O Grupo Leste, gestora criada por Emmanuel Hermann, ex-sócio do BTG Pactual, foi uma das primeiras casas a abrir as portas para brasileiros investirem em ativos alternativos privados nos Estados Unidos. O movimento em direção à América do Norte feito há oito anos se repete, agora, para os vizinhos latino-americanos.
O Leste acaba de inaugurar um escritório em Bogotá, na Colômbia, para expandir a presença na região. Dos US$ 2 bilhões que possui atualmente sob gestão, US$ 300 milhões vem de investidores da América Latina - boa parte de países da região andina. O objetivo é dobrar esse valor até 2024.
"Estamos aprimorando ativamente nossas capacidades para apresentar uma proposta de valor distinta e atraente para a América Latina, e isso inclui oferecer oportunidades de investimento, bem como estar mais próximos de nossa base de investidores na região”, diz Hermann, ao NeoFeed. “O estabelecimento de nosso novo escritório em Bogotá é um componente essencial de nossa estratégia de expansão.”
Além de servir de conexão com os clientes atuais, o escritório atuará como meio para captar clientes de alta renda na região andina e outros países da América do Sul e Central. A busca é por quem possa aportar de US$ 500 mil para cima.
Para tocar as operações na Colômbia, o Leste contratou Sebastián Merizalde, que trabalhou em gestoras como Andean Capital Partners e CNS Global Advisors e detém uma carteira com bons contatos de investidores.
“Optamos por Bogotá em função dos investidores que já temos lá e por termos encontrado a pessoa certa para ser o nosso sócio representante para a região”, diz Stephan de Sabrit, managing partner do Leste. “Outra vantagem é a proximidade de Bogotá com voos rápidos para lugares como Santiago e Lima até Panamá e Costa Rica.”
"Pivotaram" a gestora
Apesar de ter sido criada inicialmente para investidores brasileiros, os sócios do Leste perceberam desde os primeiros anos uma demanda reprimida de latino-americanos por investimentos alternativos.
Assim como ocorreu no Brasil, em que a crise financeira de 2015 levou a uma busca pela internacionalização de ativos, esses investidores andinos entenderam que era importante olhar para fora em meio às turbulências políticas e econômicas de seus países.
Para Sabrit, mesmo com as diferenças culturais entre o Brasil e os outros países da região, o fato do Leste ser uma casa latina nos Estados Unidos ajudou a atrair interessados dos países vizinhos. Ele diz que a equipe já está preparada para atender o público, considerando que a maioria dos 38 funcionários não é brasileira e fala espanhol.
“Esses clientes se sentem muito mais confortáveis em investir conosco do que simplesmente numa casa totalmente americana”, diz Sabrit. “Nós entendemos esses clientes, porque vemos o mundo praticamente sob a mesma ótica do investidor latino-americano, viemos de países que passam pelas mesmas situações.”
Com a gestora sediada em Miami, Sabrit destaca a importância de se estar fisicamente próximo aos investidores, porque ajuda a oferecer confiança, além de facilitar a prospecção de clientes. No Brasil, a gestora tem escritórios na Faria Lima, em São Paulo, e no Leblon, no Rio de Janeiro.
“Nada bate a boa e velha reunião, tomar um cafezinho, entender um pouco mais o que o investidor está querendo, conversar sobre o mercado, entender o que estamos fazendo”, afirma Sabrit.
A chegada a Bogotá representa apenas o primeiro passo do Leste em direção à América Latina. A gestora está avaliando a possibilidade de abrir um escritório no México e já deu início a conversas com potenciais parceiros.
Investimento imobiliário
O plano do Leste de expansão pela América Latina vem em um momento em que a gestora vê oportunidades no mercado imobiliário dos Estados Unidos, depois que o aumento das taxas de juros no país pressionou o caixa de incorporadores.
Segundo Sabrit, isso abriu caminho para a oferta de soluções de crédito para o pagamento de financiamentos, considerando que boa parte das operações para a construção foi feita a taxas pós-fixadas, afetadas pelo aperto monetário praticado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), prejudicando a capacidade de pagamento das empresas.
A casa está especialmente de olho em operações que envolvam empreendimentos multifamily prontos, diante da elevada demanda por aluguel nos Estados Unidos. Segundo Sabrit, esse tipo de operação está rendendo até 15% ao ano em dólar. “Essa é a grande demanda, seja nossos clientes latino-americanos ou americanos institucionais”, diz o sócio do Leste.
Sabrit diz que o Leste também está entusiasmado com imóveis para o setor de saúde. Nesta frente, a gestora adquire edifícios de consultórios e clínicas que se dedicam à recuperação pós-operatória e firma contratos de aluguéis prevendo que todos os custos associados aos imóveis, como manutenção, seguros e impostos são pagos diretamente pelo inquilino.
Atualmente, o Leste administra mais de US$ 300 milhões nessa estratégia. Neste ano, ela lançou sua terceira estratégia de renda no segmento de saúde, fechando a compra de ativos avaliados em US$ 40 milhões, que foram arrendados a uma empresa chamada Post Acute Medical (PAM), que atua no segmento de clínicas de retaguarda. A expectativa é a de que os investidores recebam, em média de 8%, do valor aplicado por ano.