Nos últimos trimestres, o mercado não gostou nada do que viu nos números divulgados a cada temporada de balanços pela Infracommerce, empresa brasileira de full commerce, conceito que compreende a gestão completa dos canais de e-commerce de clientes – dos pedidos à logística.

Nesse script, a companhia teve os resultados bastante afetados pela dificuldade de digerir as operações, as parcelas e os custos de seis aquisições feitas desde dezembro de 2020. E, como reflexo, assistiu a indicadores como o seu endividamento dispararem, enquanto suas ações despencavam na B3.

Há um ano, a empresa passou a se concentrar em um pacote de medidas para tentar reverter esse cenário. E, após cumprir boa parte dessa jornada, entende que está pronta para convencer o mercado de que tem um enredo menos dramático pela frente.

“Os resultados começam agora. Esse trimestre mostra a consolidação de tudo o que fizemos conscientemente nos últimos anos, dos M&As às integrações, mesmo com desafios”, diz Fábio Bortolotti, CFO da Infracommerce, ao NeoFeed. “O mercado vai começar a ver esse filme completo.”

Ele destaca no resultado do segundo trimestre, divulgado na quinta-feira, 10 de agosto, alguns dos argumentos para conquistar a audiência e a confiança dos investidores. Mesmo que a última linha do balanço siga no vermelho, com um prejuízo líquido de R$ 52,4 milhões no período, contra R$ 61 milhões, um ano antes.

Um dos indicadores ressaltados é o Ebitda ajustado, que cresceu 181,8% na comparação anual, para R$ 52,9 milhões. No acumulado de janeiro a junho, a soma foi de R$ 79 milhões, na faixa intermediária do guidance entre R$ 150 milhões e R$ 170 milhões estipulado, em fevereiro, pela companhia para 2023.

A margem Ebitda ajustada evoluiu de 8,5%, há um ano, para 17,7%, enquanto a receita líquida avançou 36%, para R$ 299,8 milhões. O volume bruto de mercadorias (GMV) teve um salto de 40%, para R$ 4,3 bilhões e o volume total de pagamentos (TPV) ficou em R$ 1,1 bilhão, alta de 44%.

Outros dados, porém, ainda mostram pontos de atenção no balanço de abril a junho. A Infracommerce fechou o trimestre com R$ 226 milhões em caixa e uma dívida líquida de R$ 422,9 milhões, o que representou um crescimento de 68,8%, em base anual.

O número ficou praticamente estável em relação ao primeiro trimestre, quando o indicador cresceu 185,6%, para R$ 406,1 milhões e acendeu de vez o alerta no mercado. “Isso demonstra uma reversão de tendência e a queda dos juros, a partir de agora, vai ajudar nesse contexto”, diz Bortolotti.

Ao mesmo tempo, ele destaca que a empresa vem conseguindo alongar o perfil da sua dívida. Nessa direção, no trimestre, a companhia contratou uma linha de R$ 50 milhões junto ao Finep, a custo médio de 5,4% ao ano, por um prazo total de dez anos e com 31 meses de carência.

“Com as renovações que fizemos no primeiro trimestre e essa linha, vamos substituir vencimentos que temos a partir do quarto trimestre”, explica o CFO da Infracommerce. “O que temos cabe na nossa projeção de caixa, especialmente com a sazonalidade mais forte do segundo semestre, com a Black Friday e o Natal.”

Fábio Bortolotti, CFO da Infracommerce

O período também foi marcado pela implantação do projeto batizado de break even, com foco na diminuição de custos e ganhos de rentabilidade. A expectativa é gerar uma redução anual de até R$ 140 milhões em despesas e investimentos.

Entre abril e junho, a Infracommerce reportou um capex de R$ 29,5 milhões, o que representou um recuo de 54,7% ante o segundo trimestre de 2022. Antes, a empresa já vinha renegociando com clientes, readequando preços e promoveu, no início do ano, um corte de 361 profissionais.

Com a percepção de que boa parte desse trabalho foi concluído, Bortolotti ressalta que os próximos trimestres vão confirmar e acelerar a captura de sinergias. Isso no Brasil. Na América Latina, onde a companhia opera em oito países, o desafio agora é cumprir esse mesmo roteiro.

Essa nova etapa tem como estopim a compra da chilena Ecomsur, também de full commerce, anunciada em janeiro desse ano. O acordo foi concluído em abril e o processo de integração na região já está em curso. A expectativa é de que ele seja finalizado no primeiro semestre de 2024.

“A captura de sinergias na região tende a ser mais rápida do que no Brasil”, observa Bortolotti. “Você consegue, por exemplo, otimizar o top management, revisar fornecedores e ter apenas um SAC centralizado.”

Entre as primeiras medidas, a empresa já está renegociando com fornecedores a partir do ganho de escala com a aquisição. Em paralelo, no fim de junho, houve um corte de cerca de 45 profissionais, especialmente no C-Level, dentro de um quadro total de 900 funcionários na região.

Ao mesmo tempo, o executivo observa que a Ecomsur consolida a presença da Infracommerce na América Latina, especialmente nos mercados do Chile e do México, e abre boas perspectivas na região. Entre outros pontos, a transação traz um volume adicional de aproximadamente 90 clientes à sua base.

“Com essa escala, estamos conseguindo vender para os clientes que já temos no Brasil em outros países”, diz. “E o México é um mercado de grande potencial de crescimento. É como se estivéssemos no estágio do e-commerce no Brasil, há três anos. Já sabemos o playbook desse desenvolvimento.”

As ações da Infracommerce fecharam o pregão de 10 de agosto a R$ 1,70, exatamente a mesma cotação registrada no encerramento das negociações do dia anterior. No ano, os papéis da empresa, avaliada em R$ 657,3 milhões, acumulam uma desvalorização de 54,1%.