Fundada em 1932, durante a Grande Depressão, a americana Revlon tornou-se um ícone global do mercado de cosméticos, com vendas em cerca de 150 países e a imagem associada a modelos e atrizes como Elle MacPherson, Cindy Crawford, Claudia Schiffer, Halle Berry, Emma Stone e Jessica Alba.
Um dos episódios que deram fôlego à companhia foi a compra da operação pela MacAndrews & Forbes, gestora de private equity de Ronad O. Perelman, por US$ 2,7 bilhões, em 1985. Agora, esse script está ganhando, literalmente, um novo capítulo, que marca um dos momentos mais críticos da história da empresa.
Nesta quinta-feira, 16 de junho, a Revlon anunciou que entrou com um pedido de proteção contra falência dentro do Capítulo 11 previsto na Lei de Falências dos Estados Unidos, o equivalente no Brasil ao processo de recuperação judicial.
Com uma dívida de US$ 3,7 bilhões, o grupo informou que a medida permitirá reorganizar sua estrutura de capital e melhorar sua perspectiva de longo prazo, diante das restrições de liquidez geradas por “desafios globais contínuos”, como as interrupções na cadeia de suprimentos e a pressão inflacionária.
“A demanda do consumidor por nossos produtos segue forte. Mas nossa estrutura de capital desafiadora limitou nossa capacidade de lidar com questões macroeconômicas para atender a essa demanda”, afirmou, em nota, Debra Perelman, CEO da Revlon, filha de Ronald O. Perelman, o acionista controlador da operação, a partir da sua gestora, que detém cerca de 85% da companhia.
A executiva acrescentou: “Estamos comprometidos em garantir que a reorganização seja a mais perfeita possível para nossos principais stakeholders, incluindo nossos funcionários, clientes e fornecedores. E agradecemos seu apoio durante esse processo.”
A Revlon informou que, além dos Estados Unidos, o processo inclui as operações no Canadá e no Reino Unido. Com a aprovação do pedido, a empresa espera receber US$ 575 milhões em financiamento de devedor em posse de sua base de credores para ajudar a tocar o negócio durante a reorganização.
Juntamente com as questões macroeconômicas, a Revlon vem lidando com outros desafios para se manter relevante no mercado. Entre eles, a concorrência com grupos tradicionais, como L’Oreal e Estee Lauder, e com novas marcas associadas a celebridades e a um batalhão de influenciadores nas redes sociais.
“As marcas em seu portfólio são um pouco mais antigas e não oferecem o hype que o cliente contemporâneo está procurando”, afirmou Thomai Serdari, professor de marketing da Universidade de Nova York, em entrevista à agência Reuters.
Em paralelo ao avanço de velhos e novos rivais, a empresa também viu sua dívida crescer a partir de aquisições que, por sua vez, ainda não trouxeram o resultado esperado em seu balanço. Entre elas, a compra da Elizabeth Arden, em 2016, em uma transação de US$ 870 milhões.
O grupo já havia dado sinais dessas dificuldades na pandemia, que aprofundou esses e outros pontos que já vinham afetando o negócio. No fim de 2020, por exemplo, a empresa evitou um pedido de falência ao firmar um acordo para prolongar suas dívidas com boa parte de seus credores.
Já em maio deste ano, a Revlon informou que seus credores haviam concordado em expandir provisoriamente suas linhas de crédito rotativo em US$ 32 milhões e que planejava captar recursos adicionais com um follow on.
Em meio a esse momento conturbado, no primeiro trimestre de 2022, a Revlon reportou um prejuízo de US$ 67 milhões, contra uma perda de US$ 96 milhões apurada um ano antes. No período, a receita líquida cresceu 7,8%, para US$ 479,6 milhões.
Com o anúncio dessa quinta-feira, as ações da empresa operavam com uma queda de 24,5% por volta das 11h10 (horário dos Estados Unidos). Os papéis acumulam uma desvalorização de 85% em 2022 e a companhia está avaliada em US$ 92,4 milhões.