora, o plano é de chegar ao setor privado.

A partir de maio de 2026, os medicamentos para tratamento passarão a ser vendidos em farmácias. Somente os medicamentos de prevenção, conhecidos como Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), estavam disponíveis nas redes privadas.

“Vamos ter a prevenção, pós-exposição e o tratamento. Nos casos de uma exposição à doença, a janela é de apenas 72 horas. E às vezes não dá tempo para ir rapidamente a um posto de saúde. Ter na farmácia vai ajudar nisso”, explica Frangioni.

A empresa tem hoje três produtos para toda a linha de tratamento, quatro em registro e um em desenvolvimento, o que atenderia 97% das pessoas acometidas com a doença no País. São cerca de 500 milhões de comprimidos para HIV produzidos ao ano.

Do faturamento nessa área, praticamente toda a venda, até aqui, vem via poder público, com distribuição gratuita pelo governo via Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo o Ministério da Saúde, hoje no Brasil são registrados cerca de 42 mil novos casos de contaminação por HIV ao ano. E 40% das vendas da Blanver são ligadas ao combate à doença.

Mas a empresa quer ampliar o foco de atuação. Do total do pacote de investimentos da Blanver, cerca de R$ 300 milhões serão destinados à produção de 30 novos medicamentos pela farmacêutica. O plano é de avançar em novas áreas, além de produtos para portadores de HIV. Oncologia, renal e sistema nervoso estão entre os focos de desenvolvimento de medicamentos.

“Precisamos estar constantemente investindo. Já sei o quanto teremos que aportar até 2028. Estamos trazendo licenciamento de alguns produtos e nos aprofundado em tecnologia para desenvolver esses novos produtos”, afirma o empresário.

Hoje a empresa já exporta o insumo farmacêutico ativo (IFA), matéria-prima usada para a produção de medicamentos, para França, Itália, Espanha e Eslovênia. Essa produção representa uma receita de R$ 100 milhões para a companhia. A empresa está em conversas para fornecer aos governos da Tailândia e Malásia.

A Blanver também está ampliando a fábrica de IFAs, que fica em Indaiatuba, para dobrar a capacidade e atingir a produção anual de 300 toneladas dos componentes. Somente nesta expansão serão aportados R$ 200 milhões.

Segundo o CEO, a farmacêutica também estuda possível entrada no mercado de canetas emagrecedoras no ano que vem, a partir da expiração da patente do Ozempic da dinamarquesa Novo Nordisk. “Seria um mercado novo para a empresa, mas que ainda está em estudo. Vamos avaliar com atenção.”