Um dos principais gestores do mundo, cujas leituras a respeito de mercados e economia são consideradas por investidores e até governos, Ray Dalio anunciou nesta terça-feira, 4 de outubro, que está transferindo o controle da Bridgewater Associates, fundo de hedge que fundou há 47 anos e que tem atualmente US$ 150 bilhões em recursos sob administração. 

Em uma série de postagens no Twitter, Dalio informou que, a partir de sua saída, as decisões de investimentos serão divididas entre Bob Prince e Greg Jensen, que estão na companhia há 35 e 25 anos, respectivamente. Ele também anunciou a divisão do cargo de CEO, que será compartilhado pelos executivos Nir Bar Dea e Mark Bertolini. 

“Ao longo dos últimos dois anos, eu observei e orientei eles para que possam tocar a Bridgewater sem minha interferência e eles foram ótimos”, diz o trecho de um dos tuítes. “Eu consigo visualizar agora a empresa fazendo grandes coisas por gerações, sem eu estar lá, e isso é ótimo.”

Segundo a agência de notícias Bloomberg, ele transferiu todas as ações com direito a voto para a diretoria e deixou de ser um dos chefes da área de investimentos. 

Apesar de deixar o dia a dia, Dalio informou que pretende permanecer em contato com a direção da Bridgwater, num papel de mentor. Ele ainda permanecerá como membro do conselho de administração da companhia. 

A declaração de Dalio põe fim a um período de 12 anos em que ele preparava sua saída da Bridgewater. O investidor deu início aos planos de transição em 2010, acreditando que duraria dois anos. No entanto, entendia não ter encontrado sucessores capacitados até agora. 

Dalio foi um trader de commodities e corretor de ações até fundar a Bridgewater, em 1975, inicialmente instalada em seu apartamento de dois quartos em Nova York. O fundo ganhou notoriedade nos anos 2000, quando teve ótimo desempenho e amealhou bilhões de dólares em ativos. 

Suas leituras precisas, e muitas vezes pessimistas, sobre a economia, mercados e investimentos o tornaram bilionário. Aos 73 anos, ele aparece em 71º lugar no ranking de bilionários da revista Forbes, com um patrimônio de cerca de US$ 19,1 bilhões. 

Além da fama conquistada por seus acertos, a Bridgewater também ficou marcada pelos princípios que Dalio estabeleceu para nortear os trabalhos, ideias tão fortes e profundamente arraigadas que alguns chegaram a comparar a empresa a uma seita. 

Dalio procurou fomentar uma “ideia de meritocracia” e acreditava que a melhor forma de se alcançar tal conceito era por meio de "veracidade radical e transparência radical”. Discussões são amplamente encorajadas, os funcionários são avaliados em questões como credibilidade e as reuniões são gravadas. 

“Acreditamos que trabalho e relações significativas emergem quando você monta equipes de alto desempenho e as estimula a se engajarem em temas via análises rigorosas e ponderadas”, diz a Bridgewater na página de seu site que trata da questão dos princípios. 

Na frente de análise econômica, Dalio vem alertando para os efeitos que o aperto monetário promovido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e outros banco centrais pelo mundo terá sobre a economia global. 

Para ele, as autoridades monetárias terão de cortar os juros em 2024, diante da perspectiva de estagflação nos Estados Unidos, a combinação de inflação em alta e crescimento em baixa. 

“A dor [do aperto monetário] se tornará muito grande e vai forçar os bancos centrais a aliviar novamente, provavelmente perto da eleição presidencial [dos Estados Unidos], em 2024”, disse ele em entrevista ao jornal australiano The Australian Financial Review, no começo de junho.