O expressivo resultado da carteira de crédito do Itaú Unibanco no terceiro trimestre deste ano, que alcançou R$ 1,4 trilhão, reflete, na avaliação do CEO Milton Maluhy Filho, a pressão provocada pela taxa básica de juros em 15% ao ano.
A expectativa é de que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), mantenha o patamar da Selic em reunião que termina na quarta-feira, 5 de novembro.
“A relevância dessa linha é preponderantemente maior do que os outros negócios. Isso mostra que quando há juros altos e restritivos por mais tempo, você começa a colocar pressão na inadimplência e na capacidade de crescer carteira”, disse Maluhy, em coletiva de imprensa.
Para ele, a manutenção desse patamar da Selic cria um cenário mais arriscado, em que as famílias ficam com rendas mais comprometidas e as empresas, com uma carga financeira mais alta, adotam uma postura mais conservadora.
“Isso faz com que as pessoas parem de consumir e investir. Então, juro baixo é bom para todo mundo, inclusive para os bancos. É justamente neste cenário que as instituições financeiras crescem mais, com uma economia estimulada e um aumento no PIB”, afirmou o executivo.
Na terça-feira, 4 de novembro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, em um evento em São Paulo, que os bancos estariam fazendo pressão para que o BC mantenha a Selic no atual patamar.
Para o CEO do Itaú, a análise de Haddad não é real. “Essa visão é equivocada. Preferimos operar em um mercado com juros de um dígito do que de dois”, respondeu o executivo a pergunta do NeoFeed.
Nesse sentido, Maluhy acredita que o Copom deve começar a realizar o corte da taxa a partir de janeiro 2026, com uma redução de 0,25 ponto percentual, à frente do que o mercado espera, entre janeiro e março.
“Nossa visão é de que haverá um espaço para corte. A inflação tem convergido, ainda que em uma velocidade mais lenta. Isso vai gerar um alívio para a economia como um todo. Mas é importante lembrar que a taxa de juros é um sintoma e não a causa”, afirmou.
Mesmo com perspectiva pela retomada do ciclo de queda de juros, Maluhy enxerga que a economia deverá desacelerar em 2026, em um cenário de volatilidade provocado principalmente pela eleição presidencial. “Este ano o crescimento será menor do que o ano passado, e 2026 deve crescer menos ainda, principalmente em função de uma política fiscal mais expansionista e uma política monetária mais restritiva”, afirmou.
Nesse sentido, o CEO do Itaú entende que, com os resultados financeiros apresentados ao longo do ano, o banco está “protegido” para suportar qualquer cenário macroeconômico em um ano de definição eleitoral.
“Em um cenário de incerteza, todos operam com um nível de cautela um pouco maior. Mas a força do todo, com operações relevantes no atacado e no varejo, nos dá segurança para a gente continuar entregando resultado com consistência e qualidade.”
Ainda que com a taxa de juros elevada, Maluhy afirma que o Itaú ficará dentro do guidance previsto para a carteira de crédito total, com uma perspectiva de crescimento entre 4,5% e 8,5%.
“Mesmo com esse cenário, a gente não está encontrando dificuldade em aumentar engajamento com os clientes mais resilientes. Nossa carteira de média e alta renda tem crescido dois dígitos”, disse Maluhy.
“Dentro da nossa estratégia de fortalecer a relação com os clientes, estamos sendo bem-sucedidos e vamos continuar crescendo, com ênfase nos mais resilientes. Principalidade é o nome do jogo”, completou.
Por volta de 12h, as ações do Itaú na B3 acumulavam desvalorização de 1%.