A Gran Capital Partners foi criada pela família fundadora da Gran Coffee para ocupar um espaço ainda pouco explorado no mercado brasileiro de private equity. Chamado de high growth, esse segmento mira empresas de médio porte com modelos de negócio comprovados e potencial de crescimento superior a 30% ao ano.
Agora, a gestora está fazendo o terceiro dos cinco cheques previstos para o fundo FIP GCP I. A Gran Capital Partners está adquirindo uma participação minoritária - de 30% - na Aurok, uma boutique de carnes com operação verticalizada e frigorífico próprio em Santa Bárbara d'Oeste, no interior de São Paulo.
Fundada em 2016, a Aurok fatura R$ 28 milhões por ano e opera cinco lojas (quatro em funcionamento e uma em fase de abertura). O plano de expansão prevê multiplicar a empresa por 10 vezes em cinco anos, chegando a 50 lojas concentradas no estado de São Paulo, em um raio de 150 quilômetros do frigorífico.
A estrutura industrial já está dimensionada para dar suporte a toda essa expansão, eliminando a necessidade de novos investimentos em capacidade produtiva.
O fundo da Gran Capital investe entre R$ 20 milhões e R$ 40 milhões por operação (com sweet spot de R$ 25 milhões), sempre em participações entre 25% e 75% do capital, mas com a premissa de ter a co-gestão ativa com os fundadores.
A gestora desenvolveu uma metodologia própria chamada "Gran Capital Way", que estrutura seis macro áreas (RH, produto, inovação, tecnologia, financeiro e governança) e 120 iniciativas de criação de valor.
"Não executamos, mas ajudamos a estruturar. Indicamos CFO ou CEO quando necessário, entramos em todas as áreas da empresa e criamos processos replicáveis", diz Guilherme Gama, sócio-fundador da Gran Capital.
"Sentamos dos dois lados da mesa. Sabemos o que é carregar café, executar no dia a dia, e também conhecemos a visão do investidor financeiro. Isso cria uma ponte de confiança com os fundadores", complementa.
A estratégia da gestora nasceu da experiência prática dos fundadores na Gran Coffee, empresa familiar que se tornou líder em café out of home na América Latina, com mais de 30 mil pontos de venda e faturamento de R$ 500 milhões.
Entre 2011 e 2019, em parceria com o Patria Investimentos, a companhia multiplicou seu valor por mais de cinco vezes, consolidou o mercado com 16 aquisições e passou por um processo de profissionalização que serve hoje como blueprint para os investimentos da Gran Capital.
Entre o venture capital e o buyout
A tese da Gran Capital está relacionada a uma lacuna do mercado brasileiro de private equity. Enquanto fundos de venture capital focam em empresas early-stage com alto risco e fundos tradicionais de private equity concentram-se em buyouts de empresas maduras com cheques acima de R$ 150 milhões, sobrou um vazio no meio: companhias que já validaram seu modelo de negócio, faturam entre R$ 20 milhões e R$ 150 milhões, mas precisam de capital e gestão profissionalizada para escalar.
"No mercado americano, os fundos de high growth são setoriais justamente porque empresas desse porte não comportam um time executivo completo dedicado exclusivamente a elas", afirma Gama.

Na Sterna Café, primeiro investimento do fundo (participação de 54%), a gestora indicou o CEO desde o primeiro dia, mantendo o fundador como embaixador da marca e responsável pela estratégia comercial. Na La Guapa, que tem a chef Paola Carosella como sócia, segundo investimento (participação de 25%), a indicação do CFO foi feita em conjunto com a gestora Concept.
Além do suporte direto, a gestora criou um ecossistema de network com seus cotistas, um grupo que reúne cerca de 50 famílias empreendedoras, executivos de mercado financeiro e C-levels de grandes empresas.
"Levamos um especialista em precificação e outro em fábrica para reuniões na La Guapa semana passada. Isso não acontece em fundos tradicionais", diz o CEO da Gran Capital.
O fundo tem foco exclusivo em alimentos e bebidas, sempre priorizando empresas com três características: varejo físico de lojas próprias (com unit economics comprovado), verticalização da cadeia produtiva e associação com o fundador.
O FIP GCP I tem tamanho-alvo de R$ 150 milhões e já captou mais da metade do volume. Com três investimentos realizados (totalizando aproximadamente R$ 75 milhões), a gestora está em fase de due diligence para as duas últimas operações do fundo: uma rede de doces saudáveis e uma rede de pizzarias premium (ambas com faturamento anual em torno de R$ 50 milhões).
A estratégia prevê cinco empresas no portfólio até 2026, totalizando aproximadamente 700 lojas combinadas. Hoje, com três investimentos, o fundo já soma cerca de 150 lojas operando. A cota do fundo saiu de R$ 1 mil em maio de 2023 para R$ 1,5 mil em setembro deste ano, uma valorização de 50% em pouco mais de dois anos. A TIR média do portfólio supera 30% ao ano, com meta de retorno bruto entre 3x e 5x o capital investido (MoIC) no horizonte de quatro a seis anos.
"Empresas na faixa de R$ 30 milhões a R$ 60 milhões de valuation têm múltiplas opções de saída, sejam outros fundos financeiros, estratégicos locais, players internacionais. Não ficamos presos", diz Gama.
Para 2026, a gestora já planeja o lançamento de um segundo fundo, desta vez focado em business services - empresas B2B com contratos recorrentes e gestão de ativos em campo, modelo inspirado pela própria Gran Coffee.
A ideia é replicar a metodologia de high growth em outro segmento com características similares: receita previsível, escalabilidade clara e necessidade de capital e gestão para acelerar.